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Primeira Edição: Revista "Controversy", n° 12, setembro 1937, págs 111-112. Digitalizado a partir de um manuscrito em português dos arquivos da Organização Política Operária. Tradutor desconhecido
Fonte: Centro de Estudos Victor Myer.
Transcrição: Pery Falcón
HTML: Fernando A. S. Araújo
Caro camarada Smith,
Um articulista condena na "Controversy" os critérios da Frente Popular porque estes não procuram "analisar as forças das classes existentes hoje no mundo de um ponto de vista marxista".
Em continuação, ele cita o Manifesto Comunista: quando a luta de classe assume um "caráter violento e insuportável, uma pequena parte da classe dominante rompe com ela e se junta à classe revolucionária, a classe que tem o futuro em suas mãos". E nisso consiste a "Frente Popular"!
Até agora todo marxista entendia que esse trecho do Manifesto se referia à vanguarda intelectual da burguesia alemã no seu período revolucionário, isto é, a Marx, Engels e outros jovens hegelianos que se uniram ao campo do proletariado revolucionário e tornaram-se fundadores do socialismo científico.
Pode-se afirmar que os senhores Azana e Giral, na Espanha ou Daladier, Chantemps e Herriot, na França, são seguidores de Marx, Engels e Hess, e que pela mágica da Frente Popular estão se transformando na vanguarda do operariado revolucionário? O lema dos socialistas radicais franceses é bem conhecido: "Nem revolução, nem reação".
O Manifesto Comunista foi publicado — como o articulista pode verificar pela Introdução — às vésperas da revolução burguesa de 1848. Se não me engano, a revolução burguesa ocorreu na Inglaterra em meados do Século XVII, isto é, cerca de duzentos anos antes. Portanto:
Entretanto, um evento poderia ser desvirtuado numa espécie de falso paralelo com a Frente Popular. Em 1848 Marx e Engels formaram a ala de extrema esquerda da democracia burguesa, rompendo, porém, completamente no correr do ano. Uma olhadela nas colunas do Rheinische Zeitung permite perceber quão pouco essa política tinha em comum com uma "Frente Popular". Marx e Engels, desde o nascedouro da revolução, não tinham condescendência com os seus aliados da classe média ou mais baixa, que eles impulsionavam adiante através das críticas mais agudas e cheias de desprezo. Nunca se uniram a um governo burguês, nem apoiaram um único, a menos que uma chicotada seja "apoio". Comparar o papel desempenhado pelo atual Partido Comunista em relação aos liberais na França e Espanha com a política de Marx e Engels é falsificar a história e transformá-la numa ficção infantil.
O segundo argumento invocado por esse articulista envolve Lênin. A contradição entre o capital monopolista e os "pequenos capitalistas" ameaçados pelos monopolistas é considerada a condição para a Frente Popular, já que a política do capital monopolista é "monopólio político ou fascismo", enquanto que a única esperança e a salvação dos pequenos capitalistas está num Estado democrático. Vejamos as consequências que se podem extrair dessa teoria.
Segundo Lênin, no começo dos anos 1800 o capitalismo monopolista estava suficientemente desenvolvido para desembocar na época imperialista e imprimir o caráter de imperialismo sobre o período.
O fascismo deve ser a tendência mais forte do capitalismo monopolista do início da época imperialista em diante.
O fascismo deve ter sido, e deve ser ainda a tendência mais forte da burguesia em qualquer país que tenha atingido o estágio de capitalismo monopolista.
Mas é fato bem conhecido que o fascismo é bem mais jovem: chegou ao poder em primeiro lugar na Itália em 1922; e que há país onde o capital monopolista ainda mantém o Estado democrático burguês, por exemplo, países importantes tais como a Grã-Bretanha, a França e os EUA.
Assim sendo é visível que algumas outras condições históricas, que levam o capitalismo monopolista a desenvolver a tendência fascista e a lutar para implantá-la, têm que se fazer presentes.
A Internacional Comunista, desde a primeira manifestação do fascismo até hoje, tem falhado completamente na análise teórica do fascismo — tanto no período ultra-esquerdista, quando produziu o "Social-fascismo" e tomou-o como fio condutor de sua política, como hoje, no período ultradireitista, no qual o fascismo se tornou uma característica peculiar, de fato o "monopólio" de somente "200 famílias"!
Uma aliança com a burguesia liberal é possível somente sobre bases capitalistas e, portanto, deve sacrificar os interesses da classe operária e, do mesmo modo, da pequena-burguesia aos interesses do capital; consequentemente desemboca na contra-revolução, enquanto que a aliança da classe operária com a pequena-burguesia é possível sobre bases anticapitalistas, isto é, bases socialistas revolucionárias. Uma aliança com a burguesia liberal elimina, pois, uma aliança revolucionária com a pequena- burguesia; do ponto de vista da luta de classes é o seu pólo oposto.
Desse modo, é inevitável que uma aliança entre a classe operária e os partidos da burguesia liberal forcem a pequena burguesia (suas vítimas) para o campo do fascismo se, e quando, existem condições para o fascismo. Devemos citar exemplos? Não julgamos necessário.
Acredito ser meu dever advertir aos revolucionários na Inglaterra que querem servir a classe operária no terreno da teoria, a não se satisfazerem com a matéria piedosa servida até hoje pelos partidos comunistas oficiais, e usada por honestos ignorantes ou menos honestos escravos teóricos e charlatães, como um guia para a ação.
O que devemos pensar da capacidade, honestidade intelectual ou coragem intelectual de "teóricos" que por muitos anos sustentaram a teoria do "Social- fascismo" com o mesmo ardor com que agora sustentam um fascismo limitado a somente "200 famílias"!
Os revolucionários que desejam servir a classe operária inglesa devem aprender a aplicar com independência os ensinamentos de Marx, Engels e Lênin à luta de classe no seu próprio país.
È uma tarefa difícil e de responsabilidade, mas não há como deixar de cumpri- la.
Com saudações comunistas,
A. Thalheimer
Uma colaboração do |
Inclusão | 24/01/2013 |