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Fonte: Jornal Combate, nº 1, Diretor Interino: M. Fernanda Dias. |
Antes do golpe de 25 de Abril, durante o golpe e desde então existiram sempre dois grandes campos de luta.
A luta dos trabalhadores portugueses e dos povos oprimidos e explorados das colónias constitui um desses grandes campos, que não tem por finalidade adaptar o aparelho governamental da burguesia aos problemas políticos e económicos que surgem aos exploradores, mas sim acabar com a própria exploração.
Do lado de todas as classes e camadas exploradoras sentia-se a necessidade de uma remodelação urgente das instituições governamentais e do próprio sistema de governo, devida fundamentalmente a três questões:
— A situação insustentável da burguesia portuguesa nas colónias, a incapacidade em que se viu de vencer militarmente os povos coloniais, foi um dos factores que tornou mais imperiosamente urgente para a burguesia a reconversão da sua política e que a levou a procurar, com a paz militar, chegar a soluções políticas e económicas neo-coloniais.
— As múltiplas greves e lutas que os trabalhadores portugueses vinham a desenvolver mostravam à burguesia que o aparelho repressivo do marcelismo estava já completamente inadequado para tentar conter e reprimir essas greves. A burguesia queria, pois. instaurar uma «liberdade de greve» ao mesmo tempo que punha à frente da generalidade do aparelho sindical elementos reaccionários, contrários á prática da greve.
— As classes e camadas exploradoras precisavam também de adaptar o aparelho governamental para a resolução de problemas económicos graves que se vinham a acumular sem que a administração de Marcelo Caetano lhes conseguisse dar qualquer solução. A inflação, a necessidade de acrescer o desenvolvimento industrial, as relações com o Mercado Comum, a emigração impunham uma reorganização rápida e em grande escala das instituições do governo.
De um lado. temos os trabalhadores lutando activamente pela resolução dos seus problemas, exigindo de imediato uma melhoria do nivel de vida e de trabalho, e alargando a luta contra a própria exploração capitalista Do outro lado temos os exploradores, cujo problema essencial é o de tentar garantir em novas condições a exploração dos trabalhadores coloniais e dos trabalhadores portugueses.
O grande problema que preocupa a burguesia portuguesa e que a levou ao 25 de Abril foi: como manter a exploração capitalista e adaptá-la ás novas condições? Por isso. as massas trabalhadoras não tiveram, nem podiam ter qualquer papel activo no golpe de 25 de Abril, porque ele não se destinava a acabar com a exploração, mas a perpetuá-la.
O golpe do 25 de Abril foi pensado em esferas das classes dominantes, em estreita ligação com grupos financeiros; e foi executado na pratica por capitães e majores originários de uma burguesia média ou a ela ligados e canalizado politicamente pelos generais da Junta, dos quais uns são ligados à grande finança e os outros são mesmo seus representantes directos.
No seu combate contra a exploração capitalista, os trabalhadores criam formas de organização revolucionárias, que integram activamente todas as massas trabalhadoras em luta. O 25 de Abril não se apoiou nas organizações de luta dos trabalhadores e, pelo contrário, esforçou-se por afastá-las de qualquer participação no golpe. Se exceptuarmos o assalto às sedes da Pide e a libertação dos presos de Caxias, Peniche e da Pide do Porto, que foi conseguida de uma maneira rápida e global pela acção das massas populares, em todos os outros casos nunca os trabalhadores tiveram nem qualquer controle nem a mínima interferência no desenrolar do golpe.
Em resumo: o 25 de Abril não assentou em formas organizacionais produzidas na luta dos trabalhadores, mas sim nos oficiais do exército, numa organização burguesa rigidamente constituída que nada tem a ver com a nossa luta. E nem podia ser de outra maneira, pois o golpe de 25 de Abril não se integra na luta dos trabalhadores contra o capitalismo, e sim nas tentativas dos capitalistas para continuarem a exploração dos trabalhadores em novas condições.
O carácter exclusivamente militar do golpe não constituiu mistério para ninguém no 25 de Abril e nos momentos seguintes. Só depois, essas correntes políticas começaram a afirmar que o 25 de Abril não fora um golpe militar e sim uma acção em que as massas trabalhadoras teriam intervindo com preponderância.
