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Primeira Edição:The Militant, 19 de dezembro de 1931. Este breve artigo foi preparado por
Trotsky após uma discussão com Albert Glotzer sobre o projeto de teses de F.A.
Ridley e Chandu Ram, critica em Tarefas da Oposição de Esquerda na Grã Bretanha e a Índia.
Fonte: CD Escritos de Leon Trotsky, CEIP Leon Trotsky, Buenos Aires, 2000.
Transcrição e tradução de: Pablo de Freitas Lopes para
Marxists Internet Archive, Dezembro de 2004.
HTML por Pablo de Freitas Lopes para
Marxists Internet Archive, Março de 2005.
Direito de Reprodução: Marxists Internet Archive (marxists.org),
2005. A cópia ou distribuição deste documento é livre
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Para analisar uma situação, de um ponto de vista revolucionário, é necessário distinguir entre as condições econômicas e sociais de uma situação revolucionária e a situação revolucionária propriamente dita as condições econômicas e sociais de uma situação revolucionária se dão, em geral, quando as forças produtivas de um país estão em decadência; quando diminui sistematicamente o peso do país capitalista no mercado mundial e os recursos das classes também se reduzem sistematicamente; quando o desemprego já não é simplesmente a conseqüência de uma flutuação conjuntural, mas um mal social permanente com tendência a se elevar. Estas são as características da situação da Inglaterra; podemos dizer que ali se dão e se aprofundam diariamente as condições econômicas e sociais de uma situação revolucionária. Porém, não podemos esquecer que a situação revolucionária deve ser definida politicamente – não apenas sociologicamente –, e aqui entra o fator subjetivo, o qual não consiste somente no problema do partido do proletariado, mas que é uma questão de consciência de todas as classes, obviamente, fundamentalmente do proletariado e seu partido.
A situação revolucionária somente existe quando as condições econômicas e sociais que permitem a revolução provocam mudanças bruscas na consciência da sociedade e de suas diferentes classes. Quais mudanças?
Para nossa análise devemos considerar as três classes sociais: a capitalista, a classe média e o proletariado. São muito diferentes as mudanças de mentalidade necessárias em cada uma destas classes.
O proletariado britânico sabe muito bem, muito melhor que todos os teóricos, que a situação econômica é muito grave. Porém, a situação revolucionária se desenvolve apenas quando o proletariado começa a buscar uma saída, não sobre os trilhos da velha sociedade mas pelo caminho da insurreição revolucionária contra a ordem existente. Esta é a condição subjetiva mais importante de uma situação revolucionária. A intensidade dos sentimentos revolucionários das massas é um dos índices mais importantes da maturidade da situação revolucionária.
Contudo, a etapa seguinte à situação revolucionária é a que permite ao proletariado converter-se na força dominante da sociedade, e isto depende até certo ponto (ainda que menos na Inglaterra que em outros países) das idéias e sentimentos políticos da classe média, de sua desconfiança em todos os partidos tradicionais (incluindo o Partido Trabalhista, que é reformista, ou seja, conservador) e de que deposite suas esperanças numa mudança radical, revolucionária, da sociedade (e não numa mudança contra-revolucionária, isto, fascista).
As mudanças no estado de ânimo da classe média e do proletariado correspondem e são paralelas às alterações no estado de ânimo da classe dominante. Quando esta enxerga que é incapaz de salvar seu sistema, perde confiança em si mesma, começa a se desintegrar, divide-se em frações e camarilhas.
Não se pode saber de antemão, nem indicar com exatidão matemática, em que momento desses processos, a situação revolucionária está madura. O partido revolucionário apenas pode descobri-lo através da luta pelo crescimento de suas forças e influência sobre as massas, sobre os camponeses e a pequena burguesia das cidades etc.; e pelo debilitamento da resistência das classes dominantes.
Aplicando estes critérios à situação da Grã Bretanha, vimos que:
As condições econômicas e sociais existem e se tornam mais prementes e agudas.
Todavia, estas condições econômicas não provocarão uma resposta psicológica. Não faz falta uma mudança nas condições econômicas, já intoleráveis, mas uma mudança na atitude das distintas classes diante desta intolerável e catastrófica situação que vive a Inglaterra.
