Greve na MABOR

5 de Julho de 1974


Fonte: Jornal Combate, nº 2, Portugal.
Originais enviados por : Manoel Nascimento.
Transcrição e HTML:
Fernando A. S. Araújo, Abril 2008.
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COM BASE EM INFORMAÇÕES RECOLHIDAS REDIGIMOS A SEGUINTE INFORMAÇÃO:

No dia 30 de Maio às 21 horas os operários da Mabor decidiram e entraram em greve, única forma que aceitaram como válida para impor as reivindicações que haviam feito à administração.

Já antes do dia 2 de Abril o descontentamento era grande e traduzia-se em quebras de produção e recusa de execução de qualquer tarefa que saísse do âmbito restrito das funções estabelecidas no Contrato Colectivo de Trabalho.

No dia 12 de Maio foi apresentado à administração da Mabor, um caderno reivindicativo que passou a ser debatido entre a Comissão da Empresa, por parte dos operários, e um representante da empresa. Após várias reuniões com o delegado da administração, esta apenas cedeu em alguns pontos mantendo uma atitude intransigente em relação aos outros. O aumento que a administração pretendia dar aos operários traduzia-se em que a diferença de salários entre os mais bem pagos e os mais mal pagos seria ainda maior.

Os operários indignados e totalmente em desacordo com esta decisão da administração, fizeram questão em comunicar-lhes clara e inequivocamente qual era a sua posição, avisando-a que «não deveria fazer os aumentos assim».

OS OPERÁRIOS ORGANIZAM-SE

No dia 30 de Maio 750 operários químicos iniciaram uma greve.
Os grevistas ocuparam a fábrica, organizando-se em piquetes de vigilância e protecção das instalações e material fabril. Dividiram-se em três turnos que se revezam sucessivamente durante 7 dias da semana.

A DIVISÃO DOS OPERÁRIOS É APROVEITADA PELA ADMINISTRAÇÃO

Alguns capatazes e trabalhadores mensais — «os casacos amarelos» — tentaram dividir e semear a confusão nos grevistas. Imediatamente os operários compreendendo a traição destes expulsaram-nos das instalações fabris.


Entretanto os operários metalúrgicos não se solidarizando com a greve permaneceram em casa não participando na sua organização. No dia 4 telefonemas anónimos convocaram os trabalhadores não solidários com a greve para uma concentração junto a fábrica onde foram incitados a entrar pela força contra os seus colegas grevistas. Só a acção de operários conscientes impediu a consumação deste crime.

OPERÁRIOS DE FABRICAS VIZINHAS TOMAM POSIÇÃO

Atitude diferente tomaram os trabalhadores do sindicato de hotelaria (cerca de 8) que se solidarizaram com os seus colegas.
Também os operários da ITA e DAP, fábricas vizinhas da Mabor e também pertencentes ao grupo Borges & Irmão, apoiaram os seus camaradas permanecendo durante algum tempo em greve. Também aqui a administração tentou dividir os operários, assegurando-lhes que as «regalias» concedidas à Mabor ser-lhes-iam extensíveis.

A SOLIDARIEDADE ESPALHA-SE A OUTRAS FABRICAS DO PAIS ONDE OS OPERÁRIOS CONTRIBUEM COM UM DIA DE SALÁRIO

A administração tentou a manobra de vencer pela fome os trabalhadores em greve. No dia 7 de Junho, dia normal de pagamentos, os salários não foram distribuídos.

Entretanto os operários da SACOR — Porto, solidarizando--se com os seus colegas contribuíram com um dia do seu salário. Também de outros pontos do País, nomeadamente de Lisboa, se têm recebido quantias que permitem que os operários da Mabor possam prosseguir a sua luta ajudando a impedir o sucesso das manobras reaccionárias da administração.

No dia 2 de Junho os operários em greve fizeram uma manifestação no Porto dando a conhecer a sua luta que a imprensa burguesa tem silenciado.


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