Se alguns sectores políticos julgam hoje que os trabalhadores esqueceram já o que se passou mês e meio atrás e nos tentam convencer de que interviemos activamente no golpe do 25 de Abril, isso deve-se ao facto de nos quererem vincular às decisões tomadas pelo actual governo, sabotando assim abertamente o desenvolvimento da luta dos trabalhadores.
Mais francos são os generais da Junta (Spínola, no discurso ao Conselho de Estado, ou Galvão de Melo na televisão, por exemplo bem como Salgueiro Maia, um dos mais importantes dirigentes do Movimento das Forças Armadas, em várias entrevistas) que reivindicam para as forças armadas o exclusivo do planeamento e o exclusivo da realização material do golpe. Não se deve tal franqueza ao amor da verdade, mas tão só à vontade de se afirmarem bem alto como os únicos autores do golpe de 25 de Abril e, portanto, como os «libertadores». É falso serem libertadores. A libertação das massas trabalhadoras, só os trabalhadores a conseguirão, e não capitães nem generais de qualquer Junta. Mas é verdade serem eles os realizadores do 25 de Abril O seu a seu dono. e não é dessa glória mas de outras que a classe operária e as massas trabalhadoras precisam.
A luta contra a exploração capitalista, que se travava no dia 24 de Abril, não parou no dia 25 e continuou a travar-se no dia 26. O golpe de 25 de Abril não podia acabar com a luta contra a exploração, porque não se destinava a acabar com a exploração. Grande parte des greves que deflagraram depois do dia 25 de Abril vinham já a ser preparadas antes da data do golpe militar, o que mostra que a luta dos trabalhadores se desenvolveu e se desenvolve num campo completamente distinto do desse golpe. O campo em que deve assentar todo o nosso combate é o da luta contra a exploração.
Não sendo uma acção dos trabalhadores, mas um golpe militar, e não assentando na organização autónoma das massas trabalhadoras, mas na hierarquia rígida das forças armadas, o governo saído do 25 de Abril não poderá nunca desenvolver-se no sentido da libertação do trabalho, no sentido da instauração de formas económicas e sociais do comunismo e da luta por uma sociedade sem classes. Nem na Junta de Salvação Nacional, nem no Governo Civil Provisório, nem no Movimento das Forças Armadas existe sequer um mínimo vestígio da organização autónoma dos trabalhadores. Em nenhuma das Instituições do novo regime há qualquer possibilidade para o desenvolvimento da nossa luta.
O 25 de Abril Instaurou uma liberdade de partidos e a liberdade de expressão — ou melhor, a liberdade de uma certa expressão. Mas, ao mesmo tempo, repete em todos os tons e pelas mais variadas correntes políticas que o proletariado e todos os trabalhadores em geral têm ganhando pouco mais, de produzir muito mais. Afirmam admitir a greve mas, ao mesmo tempo e a várias vozes, desencadeiam uma violenta campanha contra as greves. Em suma, afirmam que primeiro vem a democracia parlamentar e só depois o aumento dos salários e uma certa reorganização do trabalho.
Mas o trabalhador nem come democracia nem trabalha no parlamento. Os nossos interesses imediatos consistem no aumento dos salários e na reorganização do trabalho nas fabricas existentes. E estes não são os interesses futuros, mas os mais imediatos. Porque os interesses futuros não são o aumento dos ordenados, e sim o fim do trabalho assalariado e da exploração capitalista; nem são a reorganização das fábricas existentes, mas sim o desenvolvimento de novas relações sociais de produção, a instauração de um sociedade comunista.
A nossa luta, nas novas condições em que a burguesia se organizou depois do 25 de Abril, e o desenvolvimento do combate que travávamos contra a burguesia antes do golpe militar. Só ai, no combate contra a exploração — e não nas novas instituições do governo burguês — é que a nossa luta se deve e pode desenvolver.
Todas as classes activamente interessadas no capitalismo encontram ampla expressão e liberdade nas Instituições do actual governo. Todos os explorados são excluídos dessas instituições. A fronteira é, pois, muito nitlda.
Desta situação resulta que a luta da classe operária e dos restantes trabalhadores, que desde 1962 vinha somente a deflagrar em lutas isoladas entre si, se desenvolve agora a nível nacional numa luta geral, vasta, cada vez mais aguda e em que as lutas particulares se relacionam sempre mais, na constituição de um processo único. É esta, sob o ponto de vista dos interesses dos trabalhadores, a característica principal da actual situação. A luta dos trabalhadores em Portugal deixou de ser constituída por uma sucessão de lutas particulares interrompidas por refluxos mais ou menos longos, e desenvolve-se agora numa luta geral em que todas as lutas particulares tendem a relacionar-se cada vez mais estreitamente.
