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James S. Allen |
O Plano Marshall para a Europa suplanta ou reforma, de algum modo, basicamente, a Doutrina Truman? Representará o abandono da política que, desde a morte de Roosevelt, tem deliberadamente impedido o entendimento entre os Três Grandes, política essa que já nos arrastou para bem longe da paz? Ou significará o Plano Marshall oferecimento sério para a reconstrução da Europa e reconversão do mundo? Será um passo para a solução alemã na Conferência dos Ministros do Exterior programada para novembro próximo?
Ou será tentativa deliberada para forçar uma ação decisiva antes da Conferência de novembro, a fim de completar a Doutrina Truman na Europa Ocidental, com o objetivo de erguer um Bloco Ocidental à volta do arsenal do Ruhr, procurando, assim, tornar acadêmicas e fúteis posteriores discussões em novembro, a respeito de uma Alemanha unificada e de um ajuste europeu?
À vista da blague geral que cercou o referido plano, vale a pena recordar-se o discurso pronunciado pelo General Marshall na Universidade de Harvard, no dia 5 de junho, quando apresentou o projeto. A sua proposta foi formulada publicamente, depois de dois meses de preparação, durante os quais as notícias sobre a "falência'' da Conferência de Moscou foram em crescendo, e o futuro demissionário Secretário Assistente, Acheson, estava à busca de um plano de reconversão para a Europa "continental", fundamentado na restauração de um Rurh dirigido por trustes. No seu discurso, Marshall ofereceu assistência (posteriormente materializada, sem caráter oficial, em cinco bilhões de dólares anuais durante os próximos quatro ou cinco anos), contanto que "certo número de países europeus, senão todos" preparassem conjuntamente um programa que fosse, ao mesmo tempo, prático e aceitável pelos Estados Unidos.
De si mesmo, o auxílio americano em larga escala para a reconstrução da Europa é necessário e desejável, tanto no ponto de vista de apressar a reconvenção mundial quanto no de aplainar o golpe de próxima depressão na América.
Surgiu inteligivelmente, porém, a questão de quais as condições políticas ligadas ao oferecimento. Marshall negou fosse o seu plano dirigido contra alguém e assegurou ser seu único propósito a reconversão do mundo, de tal forma que
"permitisse o surgimento de condições políticas e sociais em que instituições livres pudessem existir".
Entretanto, o passo seguinte do Secretário de Estado foi ameaçar
"qualquer governo que tentasse bloquear a reconversão" e "governos, partidos políticos ou grupos, que procurem perpetuar a miséria humana para daí tirar proveitos, políticos ou outros, para si mesmos".
Contrariamente à impressão de bom grado divulgada, de que o Plano Marshall era puramente econômico, com os mais elevados propósitos humanitários, salta aos olhos que o oferecimento de ajuda americano está ligado às mesmas considerações políticas reacionárias características da política americana nestes dois últimos anos. Se o procedimento anterior e o atual não fossem ainda suficientemente evidentes, as observações políticas do discurso de Marshall tornariam claro que o Plano era, não um oferecimento à Europa como um todo, e sim um oferecimento à Europa Ocidental; e que também a União Soviética, as nações da Europa Ocidental e os Partidos Comunistas, assim como os movimentos antifascistas da Europa Ocidental e da Itália, estavam sendo outra vez ameaçados e desafiados.
Se ainda restasse alguma dúvida a respeito, os acontecimentos posteriores não deixariam margem para isso. Marshall completou o seu oferecimento de Harvard com um caloroso endosso do projeto de Churchill sobre os Estados Unidos da Europa, advertindo em seguida que isso deveria ser deixado aos próprios europeus. Churchill apressou-se em felicitar Marshall; motivou o seu calor, sem dúvida, o convite, implícito nas declarações de Marshall, para que a Grã-Bretanha tomasse a iniciativa na organização do bloco da Europa Ocidental.
Igualmente revelador foi o passe de mágica com que o coelho russo foi finalmente tirado do chapéu de Marshall. O discurso de Harvard despertou muito interesse porém pouco entusiasmo, e círculos oficiais britânicos se mostraram relutantes em aceitar a deixa. Foi somente uma semana depois, — por insistência de Bevin, segundo se soube posteriormente, — que Marshall acrescentou casualmente o que poderíamos chamar de "nota aditiva", numa conferência de imprensa, ao definir a Europa como "Ocidente da Ásia". Foi esse o toque que permitiu a Bevin elogiar o Plano, em face da profunda e subterrânea desconfiança às intensões americanas dentro do próprio Partido Trabalhista, e correr a Paris, numa atmosfera de entusiasmo artificial, para improvisar, com o Gabinete Ramadier, em dois dias, — antes que a formidável oposição francesa ao bloco antissoviético pudesse atuar integralmente, — a aceitação incondicional do oferecimento americano.
