Eleições no Sindicato dos Electricistas do Sul

5 de Julho de 1974


Fonte: Jornal Combate, nº 2, Portugal.
Originais enviados por : Manoel Nascimento.
Transcrição e HTML:
Fernando A. S. Araújo, Abril 2008.
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Num momento em que a grande maioria das direcções sindicais segue uma linha reformista de submissão aos interesses da burguesia, tem muito interesse para todos os trabalhadores o conhecimento do programa da Lista A do Sindicato dos Trabalhadores Electricistas do Sul. Esse programa, do qual seguidamento transcrevemos duas passagens, rompe claramente com a inha reformista.

«1.º O QUE PROPOMOS COMO DIRECÇÃO

Camaradas:

Estamos conscientes do que serão as dificuldades para a aplicação prática e defesa intransigente dos princípios que referimos atras, mas estamos também conscientes, que a sua aplicação é condição indispensável e única, para a defesa dos interesses fundamentais de todos os filiados do nosso Sindicato.

Assim, tendo em consideração que o nosso programa, será aplicado num período de transição do fascismo para a democracia (?) burguesa, e não esquecendo, que essa transiçção, não foi conseguida através de uma revolução que necessariamente educaria mais os trabalhadores explorados, mas antes, através dum golpe de estado militar por parte duma facção da burguesia contra outra da mesma burguesia, logo, este período, não será suficiente para esclarecer quais os processos mais correctos de acção conjunta a nível de fábrica e de sindicatos, tendo como objectivo, a unidade de todos os trabalhadores explorados na luta contra os exploradores.

«2.º UNIDADE DE ACÇÃO COM OUTROS SINDICATOS

Como é evidente, o caminho da unidade passa necessariamente pela demarcação, isto é, só ao fim de definirmos o que cada um diz defender (pois a pratica o provará), e de definirmos os objectivos que nos propomos atingir e. admitindo que os objectivos sâo idênticos, nós poderemos definir, os métodos de colaboração que levarão à unidade de todos os trabalhadores explorados neste caso, através dos seus respectivos sindicatos, queremo-nos referir, a todos os sindicatos e não só àqueles que actualmente fazem parte da inter-sindical.

Queremos agora referir, que o nosso sindicato faz actualmente parte da intersindical, mas segundo informações, não tem havido grande colaboração por desacordo de método ou, na pior das hipóteses, de linha sindical.

Julgamos importante referir já nesta altura, que nós temos uma opinião referente à intersindical que necessariamente se refere à sua actual linha de orientação que, na nossa opinião, é abertamente uma tinha de colaboração de classes, que entra em contradição com os princípios que nós expusemos e defendemos.

Atendendo no entanto que não pretendemos que nos acusem de divisionistas e demagogos, nós definimos os pontos em que estamos (neste momento) em desacordo com a intersindical:

1.º — Discordamos dos seus regulamentos pois condiciona a entrada a qualquer sindicato, sem definir quais e em que circunstâncias, logo, como consequência, contribui para a divisão dos sindicatos e dos trabalhadores. Pois, concretamente só poderão aderir aqueles que à priori aceitem a linha da intersindical!... «Esquecendo» assim uma recomendação de um grande dirigente operário — LENINE— que nos ensinou e a História provou, que um sindicato como organização primária da classe operária, deve estar aberto a todos os operários e trabalhadores explorados independentemente da sua crença religiosa ou filiação política.

2.º — Discordamos abertamente, de algumas tomadas de posição em relação a greves, que dizem ser fomentadas pelo fascismo e pela reacção, não dando porém qualquer prova irrefutável mas antes, condenam todas as greves que são decididas sem a sua colaboração ou o seu consentimento. «Esquecem-se» assim, doutro grande ensinamento do maior dirigente da Classe Operaria (MARX), que nos ensinou, o

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dever de apoiar todas as lutas operárias, ainda que sejam decididas contra a nossa opinião e mesmo depois da nossa advertência pois, embora devamos defender o que julgamos mais justo, o mais importante é a solidariedade de classe. Aliás, foi através da luta e continuará a ser, com derrotas mas também com vitórias, que a Classe Operária aprendeu a dirigir não só greves e sindicatos mas concretamente um país, e aprende também, a reconhecer quem são os seus verdadeiros amigos (aliados) e defensores.

3.º — Não aceitamos o silêncio que tem havido por parte da intersindical, que diz representar à volta de 90 sindicatos, logo, representar quase todos os sectores de actividade, e quando há milhares de despedimentos (isto sim, manobras da reacção) não houve a iniciativa de protestar publicamente se não até, apelar para a solidariedade de todos os sectores. Não devemos ainda esquecer, que quando um operário é despedido é um atentado contra toda a Classe Operária e consequentemente, mais uma família que ficará na miséria, pois a nossa única riqueza, é a força de trabalho que vendemos diariamente mas que, forçosamente, também nos dará uma força tal que quando unida e bem dirigida, esmagará todos os exploradores, enquanto que tal, e nos emancipará.

4.º —Discordamos por fim do apoio que têm dado, e dos apelos que têm feito para dar apoio ao Governo Provisório, quando afinal este, o mais que fez pelos trabalhadores foi decretar uma salário mínimo de 3300$00, o qual, independentemente de nós reconhecermos ser insuficiente, o que mais nos revolta, e que a sua aplicação (?) tem levado a milhares de despedimentos e o Governo, nem só uma vez exigiu a sua aplicação ou decretou sanções para quem não aplicasse tal medida.

Mais ainda, quando os trabalhadores decidem fazer greve por aumentos de salários e melhores condições de trabalho a intersindical condena abertamente essa greve dizendo que, na maioria dos casos, as greves arruinam a economia nacional «esquecendo-se» de referir, que se os actuais salários continuassem por mais tempo nos levariam progressivamente a morte.»


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