Do desenvolvimento da luta geral dos trabalhadores a nível nacional resulta a função revolucionária que virá a assumir este jornal e o restante trabalho a ele ligado.
Este jornal propõe-se ser um agente activo na ligação entre si das várias lutas particulares, divulgando essas lutas e nomeadamente as experiências organizativas delas resultantes e acelerando por este modo o desenvolvimento da luta dos trabalhadores enquanto luta geral. É dessas lutas e do desenvolvimento da luta geral que resultará toda a elaboração do jornal e o próprio aprofundamento das posições aqui assumidas. Este jornal é o primeiro dos eixos do nosso trabalho.
Estreitamente ligado com o jornal, está o trabalho de fomentar a organização de reuniões de massas entre trabalhadores, soldados e marinheiros, ou trabalhadores com soldados e marinheiros inseridos em lutas particulares diferentes. Sabemos que é um trabalho difícil, que exige não só a preparação de inúmeras condições materiais, como a defesa contra a repressão da burguesia. Mas não há desenvolvimento e generalização da nossa luta sem a efectivação de reuniões de massas entre trabalhadores que têm diferentes experiências particulares de luta. É este o segundo eixo do nosso trabalho.
Todo o nosso trabalho tem como único ponto de referência as posições práticas assumidas na luta dos trabalhadores. E tem como único objectivo contribuir para a unificação das várias lutas particulares numa luta geral das massas operárias e restantes trabalhadores. Não somos um partido, nem visamos constituir qualquer partido na base do trabalho ligado com este jornal. Elementos ou grupos de quaisquer partidos ou sem partido são colaboradores neste trabalho desde que desenvolvam, na luta dos trabalhadores, posições práticas revolucionárias.
A análise da luta dos trabalhadores no momento actual e a experiência dessa luta motra-nos que uma posição revolucionária na luta de classes, no Portugal de agora, se define minimamente nos pontos práticos seguintes:
Várias correntes tentam travar o desenvolvimento da luta dos operários e de todos os trabalhadores sob o pretexto de que ela pode assustar alguns generais, ou alguns capitães, ou alguns ministros. Mas isso corresponde a desarmar os trabalhadores e entregá-los de pés e mãos amarrados à espera da piedade da burguesia! Os trabalhadores não depositam em outros a sua libertação. Só a luta dos trabalhadores pode servir os interesses dos trabalhadores, e a nossa única posição é reforçar sempre e cada vez mais a nossa luta autónoma. A contra-revolução, no Chile ou em qualquer outro país, triunfou sempre por a luta dos trabalhadores não se ter desenvolvido de modo suficientemente amplo e profundo, e não por essa luta ter ido longe demais. O único obstáculo à reacção, quer seja a do antigo regime quer a do actual governo, é o desenvolvimento da luta operária autónoma.
Os trabalhadores portugueses querem a independência imediata e incondicional para todas as colónias. Mas não ignoramos que a independência não resolve, por si, o problema da exploração dos trabalhadores africanos. Repudiamos todas as perspectivas neo-coloniais que orientam a linha de actuação da Junta de Salvação Nacional e do Governo Provisório Civil. Mais grave ainda é a continuação da exploração neo-colonial através dos grandes imperialismos mundiais. Mas não podemos esquecer também a existência de exploradores africanos, que vêem a independência política das colónias como uma possibilidade para explorarem um pouco mais os trabalhadores de África. Por isso, o apoio dos trabalhadores portugueses à independência imediata e incondicional das colónias não pode deixar de passar pelo apoio activo e militante aos explorados africanos na sua luta contra todas as formas de exploração e contra todos os exploradores. Essa luta tem como um dos pontos fundamentais o combate ao racismo, nomeadamente o racismo contra os povos das colónias e contra os trabalhadores africanos emigrados em Portugal. Para que a luta anti-colonial se desenvolva como uma solidariedade intima entre os explorados, é necessário uni-la com a luta dos trabalhadores na produção, isto é, com a luta nas fábricas e nos campos, e uni-la também com a luta nos quartéis. A luta anti-colonial conduzida sobre a base da luta na produção é o eixo do desenvolvimento revolucionário do anti-colonialismo.