Assim como o expediente de Marshall a respeito da União Soviética, o convite a Molotov para discutir o plano dentro de uma semana ("Pressa é o princípio que me guia", disse Bevin no Parlamento) só chegou depois que Bevin e Bidault haviam aceitado o Plano Marshall e preparado o seu próprio plano para o cumprimento dele, inclusive descendo aos vários comitês econômicos aos quais seria confiada a tarefa, dentro da "moldura" da Comissão Econômica Europeia das Nações Unidas. Dentro e, ao mesmo tempo, independente de ta! Comissão.
Marshall não achou prudente mencionar, em Harvard, uma só comissão das Nações Unidas, nem discutir, em qualquer tempo, o assunto com Moscou. Em verdade, como o disse o correspondente em Paris do New York Times (18 de junho), suspeitava-se em geral que
"o objetivo fosse abrir à Rússia uma porta, estando Washington seguro de que ela não entraria".
Bevin e Bidault trabalharam sobre o mesmo princípio, tendo as suas conclusões conjuntas atingido tal rapidez e ta! forma, antes mesmo de serem conhecidos os termos americanos, com o intuito de dificultar a participação soviética, até nas conversações preliminares. Se Bidault, — sob grande pressão externa, — foi logo obrigado a negar qualquer combinação com a Inglaterra antes do projetado encontro com Molotov, — era evidente que Bevin tentava forçar uma decisão a favor do bloco ocidental. Se isso ainda não estivesse perfeitamente claro, a sua tirada no Parlamento (em estilo puramente trumanesco), ao voltar de Paris, contra a União Soviética e o comunismo, e o seu espetacular desafio, de que iria "organizar este assunto" com presteza e sem prestar atenção a "finuras, ou procedimentos, ou termos de referência", não deixou dúvida alguma de que o convite a Molotov fora meramente formal, um truque com que esperava atirar areia nos olhos do povo.
Desenvolvimentos simultâneos neste lado do Atlântico clarearam ainda mais a nota elucidativa de Marshall. Acompanhando o convite franco-britânico a Molotov, o Secretário Assistente, Clayton, encarregado do programa econômico, fez notar claramente que, se a União Soviética tomasse parte, dela se esperaria que exportasse alimentos em vez de receber auxílio financeiro americano. E isto equivalia a dizer que a União Soviética estava excluída do oferecimento de Marshall. E para que não pairassem dúvidas a respeito dos objetivos políticos reais do Plano Marshall, Clayton endossou oficialmente a proposta de Vandenberg, de um comitê bipartidário para revisão do programa, ligando tal proposta ao endosso de Hoover prevenindo contra o "excesso de exportação" de bens americanos, com o que Hoover advertia que a construção de indústrias pesadas no Ruhr, com capitais e supervisão dos Estados Unidos, teria preferência no Plano.
Ainda mais eloquente, porém, foi a ação contínua dos Estados Unidos na esfera geral da política exterior, a ação que deveria ter posto fim a conversas irresponsáveis, mesmo nos círculos bem-intencionados, acerca da morte e falência da Doutrina Truman.
A reacionária ofensiva dos Estados Unidos continuou firme depois do dia 5 de junho, ponto supostamente decisivo e começo da alegada "nova aproximação", dita como havendo sido marcada pelo discurso de Harvard. A época dos "novos começos" foi aberta com um feroz assalto político contra a Hungria e a Bulgária, por ocasião da ação dos governos desses países contra os conspiradores Nagy e Petkov. As notas de Marshall às autoridades soviéticas foram ainda mais insultuosas e intervencionistas do que antes de 5 de junho. Nagy foi muito bem recebido nos Estados Unidos pelo Departamento de Estado, e a recepção não foi menos cordial depois que ele se proclamou, a si próprio, "curador da causa húngara".
No seu discurso em Otava, sobre o bloco interamericano, o Presidente Truman repetiu algumas frases — chaves da sua Doutrina; e, em Princeton, a 17 de junho, logo depois da pequena nota elucidativa de Marshall a respeito da União Soviética, o Presidente insistiu no serviço militar universal, para mostrar ao mundo que nós temos o "desejo de cumprir o nosso compromisso de ajudar nações livres e independentes a manterem a independência" e ajudá-las a resistir à "pressão totalitária".
