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Tradução: A presente tradução está conforme à nova edição das Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Tomo II (Edições do Povo, Pequim, Agosto de 1952). Nas notas introduziram-se alterações, para atender as necessidades de edição em línguas estrangeiras.
Fonte: Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Pequim, 1975, Tomo II, pág: 739-751.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo
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Ien-an, 20 de Janeiro de 1941
Pelos serviços distintos que prestou na Guerra de Resistência, o Novo IV Exército do Exército Revolucionário Nacional ganhou fama em todo o país e no estrangeiro. O seu comandante, Ie Tim, conquistou relevados méritos na condução das operações contra o invasor. Recentemente, ao executarem ordens de movimento para o Norte, unidades do Novo IV Exército foram surpreendidas por um ataque perverso do grupo pró-japonês e Ie Tim em pessoa, exausto e ferido, foi capturado e lançado numa prisão. Foi por telegramas de Tchen Yi, comandante do I Destacamento do Novo IV Exército, e Tcham Iun-yi, chefe do respetivo estado maior, que a Comissão Militar Revolucionária ficou informada sobre o desenrolar do Incidente do Sul de Anghuei. Indignada em extremo, a Comissão manifesta toda a sua solicitude em relação a totalidade dos camaradas. Ademais das medidas que serão tomadas como resposta ao crime monstruoso-de sabotagem da Guerra de Resistência, incursão contra as forças armadas do povo e desencadeamento da guerra civil, perpetrado pela camarilha pró-japonesa, a Comissão Militar Revolucionária nomeia pela presente ordem Tchen Yi comandante interino do Novo IV Exército do Exército Revolucionário Nacional, Tcham Iun-yi comandante adjunto, Lai Chuan-tchu chefe de estado maior e Tem Tse-huei chefe do departamento político. O comandante interino Tchen Yi e todos os que acabam de ser designados têm como dever despender o máximo esforço no sentido de consolidar o exército, reforçar a unidade nas fileiras, assegurar boas relações com o povo, aplicar os Três Princípios do Povo, conformar-se ao “Testamento do Dr. Sun Yat-sen”, consolidar e alargar a Frente Única Nacional Anti-Japonesa, lutar pela defesa da nação e do Estado, pela realização até ao fim da Guerra de Resistência e pela prevenção contra os ataques da camarilha pró-japonesa.
22 de Janeiro de 1941
O incidente anti-comunista, recentemente ocorrido no sul de Anghuei, estava preparado desde há muito. O atual desenvolvimento não marca senão o começo da situação de emergência nacional. Desde que concluiu a tripla aliança(1) com a Alemanha e a Itália, o invasor japonês passou a redobrar de esforços para provocar na China alterações de ordem interna, no intuito de encontrar solução rápida para a Guerra Sino-Japonesa. O seu objetivo é reprimir o movimento de resistência ao Japão na China, valendo-se dos próprios chineses, e consolidar a retaguarda para progredir sobre o sul, de modo a ficar com as mãos livres para esse avanço, em coordenação com a ofensiva de Hitler contra a Inglaterra. Há já muito que um número bastante elevado de elementos importantes da camarilha pró-japonesa da China se implantou nos diversos órgãos do Kuomintang, bem como no governo e no exército kuomintanista. Esses elementos prosseguem dia e noite um labor de agitação. O seu plano encontra-se concluído desde os fins do ano passado. O ataque de surpresa contra as unidades do Novo IV Exército no sul do Anghuei e a ordem reacionária de 17 de Janeiro marcam apenas os primeiros sinais visíveis dessa conspiração. Outros incidentes de extrema gravidade vão produzir-se no futuro. Mas em que consiste o plano dos invasores japoneses e da camarilha pró-japonesa? Nele prevê-se o seguinte:
Tal é, nas grandes linhas, o pérfido plano do Japão e da camarilha pró-japonesa na China. No seu Manifesto de 7 de Julho de 1959, o Comité Central do Partido Comunista da China sublinhou que
“a capitulação representa, atualmente, o maior dos perigos e o combate ao Partido Comunista constitui uma preparação para isso”.
E no Manifesto de 7 de Julho de 1940, o Comité Central dizia:
“O perigo de capitulação sem par e as dificuldades excepcionais da Guerra de Resistência já chegaram.”