Os trabalhadores não lutam por delegação — lutam eles próprios. É na acção prática colectiva dos trabalhadores durante as lutas quer por reivindicações económicas, quer pela reorganização do trabalho, que se criam formas de organização de massas que constituem a base de desenvolvimento da revolução comunista. Só a nossa luta prática constitui o processo da revolução social. Por isso, querer afastar os trabalhadores da luta prática, considerando que as discussões com os patrões devem estar fundamentalmente a cargo de uma burocracia sindical especializada em contratos de trabalho, é pretender castrar a própria base da revolução social.
As burocracias sindicais isoladas das massas trabalhadoras pretendem, em todos os casos, convencer os trabalhadores a não lutarem praticamente, a continuarem a produção inseridos nas estruturas capitalistas enquanto os senhores delegados sindicais, no segredo das conversações com o patronato, e devidamente remunerados pelos trabalhadores, tentam chegar a acordos e conciliações. Nós devemos combater as burocracias sindicais, que tentam sempre sabotar a luta prática das massas trabalhadoras porque sabem que serão varridas e perderão a sua razão de ser com o desenvolvimento dessas lutas práticas. Mas devemos inserir-nos nos processos de eleição de delegados sindicais, porque esse nível do aparelho sindical está ainda directamente ligado às massas trabalhadoras e é possível, por isso, em muitos casos, que venha a constituir uma parte integrante da luta de massas e que a dinamize.
A diminuição do tempo de trabalho faz parte da luta reivindicativa que visa melhorar as nossas condições de vida e diminuir os lucros do patrão. Mas essa diminuição do tempo de trabalho não é só uma medida de protecção da saúde do trabalhador e de defesa imediata contra o acréscimo da exploração. O aumento do tempo disponível será também uma condição importante para aumentar a participação activa das grandes massas dos explorados na discussão das formas de luta e de todos os problemas gerais que nos interessam, se sobre essa base conduzirmos um trabalho de organização de reuniões de discussão. Esse trabalho de organização dos tempos livres deve estar ligado com as lutas no local de trabalho e nas zonas habitacionais. A luta pela diminuição do tempo de trabalho, com este objectivo, deve fazer parte integrante da criação de condições para um maior desenvolvimento da luta dos trabalhadores contra a exploração.
O Governo Provisório instituiu um salário mínimo do qual exclui grande parte da população trabalhadora — devemos lutar contra este facto. Além disso, tal salário mínimo é demasiadamente baixo para as necessidades dos trabalhadores. O coro do governo diz que salários mais altos prejudicariam a economia nacional. Mas que economia é essa? É a economia capitalista? Se são os patrões que defendem a continuação dos seus lucros, compreendemos bem que os representantes patronais não queiram um salário mínimo mais elevado. Mas porque é que se pretendem fazer passar por amigos dos trabalhadores aqueles que, na prática, opondo-se à elevação do salário mínimo, defendem os lucros do patrão?! Dizem eles que um maior aumento dos salários levaria à falência de pequenas e médias empresas e à concentração do capital. A concentração do capital é o caminho inelutável da economia capitalista e não compete aos trabalhadores pagarem com o suor do seu trabalho e com a miséria das suas familias os lucros que permitam a subsistência dos pequenos e médios patrões. Os trabalhadores não lutam só contra uns patrões mas contra todos, contra a própria exploração capitalista. Se a economia nacional não comporta maiores aumentos de salários, a solução não é a de restringir a paga dos trabalhadores, e sim a de mudar de sistema económico. Se é o próprio capitalismo a dizer, pela voz de todos os seus agentes e servidores, que não pode aumentar suficientemente os salários, o que significa, portanto, que não serve os interesses mínimos dos trabalhadores, então o nosso interesse é o de desenvolver a nossa luta de modo a acabar com o capitalismo.
