Greve nos Lanifícios de Lisboa

21 de Junho de 1974


Fonte: Jornal Combate, nº 1, Portugal.
Originais enviados por : Manoel Nascimento.
Transcrição e HTML:
Fernando A. S. Araújo, Fevereiro 2008.
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Com base em informações sobre a luta dos operários dos lanifícios, redigimos o seguinte texto:

Assim como na Covilhã e em outros pontos do país, também em Lisboa os operários dos lanifícios se mantiveram em greve, até verem satisfeita a sua reivindicação de aumento salarial de 1000$00 para todos os operários.

Mais uma vez os capitalistas tentaram por todos os meios dividir os operários e convencê-los a abandonar a greve com base em simples promessas, oferecendo menores aumentos do que os pedidos, ou pretendendo fazer diminuir as outreis regalias dos operários em troca do aumento.

Entretanto, um comunicado da «Comissão» de Apoio à Luta dos Trabalhadores dos Têxteis e Lanifícios, datado de 21 de Maio, respondia ao modo como a imprensa burguesa relatava a greve, do seguinie modo:

«Alguns órgãos de informação têm nos últimos dias deformado o significado, amplitude e objectivos da luta que os trabalhadores da indústria dos lanifícios estão a travar em todo o País no sentido de diminuir o grau (elevadíssimo) de exploração a que têm estado sujeitos. Assim, e para além de se fazerem nalguns casos alusões de que a iniciativa dos trabalhadores não seria de louvar no momento que o país agora atravessa, escamoteia-se completamente a elevado unidade, firmeza e consciência que estes têm demonstrado e procura-se insinuar que alguns «agitadores» estariam por detrás da ampla movimentação a que se assiste. Parece pois importante clarificar a situação, para que a imprensa portuguesa, durante tantos anos impedida de informar e comentar, possa agora, livre de censura, ser um veículo de difusão e análise de situações reais e não de verdades imaginárias.

«A luta dos trabalhadores dos lanifícios por melhores condições de vida e de trabalho é uma luta já com tradições e que no campo sindical se vem travando há quatro anos, altura em que os trabalhadores elegeram uma direcção da sua confiança.

Em 1 de Novembro de 1973 entrou em vigor uma nova tabela de salários mínimos para a indústria de lanifícios que após um processo de contratação colectiva que desembocou numa arbitragem onde as justas reivindicações dos trabalhadores dos lanifícios, nomeadamente o salário mínimo de 3 000$00, não foram satisfeitas. Dessa arbitragem saiu igualmente uma outra tabela que entraria em vigor em 1 de Novembro de 1974.

«Assim, a luta a que agora se assiste no sector dos lanifícios, é uma luta que vem na continuação de todo um conjunto de lutas e iniciou-se muito antes do 25 de Abril. Com efeito, a subida galopante do custo de vida, verificada nos últimos meses, rapidamente devorou os aumentos de salários que os trabalhadores dos lanifícios tinham conseguido impor, agravando ainda mais a sua miserável situação. Os trabalhadores dos lanifícios e os seus sindicatos viram-se, desse modo, na necessidade de levar por diante aquilo que já em Outubro de 1973 tinham deixado bem vincado numa circular da Federação dos Sindicatos do Pessoal da Indústria de Lanifícios:

PARA QUE A NOSSA PRIMEIRA VITÓRIA NÃO SE TRANSFORME NUMA DERROTA, A LUTA NÃO PODE PARAR.

«A partir do fim de Fevereiro e ao longo de todo um conjunto de reuniões, os trabalhadores foram formulando a sua reivindicação de aumento de salários e foram discutindo as formas de a conseguir impôr. Tudo isto se passou antes de 25 de Abril.

«Também antes do 25 de Abril os trabalhadores dos lanifícios já tinham feito greves enfrentando duríssimas condições repressivas.»

No entanto, os operários sabiam resistir a todas as pressões até à satisfação das suas reivindicações, apesar das hesitações que atingiam alguns.

Nem todos os operários compareciam nos locais de trabalho durante a greve e aqueles que o faziam nem sempre iniciaram aí actividades colectivas que ocupassrm o tempo e permitissem cimentar a sua solidariedade na luta.

Entretanto, o trabalho retomado, as manobras costumeiras dos patrões começaram imediatamente: vários operários foram despedidos e aqueles que ficam têm que fazer o mesmo trabalho que cabia a todos, melhor, são chamados a fazer novos trabalhos que antigamente eram confiados a outros.


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