Em termos ainda mais concretos falavam Tchu Te, Pem Te-huai, Ie Tim e Siam Im, no seu telegrama de 9 de Novembro de 1940:
“Há certos indivíduos que, no nosso país, estão forjando uma nova campanha, dita anti-comunista, no intuito de abrir caminho a capitulação. ...Essa gente pretende acabar com a Guerra de Resistência, recorrendo a chamada cooperação sino-japonesa para “exterminação dos comunistas”. Querem a guerra civil em vez da resistência, a capitulação em vez da independência, a ruptura em vez da unidade, as trevas em vez da luz. As suas ações são das mais pérfidas e os seus desígnios, dos mais funestos. A notícia transmite-se de boca em boca e as pessoas sentem-se horrorizadas. Nunca o País viveu situação tão crítica.”
O Incidente do Sul de Anghuei e a ordem do Conselho Militar de Tchuntchim, com data de 17 de Janeiro, não são pois mais que o início de toda uma série de incidentes. A ordem de 17 de Janeiro, em particular, reveste grave significado político. O fato de os autores dessa ordem contra-revolucionária terem ousado lançá-la em desafio a condenação universal, mostra o quanto estão decididos a ruptura completa e a capitulação total. Os representantes políticos dos grandes senhores de terras e da grande burguesia, classes débeis na China, não realizam sem os patrões mesmo as coisas mais insignificantes, como poderiam pois realizar coisas assim grandes que abalam o céu e a terra? Nas circunstâncias atuais parece bem difícil fazer voltar atrás os que emitiram essa ordem e, sem uma ação empreendida de urgência pela totalidade do povo e uma forte pressão diplomática no plano internacional, será provavelmente impossível chegar-se a tal resultado. Daí que a tarefa urgente imposta ao povo chinês seja a de seguir com a maior vigilância o curso dos acontecimentos e estar pronto a enfrentar qualquer eventualidade desastrosa precipitada pela reação, sem permitir-se o mínimo relaxamento. Quanto ao futuro da China, é o que há de mais claro. Mesmo se os invasores japoneses e a camarilha pró-japonesa chegam a realizar os seus planos, nós, os comunistas chineses e o povo chinês, jamais lhes toleraremos que perpetuem a sua tirania; nós temos o dever de tomar as coisas nas mãos e restaurar a situação, e estamos conscientes que encontraremos em nós próprios a força para fazê-lo. Pode apresentar-se muito sombria a situação, sejam quais forem as dificuldades no futuro e o preço que tivermos de pagar por seguirmos a nossa rota (as perdas do Novo IV Exército no sul do Anghuei constituem parte desse preço), o invasor e a camarilha pró-japonesa estão irremediavelmente condenados a derrota. E isso pelas razões seguintes:
Por todas essas razões, esperamos que os que estão brincando com o fogo tenham o cuidado de não se embalar muito. Nós advertimo-los solenemente: sejam prudentes, não brinquem com o fogo, aí arriscam a própria cabeça! Se são capazes de reflexão repousada, devem, honesta e rapidamente, agir como segue:
Se esses doze pontos são realizados, a situação restabelece-se de si mesma; nós, os comunistas e o povo chinês, não vamos levar as coisas ao extremo. No caso contrário, “temo que a desgraça de Tchi Suen não venha de Tchuan-iu mas sim da sua própria casa”(4), dito doutro modo, os reacionários não terão feito mais que levantar uma pedra para deixá-la cair depois sobre os seus próprios pés, não podendo então nós ser-lhes de qualquer valia, mesmo que o queiramos. Nós atribuímos valor a cooperação mas é indispensável que eles façam o mesmo. Digamo-lo francamente: as nossas concessões têm limite, para nós o período das concessões já passou. Os reacionários desembainharam a adaga e vibraram o primeiro golpe, a ferida é profunda. Se ainda se preocupam com o próprio futuro, devem cuidar pessoalmente da ferida. “Não é muito tarde para reparar a cerca mesmo quando já fugiram alguns carneiros”. Para eles trata-se duma questão de vida ou morte e nós sentimo-nos obrigados a fazer-lhes essa última advertência. Se se obstinam, se persistem nas suas provocações, o povo chinês, esgotada a paciência, atirá-los-á para a lixeira, sendo depois muito tarde para arrependimentos. Quanto ao Novo IV Exército, a Comissão Militar Revolucionária do Comité Central do Partido Comunista da China emitiu uma ordem, em 20 de Janeiro, nomeando