O governo actual procura canalizar a fúria dos trabalhadores contra a tirania tentando que a nossa revolta se limite a substituir os administradores mais comprometidos com o fascismo por outros menos comprometidos ou por burgueses liberais ou social-democratas. Além disso, o novo governo procurou aproveitar as extraordinárias capacidades que os trabalhadores têm para organizar o trabalho, deixando-os proceder a remodelações parciais; o marcelismo não conseguira fazer uma adaptação suficientemente rápida das estruturas administrativas e de gestão às novas necessidades do capitalismo e, face a tal atraso, os capitalistas procuram agora canalizar as capacidades organizadoras das classes trabalhadors sem pôr em causa os princípios capitalistas fundamentais da hierarquia [ilegível] da divisão do trabalho feita pelos não-trabalhadores, [ilegível] ...ciso que desenvolvamos os processos de saneamento e de reorganização parcial das empresas em processos mais vastos. O objectivo dos trabalhadores não é o substituir os patrões antipáticos por patrões simpáticos, mas o de acabar com o patronato. O nosso objectivo não é o de beneficiar o capitalismo pela reorganização parcial das empresas, e sim o de estabelecer novas relações sociais de trabalho — relações comunistas. Precisamos de, desde já, começar a pôr em causa não só uns patrões mas todos os patrões, não só aspectos particulares dos sistemas de organização capitalistas, mas toda a organização capitalista do trabalho. Não precisamos de quem divida o trabalho para que nós o façamos, não precisamos de quem oriente o nosso trabalho. Os trabalhadores, que tudo produzem, devem organizar toda a produção.
A imprensa diária controlada pela burguesia silencia completamente, salvo rarissimas excepções, a luta do proletariado agrícola.
É absolutamente necessário unir a luta dos trabalhadores das cidades com a luta dos explorados do campo. As lutas dos explorados agrícolas põem problemas diversos, consoante as regiões são de grande ou pequena propriedade, consoante os tipos de cultura, consoante o grau de existência de assalariados agricolas que possuam eles próprios pequenas parcelas de terra e consoante a proporção em que existam pequenos camponeses. É através de uma ligação estreita com as lutas camponesas e de desenvolvimento dessas ligações para todos os pontos do pais que se poderão estabelecer os pontos de demarcação essenciais relativamente à questão agrária.
Filhos do povo, os soldados e os marinheiros são separados das massas trabalhadoras, postos em casernas onde a burguesia os submete a hierarquias rigidas e a uma disciplina degradante. Pretende, deste modo, mentalizá-los para que voltem as armas contra os seus irmãos de classe, os trabalhadores de qualquer país. Por isso, um dos interesses básicos dos trabalhadores é o de destruírem as estruturas militares e de combaterem o militarismo. Nós não precisamos de delegar em terceiros a nossa defesa — armamo-nos e defendemo-nos nós próprios. Neste momento, há várias lutas de marinheiros e soldados contra a disciplina, contra o militarismo, contra o encasernamento. É necessário desenvolver ao máximo todas essas lutas e é necessário fomentar os contactos e, depois, as reuniões de massas, entre os soldados e marinheiros em luta e os trabalhadores em luta nos campos e na cidade. Se as lutas dos soldados e marinheiros se unirem estreitamente com as restantes lutas dos trabalhadores, ficam assim postas em causa as próprias bases do exército reaccionário, separado da população.
Foi a burguesia, no desenvolvimento da economia capitalista, estreitando as relações entre todos os polos de concentração do capital e fundindo empresas à escala multi-nacional e multi-continental, que destruiu as velhas nações e tornou caducas as fronteiras nacionais. Mas essa mesma burguesia, para dividir os trabalhadores, difunde entre nós uma ideologia nacionalista e racista. Os trabalhadores não podem atacar o racismo com puras declarações sentimentais. Não é com palavras, mas com factos, que o internacionalismo se desenvolve. Assim, é necessário fundir cada vez mais as lutas dos explorados portugueses com as lutas dos explorados de todo o mundo, e fundi-las ao nível dos próprios movimentos de massas. O trabalho que se centra em torno deste jornal abrir-se-á, por isso, às lutas dos trabalhadores noutros pontos do mundo, desenvolvendo a criação das condições necessárias para a expansão de uma verdadeira luta internacionalista e anti-nacionalista dos trabalhadores.
Pensamos serem estes, no momento actual e neste pais, os pontos práticos de demarcação que distinguem, na vasta luta das classes, a posição revolucionária dos trabalhadores. O desenvolvimento da luta e o desenvolvimento da unificação das lutas particulares em lutas gerais produzirão novos pontos de demarcação práticos e aprofundarão os pontos existentes. É assim que, no seu próprio desenvolvimento, as massas operárias e todos os trabalhadores produzem as condições materiais e ideológicas do comunismo.
Desenvolver a luta autónoma dos trabalhadores e unificar as lutas particulares numa vasta luta geral — são estas as tarefas principais dos trabalhadores e de todos os revolucionários.
21 de Junho de 1974
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