Carta à Maioria do Comitê Nacional
[segunda carta]

Leon Trotsky

27 de Dezembro de 1939

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Primeira Edição: Leon Trotsky, In Defense of Marxism, New York 1942.
Fonte: "Em Defesa do Marxismo", publicação da Editora "Proposta Editorial"
Tradução: Luís Carlos Leiria e Elisabeth Marie
Transcrição: Icaro Daniel Petter
HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: © Editora Proposta Editorial. Agradeçemos a Valfrido Lima pela autorização concedida.


Queridos amigos:

Confesso que num primeiro momento, seu informe sobre a insistência dos camaradas Burnham e Shachtman, com relação à publicação de artigos controversos em New Socialist e em Socialist Appeal, me surpreendeu. Me perguntei sobre qual seria a razão disso. Está excluído que seja o fato de que se sintam muito seguros de sua posição. Os argumentos são de natureza muito primitiva, as contradições entre eles são agudas e não podem deixar de pensar no fato de que a maioria representa a tradição e a doutrina marxista. Não podem esperar sair vitoriosos de uma luta teórica; não só Shachtman e Abern, mas também Burnham, entendem isso. Qual é então, a fonte de sua ânsia de publicidade? A explicação é muito simples: estão impacientes para se justificarem diante da opinião pública democrata, para gritar a todos os Eastman, Hooks e outros, que eles, a oposição, não são tão maus como nós. Para Burnham esta necessidade interior deve ser especialmente imperativa. E o mesmo tipo de capitulação interna que observamos em Zinoviev e Kamenev às vésperas da Revolução de Outubro, e em muitos "internacionalistas" pressionados pela onda de guerra patriótica. Se abstrairmos todas as particularidades individuais, acidentais ou incompreensões e erros, teremos diante de nós, o primeiro pecado social-patriota em nosso próprio partido. Vocês situam corretamente este fato, desde o início, mas para mim só agora aparece com toda clareza, depois de proclamarem seu desejo de anunciar — como os poumistas, os pivertistas(1) e muitos outros — que eles não são tão maus como os "trotskistas".

Esta consideração é um argumento suplementar, contra qualquer concessão a eles, neste terreno. Sob as atuais condições, temos todo o direito de lhes dizer: vocês devem esperar o veredicto do partido, e não chamar os democráticos juízes patrióticos antes que seja tomada a decisão.

Anteriormente, considerei a questão de forma muito abstrata, isto é, somente desde o ponto de vista da luta, teórica, e a partir deste ponto de vista estou de acordo com o camarada Goldman, de que somente podemos ganhar. Porém, critérios políticos mais amplos indicam que devemos eliminar a intervenção prematura do fator democrático-patriótico em nossa luta interna partidária, e que a oposição deve contar, na discussão, somente com sua própria força, como faz a maioria. Nestas condições, a prova e seleção dos diferentes elementos da oposição terá um caráter mais eficaz e os resultados serão mais favoráveis para o partido.

Engels falou uma vez, sobre o mau gênio da pequena-burguesia encolerizada. Parece-me, que um traço deste mau gênio pode ser encontrado nas fileiras da oposição. Ontem, muitos deles estavam hipnotizados pela tradição bolchevique. Nunca a assumiram internamente, mas não se atreviam a combatê-la abertamente. Porém, Shachtman e Abern deram-lhes este tipo de ânimo, e agora fazem elogios, abertamente, ao gênio da pequena-burguesia exasperada.

Esta é, por exemplo, a impressão que tive dos últimos artigos e carta de Stanley. Perdeu totalmente seu espírito autocrítico, e acredita sinceramente que qualquer inspiração que chega a seu cérebro é merecedora de ser proclamada e impressa, desde que esteja dirigida contra o programa e a tradição do partido. O crime de Shachtman e Abern consiste especialmente em terem provocado tal explosão de auto-satisfação pequeno-burguesa.

W. RORK (Leon Trotsky)

P.S.: É absolutamente certo que os agentes stalinistas estão trabalhando em nosso meio a fim de agudizar a discussão e provocar uma ruptura. Seria necessário examinar muitos "lutadores" fracionalistas a partir deste especial ponto de vista.

W.R.


Notas:

(1) Membros do grupo esquerdista francês, encabeçado por Marceau Pivert. (retornar ao texto)

Inclusão 29/05/2009