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Fonte: Biblioteca Nacional Digital Brasil
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
O diário Tribuna Popular foi fundado no Rio de Janeiro em 1945 por intelectuais e militantes ligados ao Partido Comunista do Brasil (PCB), tendo circulado de 22 de maio de 1945, seis meses antes do fim do Estado Novo (a ditadura de Getúlio Vargas, 1937-1945), a 28 de dezembro de 1947, quando a atuação do PCB foi novamente proibida, desta vez pelo governo do general Eurico Dutra (1946-1950). O jornal fazia parte de uma rede de periódicos, denominada imprensa popular, que estava sendo criada pelo PCB, desde a sua volta à legalidade, em diversas capitais estaduais. Faziam parte dessa rede os jornais Hoje, em São Paulo, Folha Capixaba, em Vitória, Folha do Povo, em Recife, Tribuna Gaúcha, em Porto Alegre, O Democrata, em Fortaleza, Voz do Povo, em Maceió, e Jornal do Povo em Belo Horizonte.
No início, a Tribuna Popular era dirigida por Pedro Motta Lima, que, ao sair, foi substituído por Pedro Pomar. Affonso Sergio F. Portes era o gerente e Aydano do Couto Ferraz o chefe de redação. Motta Lima e outros dirigentes comunistas, como Ivan Ribeiro e Maurício Grabois, já haviam divulgado, em 14 de março, o Manifesto das Esquerdas exigindo a democratização do país. Em 18 e abril, Getúlio Vargas assinou a anistia aos presos políticos e, no dia seguinte, Luís Carlos Prestes deixava a prisão. Uma semana depois os comunistas lançariam o jornal.
Grandes nomes da literatura,da arte e do jornalismo brasileiros foram redatores,colunistas ou colaboradores da Tribuna Popular, como Graciliano Ramos, Jorge Amado, Apparício Torelly (o “Barão de Itararé”), João Saldanha, Sérgio Porto, Cândido Portinari e Carlos Scliar, além de militantes políticos, como João Amazonas, que mais tarde se tornaria o secretário-geral do atual PCdoB. Outro conhecido jornalista que na mesma época outras publicações eram editadas pelos comunistas, como as revistas Divulgação Marxista e Literatura, além do jornal A Classe Operária, que havia sido fundado em 1925. Nas páginas dessa imprensa comunista escreveram também Caio Prado Júnior, Álvaro Moreira, o físico Mário Schenberg, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Artur Ramos, Lúcia Miguel Pereira, Francisco de Assis Barbosa, Álvaro Lins e muitos outros.
Inteiramente alinhado com o PCB e, em conseqüência, com a linha política imprimida pelo Partido Comunista da União Soviética (PCUS), Tribuna Popular combatia o nazifascismo, exaltando a vitória aliada na recém concluída Segunda Guerra, e, no plano interno, lutou pela democratização do país e pela elaboração de uma Constituição que privilegiasse as questões sociais e as necessidades dos trabalhadores. Também evidenciava o engajamento comunista do jornal o destaque conferido permanentemente ao líder comunista Luís Carlos Prestes, que havia passado na cadeia quase todo o período do Estado Novo e que agora a Tribuna Popular projetava como a grande referência da política nacional.
A capa da primeira edição do jornal publicava a íntegra da mensagem de Prestes aos leitores do jornal, a reprodução de um trecho manuscrito dessa mensagem e, no alto, à esquerda do título, esse mesmo trecho impresso:
“O povo terá enfim o seu jornal, a tribuna popular que reclamava e de onde poderá expor suas reivindicações e debater os grandes problemas nacionais que só ele pode de fato resolver.”
No documento Prestes assegurava que:
“Os restos mortais de um regime caduco serão agora facilmente enterrados. E o novo jornal há de ajudar a completar a vitória de nossas gloriosas Forças Expedicionárias com a derrota moral e política, definitiva e total, do integralismo, da 5ª coluna e demais agentes do inimigo em nossa terra.”
A última página (p. 8) era toda dedicada, com textos e fotos à organização do “Grande Comício da Unidade Nacional” pela democratização do país.” Numa das fotos, de uma reunião do Comitê Central, aparecem os dirigentes comunistas Roberto Sisson e Carlos Marighella. A manchete da edição seguinte, do dia do comício, não fazia por menos:
“Prestes indicará hoje ao povo a solução dos problemas brasileiros”.
Nas eleições de 1946, quando o PCB elegeu a maior bancada do Distrito Federal, Tribuna Popular apoiou o candidato comunista Yedo Fiuza, ao tempo em que atacava os integralistas, “os amigos de Hitler no Brasil”, que apoiavam a candidatura do general Eurico Dutra, lançada pelo presidente deposto Getúlio Vargas. Na edição n.º 163, de 30 de novembro de 1945, o jornal afirmava:
(…) Para garantir a posse de seu candidato, vitorioso nas urnas, o povo precisa organizar-se em amplos comitês pró-Yeddo Fiuza. Em todos os locais de trabalho, bairros, vilas, aldeias e cidades do Brasil, esse comitês darão ao povo uma consciência maior da sua força e serão os melhores instrumentos para esclarecê-lo das tarefas atuais. (…) Yeddo Fiuza está vitorioso. O povo que se prepare para garantir a sua posse. E que ouça o apelo caloroso de Prestes, organizando-se, defendendo a ordem, desmascarando os planos forjados pelos amigos de Hitler no Brasil.
Inclusão | 03/04/2016 |