No intervalo dos voos de Bevin entre Londres e Paris nas asas do Plano Marshall, concluiu-se uma aliança com a ditadura grega, admitindo-se funcionários americanos em todos os departamentos governamentais de Atenas, com poderes de supervisão tão rigorosos, que constituem domínio efetivo americano sobre a Grécia.
A missão militar na Turquia fechou contratos para a construção de aeródromos com capacidade para super-bombardeiros americanos, enquanto que um empréstimo de 25.000,000 de dólares para compra de material"de guerra foi assegurado ao Irã. O Presidente recomeçou também a sua pressão para unificar os armamentos no Hemisfério, em seguida à ridícula reconciliação com Perón na Argentina. Marshall enviou uma nota de felicitações a De Gasperi na Itália, a propósito da formação de um governo sem os comunistas. E se as nações, que participaram da Conferência Internacional de Comércio em Genebra, tinham ilusões sobre a "liberdade de comércio" americana que age por dois lados, tais ilusões se desfizeram como fumaça, ao ser aprovada uma lei de alta tarifa para a lã.
Se há, em alguns círculos progressistas, certa tendência para aceitar o Plano Marshall como afastamento básico da Doutrina Truman, é porque as manobras táticas de Marshall foram tomadas como mudança de política. Encobriram-se, de algum modo, os crus slogans anticomunistas e as mal-disfarçadas ambições expansionistas que caracterizam hoje em dia a propaganda americana. Uma linguagem mais refinada juntamente com slogans "positivos" acerca da reconvenção e reconstrução foram julgados necessários, à vista da má vontade universal para com os Estados Unidos que a Doutrina Truman provocou, e à vista especialmente da funda inquietação e preocupação entre o povo americano de que está sendo roubado na paz e conduzido para uma grande depressão e uma nova guerra.
O acolhimento a Wallace na sua tournée triunfal pelo país, seguindo-se à sua calorosa recepção no estrangeiro, demonstrou que milhões de americanos desejam romper com a liderança reacionária de ambos os Partidos, estão buscando o caminho da volta às principais premissas do programa de Roosevelt e, de maneira organizada, mesmo através de um terceiro Partido, querem evitar seja o país jogado impetuosamente na estrada da reação e da agressão, para onde está sendo arrastado pela Doutrina Truman.
O Plano Marshall foi, portanto, concebido pelos seus autores e sustentadores, não apenas como meio de alcançar o determinado objetivo de um bloco ocidental na Europa, mas também como meio de abrandar a crescente oposição ao programa de expansão imperialista. Pretende ele ocultar as específicas intenções antissoviéticas contidas no programa, bem como seu intuito intervencionista para toda Europa, sob a alegação de deixar aos europeus a tarefa de preparar o próprio piano, e para criar uma espécie de comissão central, através da qual os Estados Unidos operariam, sem revelar de maneira demasiado flagrante, a sua direta intervenção nos negócios das outras nações, como o fizeram na Grécia e na Turquia.
Tais manobras não deveriam ser permitidas para ocultar a ver dadeira natureza do Plano Marshall, que é, em si mesmo, um excedente da Doutrina Truman e a posterior aplicação dela. Como o Tratado das Quatro Potências iniciado por Vandenberg e Byrnes, e sustentado por Marshall na Conferência de Moscou, — esse novo Plano destina-se a ser um atalho para a solução alemã conjunta e para os reais problemas da reconstrução democrática na Europa, ao mesmo tempo em que alarga os objetivos da diplomacia do dólar na esfera ocidental da Europa. Dirige-se ele especialmente ao problema da criação de um bloco europeu ocidental, centralizado no Ruhr e devendo a sua existência e lealdade ao capital americano, da mesma forma que o alvo imediato do discurso de 12 de março sobre a Doutrina Truman era o estabelecimento dos Estados Unidos como potência mediterrânea permanente, através da penetração e controle da Grécia e da Turquia.
O Plano Marshall é dirigido, não apenas contra a União Soviética e as democracias do Este Europeu, mas também contra os movimentes democráticos da Europa Ocidental, inclusive a Grã-Bretanha, as soberanias nacionais, os recursos econômicos e as esferas coloniais dos poderes capitalistas dirigentes. É um desafio lançado, não somente à cooperação dos Três Grandes, não somente às aspirações democráticas de toda Europa, como também aos esforços da Grã-Bretanha e da França para vencer suas crises internas, recuperar a total independência nacional e retomar as antigas posições de potências dominantes.
