USA: A Luta dos Trabalhadores no Coração do Imperialismo

5 de Julho de 1974


Fonte: Jornal Combate, nº 2, Portugal.
Originais enviados por : Manoel Nascimento.
Transcrição e HTML:
Fernando A. S. Araújo, Abril 2008.
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A propaganda burguesa internacional criou o mito de que ou trabalhadores americanos tinham perdido a sua militáncia revolucionária graça» a uma suposta «comparticiparão» nos lucros imperialistas da burguesia norte-americana. Nesta ordem de ideias, a luta de classes nos EUA é apresentada em termos nacionalistas e separada da exploração na produção. As lutas dos negros e outras minorias raciais é considerada só como uma luta contra o racismo e não como uma luta contra a exploração capitalista e imperialista.

Neste artigo procura-se fazer uma análise, ainda que breve, de alguns aspectos da luta dos trabalhadores americanos contra a exploração capitalista. Esta análise ajudará a compreender o papel sabotador da luta operária desempenhado pelos sindicatos reformistas, tais como a AFL (American Federation of Labor) e a CIO, hoje em dia confederadas na chamada AFL-CIO e agregando cerca de 13 milhões de trabalhadores.

ALTOS E BAIXOS DA LUTA

Nos últimos 25 anos, tem-se assistido a fluxos e refluxos da luta operária. De 1949 a 1959, depois da expulsão dos comunistas do CIO houve um refluxo da luta operária ao mesmo tempo que a repressão capitalista se abatia. A fusão da AFL e do CIO em 1955 marca a submissão do CIO e a destruição da militáncia da sua base.

Dá-se uma viragem na luta das massas operárias em 1959, com a greve de 4 meses dos trabalhadores da indústria do aço contra condições de trabalho. Esta greve marca a vontade das massas operárias em retomar a condução da sua própria luta.

O período de 1959 a 1971 foi essencialmente dominado pela rebelião das massas trabalhadoras: violência armada dos mineiros de Kentucky em 1963; rebelião dos bairros negros em torno de reinvidicações dos trabalhadores negros, começando com o levantamento revolucionário de Harlem, bairro negro de Nova York em 1984; a unidade dos trabalhadores negros e brancos na greve dos estaleiros navais de Newnort News; a vitória sobre a medida repressiva de congelamento de salários imposto pelo governo (liberal) capitalista de Kennedy/Johnson, obtida pelos grevistas dos transportes públicos em 1966 e mais tarde, nesse mesmo ano, pelos trabalhadores contra a vontade do próprio sindicato vendido aos patrões, e assim por diante até à grande greve selvagem (quer dizer: exterior aos sindicaots) dos trabalhadores dos serviços postais de 1971.

A classe dominante compreendeu em 1971 que os seus lacaios dos sindicatos eram incapazes por si só de controlarem as lutas dos trabalhadores e que se tornava necessária a directa intervenção governamental. Começam os congelamcntos de salários (Agosto de 1971) ao mesmo tempo que se «diversifica» a política dos sindicatos: por um lado os anti-comunistas ferozes, do outro lado, os mais «liberais».

A TÁCTICA DA BURGUESIA

No sistema de ditadura democrática burguesa dos EUA o direito à greve existe apenas quando os supostos «intermediários» entre as massas trabalhadoras e a classe capitalista são as grandes federações sindicais (como por exemplo a AFL-CIO) e sindicatos seus associados. Estes defendem objectivamente os interesses dos patrões e de um grupo privilegiado de trabalhadores contra as grandes massas operárias.

Num momento em que os imperialistas dos EUA enfrentam uma crescente revolta dos trabalhadores de todo o mundo, eles procuram amordaçar a classe trabalhadora no seu pais ao mesmo tempo que os ataques entre os trabalhadores de todo o mundo. Os imperialistas americanos servem-se de duas armas para dividir a classe trabalhadora internacional: o racismo e o nacionalismo.