Tchen Yi comandante interino, Tcham Iun-yi comandante adjunto, Lai Chuan-tchu chefe de estado maior e Tem Tse-huei chefe do departamento político. As unidades do Novo IV Exército que se encontram no Centro da China e no sul do Quiansu ainda perfazem um total de mais de noventa mil homens. Embora colhidas entre o fogo do invasor japonês e o das tropas anti-comunistas, elas hão-de poder prosseguir o árduo combate e cumprir até ao fim o seu dever para com a nação, para com a pátria. Por seu turno, as unidades desse exército irmão que é o VIII Exército, não hão-de ficar de armas junto aos pés vendo o Novo IV Exército simultâneamente atacado por dois lados; elas tomarão as medidas adequadas para prestar-lhe a necessária assistência. Isso podemos anunciar sem rodeios aos reacionários. Quanto a declaração do porta-voz do Conselho Militar de Tchuntchim, como único comentário só pode dizer-se que se contradiz a si própria. Com efeito, enquanto na ordem dada pelo Conselho lê-se que o Novo IV Exército se “amotinou”, o porta-voz declara que este tinha como objetivo dirigir-se a região do triângulo Nanquim-Xangai-Handjou, com vistas a criação duma base de apoio. Se admitimos que isso era exato, como considerar então a entrada nesse triângulo como amotinação? O estúpido porta-voz de Tchuntchim nem se deu sequer ao incómodo de perguntar-se: contra quem, no fim de contas, estará amotinado o Novo IV Exército nessa região? Acaso não se trata dum território ocupado pelos japoneses? Por que razão pois se impedirá o Novo IV Exército de entrar aí, por que razão tentar aniquilá-lo quando estava ainda no sul do Anghuei? Ah! claro, era o que tinha de fazer qualquer leal servidor do imperialismo japonês. Daí o plano de concentração de sete divisões para a campanha de aniquilamento; aí a razão da ordem de 17 de Janeiro; aí está porque Ie Tim é levado a juízo. Continuo a sustentar que o porta-voz de Tchuntchim é um perfeito imbecil; sem que o tivessem vergado, revelou ao povo inteiro o plano do imperialismo japonês.
Notas de rodapé:
(1) pacto militar tripartido concluído em Berlim, a 27 de Setembro de 1940, pela Alemanha, Itália e Japão. (retornar ao texto)
(2) Esses dois telegramas tristemente famosos, assinados pelo chefe do Estado Maior Geral do governo kuomintanista, Ho In-tchin, e seu adjunto, Bai Tchon-si, foram expedidos no Inverno de 1940, assim que Tchiang Kai-chek lançou a segunda campanha anti-comunista. O telegrama de 19 de Outubro caluniava ultrajantemente o VIII Exército e o Novo IV Exército, que prosseguiam com resolução a resistência na retaguarda do inimigo, e ordenava as unidades desses exércitos que combatiam o invasor japonês no sul do rio Amarelo, que se retirassem, em prazo fixo, para o norte do rio. Na resposta que em 9 de Novembro dirigiram a Ho In-tchin e Bai Tchon-si, os camaradas Tchu Te, Pem Te-huai, Ie Tim e Siam Im, tendo em mente os interesses do país, aceitaram deslocar para norte as tropas que se encontravam no sul do Anghuei, ao mesmo tempo que, baseados nos fatos, rejeitavam as calúnias, fabricadas de todo, do tal telegrama de 19 de Outubro. O telegrama de 8 de Dezembro, de Ho In-tchin e Bai Tchon-si, em réplica ao telegrama de 9 de Novembro de Tchu Te, Pem Te-huai, Ie Tim e Siam Im, visava prosseguir a mobilização da “opinião pública” para combater o Partido Comunista. (retornar ao texto)
(3) Linha de bloqueio construída pelos reacionários do Kuomintang a volta da região fronteiriça Xensi-Cansu-Ninsia. Depois de 1939, as tropas do Kuomintang forçaram a população a construir cinco linhas de fortificações compostas de fossos, muralhas e blocausses, ao longo de várias províncias, a partir de Ninsia, a oeste, seguindo a ribeira Tsim, ao sul, até ao rio Amarelo, a leste. Nas vésperas do Incidente do Sul de Anghuei, o efetivo das tropas que cercavam a região fronteiriça foi elevado a mais de duzentos mil homens. (retornar ao texto)
(4) Extraído das Conversações de Confúcio. Tchi Suen era ministro do principado Lu. Tchuan-iu era um pequeno Estado na época de Tchuentsiu (época da Primavera e Outono). Quando Tchi Suen se preparava para atacar Tchuan-iu, Confúcio fez a observação seguinte: temo que a desgraça de Tchi Suen não venha do exterior mas sim do interior. (retornar ao texto)
Inclusão | 06/01/2015 |