Teses Sobre a Tática do Partido Comunista da Rússia

III Internacional Comunista

Junho de 1921


Primeira Edição: .....
Fonte: Edições 4º Congresso do Partido Comunista Revolucionário (PCR) Brasil 2008.
Transcrição: Rafael Freire
HTML: Fernando A. S. Araújo


1. A Situação Internacional da República Federativa dos Sovietes da Rússia

A situação internacional da RFSR está caracterizada atualmente por um certo equilíbrio que, extremamente instável, criou, entretanto uma conjuntura original na política universal.

Esta originalidade consiste no que segue: de uma parte, a burguesia internacional está tomada de uma ira e uma hostilidade furiosa em relação à Rússia Soviética e está pronta para, a qualquer instante, se precipitar para esmagá-la. De outra parte, todas as tentativas de intervenção armada, que custaram a essa burguesia centenas de milhões de francos, terminaram em completo fracasso, apesar do Poder dos Sovietes ser então mais fraco que hoje, e de os grandes proprietários e os capitalistas russos colocarem exércitos inteiros sobre o território da RFSR. A oposição contra a guerra com a Rússia Soviética está extremamente fortificada em todos os países capitalistas, nutrindo o movimento revolucionário do proletariado e envolvendo as massas mais amplas da democracia pequeno-burguesa. A diversidade de interesses existente ente os diferentes Estados imperialistas se exasperou e se exaspera a cada dia de forma mais profunda. O movimento revolucionário, entre as centenas de milhões de pessoas oprimidas do Oriente cresce com uma forma notável. Em conseqüência de todas essas condições, o imperialismo internacional não tem condições para sufocar a Rússia Soviética apesar de ser mais forte que ela e está obrigado reconhece-la e a entrar em relações comerciais com ela.

O resultado foi um equilíbrio talvez extremamente oscilante, extremamente instável, mas um equilíbrio que permite a Republica Socialista existir, por um tempo curto evidentemente, em seu círculo capitalista.

2. As Relações das Forças Sociais no Mundo

Com a base neste estado de coisas, as relações entre as forças sociais no mundo inteiro se estabelecem da seguinte maneira:

A burguesia internacional, privada de conduzir uma guerra declarada contra a Rússia Soviética, fica na expectativa, espreitando o momento ou as circunstancias que lhe permitirão empreender esta guerra.

O proletariado dos países capitalistas avançados, em todos os lugares, tem diante de si uma vanguarda composta pelos Partidos Comunistas que cresce, marchando sem descanso para a conquista da maioria do proletariado em cada país, arruinando a influencia dos antigos burocratas trade-unionistas e os privilegiados da classe operária americana e ocidental, corrompidos pelos privilégios imperialistas.

A democracia pequeno-burguesa dos países capitalistas, representada em sua parte avançada pelas Internacionais dois e dois e meio: é atualmente o sustentáculo principal do capitalismo, na medida em que sua influencia se estende ainda sobre a maioria ou sobre uma parte considerável dos operários e empregados da indústria e do comércio, que acreditam, no caso de uma revolução, que perderão seu bem-estar relativo, resultante dos privilégios do imperialismo. Mas a crise econômica crescente piora em todos os lugares a situação das massas, e esta circunstancia, acrescida à fatalidade cada vez mais evidente de novas guerras imperialistas, se o capitalismo subsistir, torna este pilar cada vez mais vacilante.

As massas laboriosas dos países coloniais e semicoloniais, massas que compõem a enorme maioria da população do globo, foram levadas à vida política no início do século XX, graças às revoluções da Rússia, Turquia, Pérsia e China. A guerra imperialista de 1914-1918 e o Poder Sovietes na Rússia transformam definitivamente essas massas em um fator ativo da política universal e da destruição revolucionária do imperialismo, ainda que se obstinem em não vê-lo os pequeno-burgueses esclarecidos da Europa e da América, entre eles os líderes das Internacionais dois e dois e meio. A Índia britânica está à frente desses países, e a revolução cresce tanto mais rapidamente quanto uma parte do proletariado industrial e ferroviário se torna mais considerável e outra parte se torna mais selvagem pelo terror exercido pelos ingleses, que recorrem cada vez mais às mortes em massa (Amristar), às flagelações públicas etc...

3. As Relações das Forças Sociais na Rússia

A situação política interior da Rússia Soviética está determinada elo fato de que nesse país nós vemos, pela primeira vez ao longo da história universal, a existência, durante vários anos, de duas classes apenas: o proletariado educado durante várias dezenas de anos por uma indústria mecânica muito jovem, mas nem por isso moderna e grande, e a classe dos pequenos camponeses, compondo a enorme maioria da população.

Os grandes proprietários rurais e os grandes capitalistas não desapareceram na Rússia. Mas eles foram submetidos a uma completa expropriação, completamente derrotados politicamente enquanto classe, e seus destroços se escondem entre os empregados governamentais do poder dos Sovietes. Sua organização de classes conservou-se apenas no estrangeiro, sob a forma de uma emigração que varia provavelmente de um milhão e meio a dois milhões de pessoas e que possui mais de meia centena de jornais cotidianos em todos os partidos burgueses e “socialistas” isto é, pequeno-burgueses), assim como os restos de um exercito de múltiplas ligações com a burguesia internacional. Essa emigração trabalha com todas as suas forças e com todos os meios para arruinar o Poder dos Sovietes e restaurar o capitalismo na Rússia.

4. O Proletariado e a Classe Camponesa na Rússia

Dada esta situação interior, o proletariado russo, enquanto classe dominante, deve se propor principalmente agora a determinar judiciosamente e realizar as medidas indispensáveis para dirigir o campesinato, para manter uma aliança firme com ele, para percorrer as numerosas etapas sucessivas conducentes à coletivização total da agricultura. Esta tarefa na Rússia é particularmente difícil, tanto em virtude do caráter atrasado de nosso país, como por sua desolação extrema após sete anos de guerra imperialista e civil. Mas, apesar desta particularidade, esta tarefa é um dos problemas mais difíceis da organização socialista; tais problemas se colocarão em todos os países capitalistas, com a única exceção talvez da Inglaterra. Entretanto, mesmo no que concerne à Inglaterra, é impossível esquecer que, se a classe dos pequenos agricultores-fazendeiros é excepcionalmente pouco numerosa, em contrapartida encontra-se aí uma proporção excepcionalmente elevada de operários e empregados levando uma existência pequeno-burguesas, graças à escravidão de fato de centenas de milhões de habitantes das colônias “pertencentes” à Inglaterra.

Por isso, do ponto de vista da evolução da revolução proletária universal, enquanto processo de conjunto, a importância do período atravessado pela Rússia consiste em que ele permite provar e verificar pela prática a política de um proletariado que tem nas mãos o poder governamental em relação a uma massa pequeno-burguesa.


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Inclusão 16/08/2011