Carta a Sherman Stanley

Leon Trotsky

8 de Outubro de 1939

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Primeira Edição: Leon Trotsky, In Defense of Marxism, New York 1942.
Fonte: "Em Defesa do Marxismo", publicação da Editora "Proposta Editorial"
Tradução: Luís Carlos Leiria e Elisabeth Marie

Transcrição: Icaro Daniel Petter
HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: © Editora Proposta Editorial. Agradeçemos a Valfrido Lima pela autorização concedida.


Querido camarada Stanley:

Recebi a carta que você enviou a O'Brien, dada a partida deste. A carta produziu em mim uma estranha impressão, porque contraditoriamente a seus bons artigos, está cheia de contradições.

Até agora, não recebi nenhum material sobre a plenária e não conheço nem o texto da resolução majoritária e nem o de M.S.(1), mas você afirma que não existe uma posição irreconciliável entre os dois textos. Ao mesmo tempo, afirma que um "desastre" ameaça o partido. Por quê? Inclusive se houvesse duas posições irreconciliáveis, isto não significaria um "desastre", mas a necessidade de levar adiante, até o fim, a luta política. Porém, se as duas posições expressam somente matizes sobre o mesmo ponto de vista expresso no programa da Quarta Internacional, como podemos depreender desta divergência não principista (em sua opinião) a aproximação de uma catástrofe? É natural que a maioria prefira seu próprio matiz (se é só um matiz). Porém, é absolutamente anormal que a minoria proclame: "O fato de vocês, a maioria, aceitarem seu próprio matiz, e não o nosso, significa para nós presságio de um desastre". Da parte de quem? E você afirma que "observa objetivamente os diferentes grupos". Esta não é a minha impressão, de forma alguma.

Por exemplo, você escreve que "faltava uma página, por uma ou outra razão" do meu artigo. Dessa forma, você expressa uma suspeita muito venenosa em relação aos camaradas responsáveis. A página se perdeu por uma lamentável negligência aqui em nosso escritório, e já enviamos um texto novo e completo para ser traduzido(2).

Seu argumento sobre o "império operário" degenerado, me parece ser um invento pouco feliz. "O programa de expansão czarista" foi criticado(3) aos bolcheviques, desde o primeiro dia da Revolução de Outubro. Inclusive um Estado operário puro tenderia à expansão, e as linhas geográficas coincidiriam inevitavelmente com as linhas gerais da expansão czarista, porque as revoluções não mudam, necessariamente, as condições geográficas. O que criticamos na camarilha do Kremlin, não é a expansão e nem a direção geográfica da expansão, mas os métodos contra-revolucionários e burocráticos da expansão. Porém, ao mesmo tempo, por sermos marxistas "observamos objetivamente" os acontecimentos históricos, reconhecemos que nem o Czar, nem Hitler, nem Chamberlain tiveram ou têm o costume de abolir, nos países ocupados, a propriedade capitalista, e tal fato, muito progressivo, depende de um outro dado, a saber, que a Revolução de Outubro não está definitivamente esmagada pela burocracia, e que esta última, está forçada, por causa de suas posições, a tomar medidas que em última instância, devemos defender contra os inimigos imperialistas. Logicamente, essas medidas progressivas são incomparavelmente menos importantes que a atividade geral contra-revolucionária da burocracia: é por isso que consideramos necessário derrubar a burocracia.

Os camaradas estão muito indignados com o pacto HitlerStalin. É compreensível. Querem vingar-se de Stalin. Muito bem. Porém, hoje somos débeis, e não poderemos derrotar imediatamente o Kremlin. Alguns camaradas procuram, então, encontrar uma satisfação puramente verbal: tiram da URSS o título de Estado operário, assim como Stalin tira de um desgraçado funcionário a Ordem de Lênin. Caro amigo, considero isto um pouco infantil. A sociologia marxista e a histeria são absolutamente irreconciliáveis.

Com as melhores saudações comunistas,

CRUX (Leon Trotsky)


Notas:

(1) Trata-se de Max Shachtman. (retornar ao texto)

(2) O documento “A URSS na guerra”, chegou durante a reunião do comitê Nacional do Socialist Workers Party. Uma página havia se perdido. A linha política deste documento foi aceita pela maioria do plenário. A minoria realizou um escândalo sobre a página perdida, levantando, entre outras coisas, a acusação de que esta página havia desaparecido deliberadamente. (retornar ao texto)

(3) Ou seja, acusações contra os bolcheviques. (retornar ao texto)

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Inclusão 20/04/2009