As Operárias da Sogantal contam a sua luta
Entrevista com operárias da SOGANTAL, fabrica de confecção de fatos de treino, no Montijo

21 de Junho de 1974


Fonte: Jornal Combate, nº 1, Portugal.
Originais enviados por : Manoel Nascimento.
Transcrição e HTML:
Fernando A. S. Araújo, Fevereiro 2008.
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— Quando se iniciou a vossa luta?

— Por volta dos fins de Maio. entregámos à gerência o nosso caderno reivindicativo onde exigíamos, entre outras coisas, um mês de férias pagas, um mês de subsídio, 13º mês e um aumento de 1250$00 sobre o salário mensal anterior que era de 1600$00 máximo. Quanto ao horário de trabalho não fazíamos exigências mantendo as 45 horas semanais.

— Quantas são vocês e como se estabeleceram os vossos contactos com a Direcção?

— Somos 48 mulheres. Elegemos uma comissão e uma delegada sindical que apresentaram ao director francês e ao gerente português o nosso caderno.

— Qual a resposta?

— Eles disseram que tinham de comunicar com a França e depois disseram que de lá se tinham recusado a satisfazer as nossas reivindicações.

— Que fizeram?

— Em reunião de todas as operáriais decídimos entrar em baixa de produção, fazendo mais ou menos duas horas de trabalho distribuídas pelo dia todo.

— Como reagiu a direcção?

— Entretanto soubemos que a fábrica ia fechar. Nessa altura a Comissão foi ao Sindicato e ao Ministério do Trabalho mas não se conseguiu nenhuma resposta que nos esclarecesse. Depois veio um delegado de Setúbal do Ministério do Trabalho e um delegado do Sindicato fazer uma reunião com a comissão e informar que da Franca estavam dispostos a pagar 3300$00 porque eram obrigados pela lei do Governo Provisório, mas que no resto só estavam dispostos a dar três semanas de férias (anteriormente tínhamos duas) e duas semanas de subsídio (que já tínhamos antes). Nessa altura nós reunimo-nos e decidimos manter as nossas exigências. Então da França veio uma ordem de encerramento da fábrica a realizar no dia 31 de Julho.

Entretanto, na sexta-feira, dia de pagamento da quinzena eles disseram-nos que não nos pagavam pois quem não trabalhava não recebia o que era mentira pois nós estávamos a trabalhar mas num ritmo mais lento.

Na quarta-feira seguinte informámos a gerência de que, ou nos pagava dentro de oito dias ou então começávamos a vender os fatos pois tínhamos de comer.

Quando acabou o prazo por nós imposto, houve uma reunião no Ministério das Finanças onde foram a comissão e a delegada sindical. Lá informaram que havia um processo contra a gente e que quanto ao pagamento, eles eram obrigados a pagar mas isso levava muito tempo e nós não podíamos esperar.

— Que decidiram então?

Então começámos a vender os fatos em vários locais.

— Qual o apoio da população à vossa luta?

A população tem-nos apoiado, havendo até pessoas que compram fatos sem precisar deles. Só algumas pessoas, entre elas, uma encarregada é que começaram a espalhar coisas sobre a gente. Ali como em todas as fábricas há dois partidos o das encarregadas e o das operárias. Até lá foram da CDE dizer que a gente devia trabalhar mas depois acabaram por perceber que a gente tinha razão.

— E entretanto como reage a gerência a tudo isso?

— O director francês abandonou a fábrica e o gerente português já anda à procura de emprego.

— Então como funciona agora a fábrica?

— Estamos sozinhas a trabalhar na fábrica. Começámos a trabalhar com mais força o material que havia em armazém e vamos vender os fatos até arranjar dinheiro para pagar os salários (já com os aumentos que exigimos) desde 15 de Maio e depois estamos também a pensar mudar o tipo de confecção pois os fatos de treino em Portugal não têm muita saída.

— Mas os fatos eram para vender em Portugal?

Os fatos depois de feitos iam todos para a França. A gente só os cosia pois eles já vinham cortados. Agora estamos a pensar pedir um empréstimo ao Fundo do Desemprego, para onde sempre descontámos, para comprar uma máquina de corte.

— Qual era a produção diária?

— Para cima de 800 fatos.

— Sabem a como são vendidos no mercado nacional fatos desse tipo?

— Por volta de 700$00.

— Como eram as vossas relações com as encarregadas?

— A encarregada de que já falámos e o gerente que são portugueses, à frente das operárias só falavam em francês. Agora decidimos que as encarregadas devem trabalhar à máquina como todas nós.

— Havia na fábrica pessoal de escritório?

— Eram o director e o gerente.

— Então agora, que eles se foram embora, quem trata desses assuntos?

— Nós tomámos conta da contabilidade. Algumas de nós têm o curso comercial completo ou quase e há outras pessoas que estão dispostas a ajudar-nos.

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