A origem e o desenvolvimento do Plano mostram que ele não passa de alternativa do imperialismo americano para um ajuste alemão ao longo das linhas do acordo de Potsdam. Descende em linha direta do discurso de Byrnes em Stuttgart há um ano atrás, durante a Conferência dos Chanceleres em Paris, quando o então Secretário de Estado fez as primeiras afirmativas a respeito da política geral que conduzia à partilha da Alemanha, ao seu esfacelamento em Estados semiautônomos e ao exclusivo controle anglo-americano do arsenal do Ruhr.
Ao longo dessa atuação, o controle na zona anglo-americana foi conduzido, com o objetivo de tornar os referidos zonas "autossuficientes” por volta de 1950, seguido pouco depois da Conferência de Moscou pela instalação de uma administração ou governo alemão ocidental separado, sob o disfarce de um Conselho Econômico. O Plano Marshall, na sua forma atual, já fora apresentado, em estado embrionário, em alusões e conversas de bastidores, pela delegação americana durante a Conferência de Moscou, quando dizia que, devido à iminente "falência" do conclave, os Estados Unidos continuariam os próprios planos para a Europa Ocidental. As alusões do informe de Marshall sobre a Conferência de Moscou continham os contornos essenciais desses planos, especialmente os discursos de Dulles, — o político do cartel republicano que foi o principal conselheiro de Marshall em Moscou e que, segundo consta, instava pela imediata interrupção da Conferência, logo depois do discurso de Truman sobre a "Doutrina".
O Plano Marshall é inerente à corrida americana, que ampara toda a sua diplomacia na Europa para a liderança na Europa Ocidental apoiando-se no controle das indústrias do Ruhr, e daí penetrando nas decisivas posições econômicas da França e dos Países Baixos e nas de suas colônias.
A despeito de sua pretensão de líderes dos poderes "ocidentais", os defensores da Doutrina Truman estão resolvidos a arrebatar o controle do Ruhr das mãos dos britânicos, privando-os de sua principal base na Europa, tornando natimorta a declaração de Bevin sobre a iminente "socialização" do Ruhr, imobilizando, ao mesmo tempo, a França num bloco sob controle americano.
O projeto de um bloco europeu ocidental é o mais ardiloso de todos os projetos reacionários, pois que é óbvio que tal bloco somente pode ser erigido à custa de novo fortalecimento da ameaça imperialista alemã à França e ao resto da Europa, à custa da política americana de intervenção e penetração através das corporações dos países participantes do bloco, e à custa da reconversão e da paz do mundo. Se Bevin, solidamente amparado pelos conservadores ingleses, se atira ao projeto, — que ele também vê como arma que pode ser usada contra os rebeldes do Partido Trabalhista, — é fácil a qualquer pessoa perceber que a "colaboração" com os Estados Unidos na Alemanha levou apenas a maior caos no Ruhr e a constante submissão dos ingleses à política americana. E a cada aumento da pressão da reação americana, inclusive intervenção na política francesa, a resistência política cresceu a tal ponto na França, que se tornou o principal obstáculo à realização do projeto favorito de Wall Street.
O Plano Marshall é uma tentativa para vencer tal resistência, forçando a Inglaterra e a França a assumirem a responsabilidade da organização do bloco, sob pena de serem inteiramente excluída do auxílio econômico americano. É uma tentativa de organizar um bloco ocidental pela chantagem, forçando pelo menos os primeiros passos nesse sentido antes; que os Ministros do Exterior se tornem a reunir em novembro, com o fim de demonstrar que a alternativa política do entendimento entre os Três Grandes é possível, que já está, de fato, em movimento.
O Plano Marshall procura acompanhar rapidamente o ritmo dos sucessos iniciais do Doutrina Truman na França, onde os comunistas ficaram fora do governo, e a vitória de Bevin contra os "rebeldes” na Conferência do Partido Trabalhista em Margate, antes que a oposição reaja. Oferecendo suborno em larga escala, e acenando à Inglaterra com a recompensa de que lhe seria permitido assumir a liderança do bloco, têm esperanças de torná-lo realidade, forçando uma ação decisiva final contra a União Soviética bem antes da Conferência de novembro.
Da mesma forma que a delegação americana foi à Conferência de Moscou sem nenhuma intenção de conseguir solução, porém ao invés disso preparando oportunidade para censurar a Rússia pela “falência", — todos os problemas e dificuldades são usados para criar a impressão de que entendimento com a União Soviética é impossível. Acontecimentos políticos na Europa Ocidental são explorados como evidência da "intervenção" soviética e divisão da Europa, muito embora Stalin, Molotov e outros interlocutores desmoralizem os boatos de perigo de guerra, insistam na possibilidade e desejabilidade de entendimento e cooperação, resistam a toda provocação de desunião e insistam em negociações para que se realizem os objetivos das alianças do tempo de guerra.