O desenvolvimento econômico da sociedade é um processo muito gradual, que se mede em séculos e décadas. Porém, quando se alteram radicalmente as condições econômicas, a resposta psicológica, já demorada, pode aparecer muito rápido. E, assim, sucedendo rápida ou lentamente, essas mudanças inevitavelmente devem alterar o estado de ânimo das classes. Somente então temos uma situação revolucionária.
Em termos políticos, isto significa:
Que o proletariado deve perder sua confiança não apenas nos conservadores e nos liberais mas também no Partido Trabalhista. Deve concentrar sua vontade e sua coragem nos objetivos e métodos revolucionários.
Que a classe média deve perder sua confiança na grande burguesia, nos senhores, e voltar seus olhos ao proletariado revolucionário.
Que as classes possuidoras, as camarilhas governantes, rechaçadas pelas massas, perdem a confiança em si mesmas.
Essas atitudes se desenvolverão inevitavelmente, porém ainda não existem. Podem desenvolver-se num breve lapso devido à gravidade da crise. Este processo pode durar dois ou três anos, inclusive um ano. Porém, hoje é uma perspectiva, não um fato. Temos que assentar nossa política nos fatos de hoje, não nos de amanhã.
As condições políticas de uma situação revolucionária se desenvolvem simultânea e mais ou menos paralelamente, todavia isso não significa que amadureçam todas ao mesmo tempo: esse é o perigo que nos ameaça. Das condições políticas atuais, a mais imatura é o partido revolucionário do proletariado. Não está excluída a possibilidade de que a transformação revolucionária do proletariado e da classe média, e a desintegração da classe dominante, se desenvolvam mais rapidamente que a maturação do Partido Comunista. Isso significa que poderia se dar uma verdadeira situação revolucionária sem um partido revolucionário adequado. Em certa medida, se repetirá o que ocorreu na Alemanha em 1923. Porém, é um erro absoluto considerar que esta é hoje a situação da Inglaterra.
Dizemos que não está excluída a possibilidade de que o partido possa estar em descompasso com os demais elementos da situação revolucionária, todavia não é inevitável. Não podemos fazer um prognóstico exato, mas aqui não se trata de um problema de prognósticos e sim de nossa atividade.
Nesta conjuntura, quanto tempo necessitará o proletariado britânico para romper seus vínculos com os três partidos burgueses? É muito possível que, com uma política correta, o Partido Comunista cresça proporcionalmente à bancarrota e desintegração dos demais partidos. Nosso objetivo e nosso dever são concretizar essa possibilidade.
Conclusões: isso é suficiente para explicar porque é totalmente errôneo colocar que na Inglaterra o conflito político se dá entre a democracia e o fascismo. A era fascista começa, seriamente, depois de uma vitória importante e temporalmente decisiva da burguesia sobre a classe operária. Contudo, na Inglaterra as grandes lutas ainda não ocorreram. Como já assinalamos, referindo-nos a outro tema, o próximo capítulo político da Inglaterra, depois da queda do governo nacional e do conservador que provavelmente o suceda – será possivelmente liberal-trabalhista –, que num futuro próximo pode se tornar mais perigoso que o espectro do fascismo. Condicionalmente, denominamos esta etapa como kerenskismo britânico.
Todavia, há que acrescentar que não necessariamente em toda etapa e em todos os países o kerenskismo será tão débil como foi o russo, que o era porque o Partido Bolchevique era forte. Por exemplo, na Espanha o kerenskismo – a coalisão de liberais e "socialistas" – não é, de maneira alguma, tão débil como o foi na Rússia, e isso se deve à debilidade do Partido Comunista. O kerenskismo combina a fraseologia reformista, "revolucionária", "democrática", "socialista" e as reformas sociais democráticas de importância secundária com a repressão à ala esquerda da classe operária.
É um método oposto ao do fascismo, porém serve aos mesmos fins. A derrota do futuro lloydgeorgismo somente será possível se sabemos prever sua chegada, se não nos deixamos hipnotizar pelo espectro do fascismo – que hoje é um perigo muito mais distante que Lloyd George e sua ferramenta do futuro, o Partido Trabalhista. Amanhã o perigo pode ser o partido reformista, o bloco de liberais e socialistas; o perigo fascista, todavia, está muito distante. Nossa luta para eliminar a etapa fascista e eliminar ou reduzir a etapa reformista é a luta por ganhar a classe operária para o Partido Comunista.
Inclusão | 10/05/2005 |