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Daniel Guérin
foto Bensaid
1904-1988

Escritor e anarquista francês, de família burguesa e formação católica, Guérin escreveu, durante parte de sua juventude, romances e adaptações de obras literárias para o teatro e somente se tornou um militante político com o passar do tempo. É a partir de 1930 que ele passa a atuar politicamente. Inicia sua militância ao lado de Pierre Monatte no sindicalismo revolucionário, através da revista Revolution Proletarianne (Revolução Proletária). Posteriormente, sob influência trotskista, inclusive do próprio Leon Trotsky, atua na SFIO (Seção Francesa da Internacional Operária), fundada em 1905 através da fusão dos seguidores de Jules Guedes e Jean Jaurés, organização na qual haviam entrado militantes trotskistas a partir de 1930 e mais tarde adotará o nome de Partido Socialista Francês. Ainda na SFIO se alia à Esquerda Revolucionária, grupo animado por Marceau Pivert. Acompanha este último após a exclusão da SFIO na fundação do Partido Socialista Operário e Camponês, que critica a SFIO por ser reformista e o Partido Comunista Francês por ser stalinista. Participa das ocupações de fábrica durante as ações da Frente Popular em combate ao nazi-fascismo, apóia a Revolução Espanhola, se transfere para a Noruega, sendo encarregado em Oslo de criar um secretariado internacional da Frente Operária Contra a Guerra em oposição à guerra imperialista. Além disso, ainda colabora clandestinamente com o trotskismo de 1943 a 1945. Em 1947 muda para os Estados Unidos, onde fica até 1948, quando é expulso devido à política marchartista, e passa a atuar em estrita ligação com o movimento operário norte-americano e com o movimento negro. Após sua volta para a França, passa a ler as obras completas de Bakunin e sofre o impacto da emergência dos conselhos operários húngaros contra o capitalismo estatal em 1956. Uma nova fase de seu pensamento se inicia neste período, que poderia ser chamada “socialista libertária”. Passa a publicar diversas obras sobre sexualidade, colonialismo, questão racial, entre outros temas. Também passa a ser um militante do anticolonialismo. A partir dos anos 60 que ele produz mais intensamente sobre anarquismo e marxismo libertário, tanto organizando coletâneas como reavaliando seu próprio pensamento e produzindo obras de destaque. Também se aliou ou atuou em diversas organizações políticas neste período, tal como o PSU – Partido Socialista Unificado, oriundo da fusão de diversos grupos e dissidências de partidos e contando com grupos minoritários luxemburguistas e trotskistas, do qual se afasta em 1962 por seu reformismo. Aproximou-se da Revista Rouge e Noir (Vermelho e Negro), periódico anarquista, e do Movimento 22 de Março, e foi um dos fundadores do MCL – Movimento Comunista Libertário, que mais tarde se fundiu com o ORA – Organização Revolucionária Anarquista, até ingressar, juntamente com George Fontenis, no UTCL – União dos Trabalhadores Comunistas Libertários, onde permanece até sua morte, em 1984. É justamente a partir dos anos 80 e sua adesão ao UTCL que ele passa a utilizar preferencialmente a expressão “comunista libertário”, adotando posições consideradas por alguns como sendo “conselhistas”. Porém, Guérin faz questão de afastar a confusão entre o sentido em que ele usa a expressão “comunista libertário” de outros sentidos, especialmente os de Kropotkin e Isaac Puente. Segundo Guérin, Kropotkin e seus discípulos forneciam um sentido utópico a esta palavra ao sonhar com “um paraíso terrestre sem dinheiro” e com “abundância de recursos” que permitiria o livre consumo. Erro semelhante se encontrava na concepção que ele denominou “idílica” de Isaac Puente que antes de 1936 imaginou, no interior da CNT (Confederação Nacional do Trabalho) espanhola, o aparecimento de “comunas livres” numa “bela manhã”.

O grande mérito de Guérin é abrir o caminho para a reflexão não dogmática sobre o marxismo libertário e sobre o anarquismo, “irmãos gêmeos, irmãos inimigos”, como colocou em uma de suas obras, embora sua referência, e daí o “inimigo”, fosse o “marxismo” autoritário. A reflexão crítica e a autocrítica são elementos fundamentais que devem seguir a práxis revolucionária e Guérin produziu obras que incentivam esta prática reflexiva, que só pode gerar efeitos benéficos para a prática libertária. O espírito libertário, portanto, reflexivo, não-dogmático, crítico, autocrítico, é a grande contribuição dos seus escritos.
Texto adaptado do Prefácio de Nildo Viana ao Livro O Anarquismo. Da Doutrina à Ação, de Daniel Guérin.
Esta obra completa está acessível em http://movaut.ning.com/page/livros-1 (em espanhol).

Atualmente estão disponíveis em Português as seguintes obras:

1973 - Nov Anarquismo e Marxismo
   
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Inclusão 18/03/2010