Enquanto a palavra oficial neste lado do Atlântico é constantemente a respeito de preparativos guerreiros, de novas armas de guerra, de bases estratégicas e unificação de armamentos com outros países, a União Soviética reduz o seu exército para o efetivo de tempo de paz, além de abolir a pena capital, sob a importante alegação de que "A paz está assegurada", — calma e poderosa réplica às constantes fanfarronadas e lisonjas, que se tornaram a marca da diplomacia americana.
A principal estrategia levada avante pelo Plano Marshall esbarra nos movimentos e aspirações democráticas, na independência nacional e na segurança de toda a Europa. A audaciosa atuação da pirataria do dólar é nova tentativa de dividir a Europa e o mundo erro dois blocos hostis, pondo em perigo, ao mesmo tempo, o bem estar e a segurança dos povos americanos.
Os chamados aspectos "positivos" do Plano, foram calculados para iludir os povos, para aplacar o crescente desassossego popular interno e evitar, tanto quanto possível, o inevitável recuo que, sob a iniciativa e a pressão americanas, traria o expansionismo americano, resultando na rutura final das restantes combinações dos Trés Grandes durante a guerra.
Ele é uma tentativa para solapar, com novas ilusões, e esfacelar, com novos divisionismos, o desabrochante movimento de Wallace com seu programa de ajuda econômica para reconstrução da Europa em larga escala, apoiado num entendimento fundamental com a União Soviética, oferecendo, tanto no seu programa interno como no externo, o dilema aos derrotistas da paz e ao apressamento da depressão da Doutrina Truman.
Tal o sentido do Plano Marshall, e a tal a direção que os comitês bipartidários e os governamentais, instalados pelo Presidente, tentarão empregar. Até quando será possível seguir por esse caminho é o que se há de ver, dada a determinação da democracia europeia de completar a reconstrução e reconversão através da cooperação com a União Soviética, tanto quanto com os Estados Unidos e a Inglaterra. O esforço de Bevin para tomar tempestuosamente a Europa Ocidental esbarrou na relutância e, até, na imediata recusa por parte da maioria das nações europeias em participar de projeto do qual esteja excluída a União Soviética e onde percebem, implícita, a ameaça à próprio soberania e segurança.
De seu lado, a União Soviética, — concordando em discutir preliminarmente com a Inglaterra e a França a reconstrução conjunta da Europa, — provou que não deve ser provocada por nenhumas novas manobras calculadas para trazer completa rutura da aliança do tempo da guerra. Seu consentimento em participar das conversações preliminares em Paris era, não somente a repulsa aos advogados de um bloco ocidental, como também permitia nova oportunidade para que se tomasse conjuntamente a tarefa coletiva da reconversão e reconstrução democrática da Europa, tendo em vista o ajustamento, pelos Quatro Grandes, da questão alemã, em novembro.
É fora de discussão que os nossos imensos recursos devem ser empregados para melhorar nossas próprias condições de vida e para ajudar a reconstrução do mundo, através de grandes empréstimos e arrendamentos governamentais. Porém é claro como água que as forças de ambos os Partidos, que atualmente controlam a Administração e o Congresso, estão entregues a fins opostos aos acima citados: querem o rebaixamento dos standards econômicos e democráticos e a expansão americana no estrangeiro. É isto que precisamos bloquear e alterar, se o país deve ser salvo da reação e da agressão, implícitas na Doutrina Truman e seus vários compromissos.
O outro lado do dilema — defesa das nossas liberdades democráticas e meios de vida, cooperação mundial para a reconstrução e a paz, — está bem representado na luta levada a efeito pelos sindicatos contra a lei de trabalho escravo, assim como pelos progressistas partidários de Roosevelt—Wallace. A junção dessas fôrças numa única coalização progressista e sua rápida transformação em Partido popular, independente da liderança reacionária de ambos os Partidos maiores, levar-nos-á pelo caminho da reconversão mundial e da paz.
“Um Partido que não possui a teoria marxista-leninista vê-se obrigado a andar às tontas, perde a segurança em seus atos e não é capaz de conduzir a classe operária para a frente.”
Da “História do Partido Comunista” (bolchevique) da URSS. Ed, Vitória),
Inclusão | 27/08/2013 |