Com o racismo, os imperialistas americanos pretendem dividir os trabalhadores nos diferentes países com base na defesa do «interesse nacional» (isto é. dos interesses capitalista de cada país), numa época em que as multinacionais capitalistas dominam o mundo e em que os trabalhadores de todos os países são igualmente explorados pelo capitalismo internacional dominado pelos grandes monopólios imperialistas (sobre este assunto, ver o artigo publicado no primeiro número de A Nossa Voz dos operários da Timex).

OS SINDICATOS REFORMISTAS SAO UM INSTRUMENTO DA BURGUESIA

É de notar que as direcções sindicais colaboram activamente na expansão imperialista dos EUA ao mesmo tempo que no seus país negoceiam com os capitalistas num boicote sistemático das reivindicações e lutas das grandes massas trabalhadoras. Numerosos exemplos se poderiam encontrar do colaboracionismo entre os vendidos das hierarquias sindicais e a CIA (policia secreta americana) no controle das lutas da classe trabalhadora noutros países.

No interior dos EUA, as direcções sindicais procuram canalisar para o reformismo o crescente descontentamento e rebelião da classe trabalhadora. Um exemplo foram as eleições presidenciais de Novembro de 1972, em que os da «linha dura» anti-comunista defendem uma «neutralidade» face a Nixon, enquanto os «liberais» apoiam a candidatura de Mc Govern, agente da altíssima finança, tentando fazer crer aos trabalhadores que a resolução dos seus problemas de classe dependia de votarem num ou noutro destes representantes da burguesia.

A LUTA DOS TRABALHADORES CONTRA OS SINDICATOS REFORMISTAS

Mas estas manobras das direcções sindicais e do patronato vão sendo sucessivamente denunciadas na luta pelas massas trabalhadoras.

Um exemplo recente foi a greve com ocupação numa das fábricas da Chysler Corporation (automóveis) no verão de 1973. Esta fábrica emprega uma maioria de trabalhadores afro-americanos. Os salários são muito baixos, as condições de trabalho extremamente deficientes e a repressão aos trabalhadores no local de trabalho é feroz. Após o despedimento de 2 operários envolvidos na organização dos seus camaradas de trabalho, os trabalhadores entram em greve com ocupação que se mantém por cerca de 3 dias consecutivos, reunindo-se em assembleias constantes e formando piquetes de greve, enquanto no exterior da fábrica trabalhadores desta e de outras fábricas faziam propaganda da luta e organizavam brigadas de apoio e defesa da greve. Durante estes dias, os dirigentes sindicais reformistas procuraram dividir a unidade de classe dos trabalhadores brancos e negros atraves do racismo e também quebrar a militâncía dos trabalhadores apelando continuamente para a negociação com os patrões em termos que representavam cedências muito importantes das reivindicações dos trabalhadores em greve. Face a isto, os operários denunciaram as manobras da direcção sindical e rejeitaram categoricamente ceder em qualquer das suas reivindicações.

Perante a força dos operários em greve e a solidariedade de classe dos trabalhadores de outras fábricas, os capitalistas juntamente com os dirigentes sindicais reformistas desencadeiam medidas fascistas de repressão à greve usando para isso, na fase final da luta, grupos terroristas da organização de extrema direita Klux Klux Klan (KKK) que espancaram selvaticamente operários dos piquetes de greve, sendo depois auxiliados pela polícia local que, após horas de luta, conseguia expulsar os trabalhadores que ocupavam a fábrica.

A violência desta luta foi um elemento importante para consolidar nos trabalhadores americanos o seu espirito de combate ao patronato e aos sindicatos reformistas.

Seja quem for que esteja no governo dos EUA, Nixon, Mc Govern, Kennedy ou qualquer outro representante da classe capitalista, duma forma ou de outra os salários continuam a ser congelados, o aumento insuportável do custo de vida continua, as condições de trabalho pioram constantemente, a repressão violenta às lutas operárias continua. A luta dos trabalhadores americanos de todas as raças e nacionalidade é a luta dos trabalhadores do mundo inteiro contra a exploração capitalista e imperialista.


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