MIA > Biblioteca > Stálin > Novidades
Primeira Edição: Discurso pronunciado na Assembléia Plenária
êde Moscou do Partido e da Comissão de Controle de Moscou.
Fonte: .......
Tradução: Editorial Vitória Ltda.
Transcrição:
Partido Comunista
Revolucionário
HTML: Fernando A. S. Araújo,
abril 2006.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License.
Creio, camaradas, que é necessário antes de mais nada por de lado os pequenos detalhes, as questões pessoais, etc., para resolver o problema que nos interessa: o desvio de direita. Existe no nosso Partido um perigo de direita, um perigo oportunista? Existem condições objetivas favoráveis para esse perigo? Como se deve lutar contra ele? São estes os problemas que hoje se nos colocam. E não conseguiremos resolvê-los se não pusermos de lado os detalhes e outros elementos que lhes são estranhos e que impedem de ver o fundo da questão.
Não tem razão Zapolski quando diz que o problema do desvio de direita é um problema fortuito. Afirma ele que todo o problema se reduz, não a um desvio de direita, mas a questiúnculas, a intrigas pessoais, etc. Admitamos que neste caso, como em qualquer luta, desempenhem um certo papel as questiúnculas e as intrigas pessoais. Mas explicar tudo como resultado de conflitos pessoais e não ver por detrás deles a essência do problema, é desviar-se do caminho certo, do caminho marxista. Não é possível que uma organização tão grande, tão antiga e tão coerente como é, sem qualquer dúvida, a organização de Moscou possa ser abalada da base ao topo e posta em movimento por obra de alguns elementos conflituosos e intriguistas. Não, camaradas, milagres desses não acontecem neste mundo e não se pode ter em tão baixo conceito a força e o poder da organização de Moscou. É evidente que aqui estão em jogo causas mais profundas que não têm nada a ver com as questiúnculas e as intrigas.
Também não tem razão Fruntov ao reconhecer a existência de um perigo de direita mas não o considerando digno de ocupar a atenção de pessoas sérias e com sentido prático. Em sua opinião, parece que o problema do desvio de direita é assunto para ser tratado por palradores e não por pessoas responsáveis. Compreendo perfeitamente que Fruntov, até agora tão absorvido pelo trabalho prático diário, não tenha encontrado tempo para se deter um pouco e pensar nas perspectivas do nosso desenvolvimento. Mas isso não quer dizer que devamos tomar como dogma para o nosso trabalho de construção o estreito praticismo realista de alguns militantes do Partido. É muito bom que exista um saudável sentido prático das coisas mas, se se perderem de vista as perspectivas do trabalho e não se subordinar a atividade à linha fundamental do Partido, esse espírito prático transforma-se num estorvo. Ora, não é difícil compreender que o problema do desvio direitista é um problema que afeta a linha fundamental do nosso Partido, é o problema de saber se é correta ou falsa a perspectiva de desenvolvimento traçada pelo nosso Partido no seu XV Congresso.
Também não tem razão aqueles camaradas que, ao apreciar o problema do desvio de direita, o reduzem à questão das pessoas que representam esse desvio. Dizem eles: indiquem-nos onde estão os direitistas e os conciliadores, digam-nos quem são, para podermos ajustar contas com eles. Esta forma de colocar o problema é errada. Naturalmente, as pessoas desempenham um certo papel nos acontecimentos. Mas aqui não se trata das pessoas, mas das condições, das circunstâncias que produzem um perigo de direita dentro do Partido. Poderíamos afastar as pessoas, mas isso não quer dizer que extirpássemos pela raiz o perigo direitista no nosso Partido. Por isso, a questão das pessoas não resolve o problema, ainda que tenha um interesse indiscutível. Não podemos deixar de recordar, a este propósito, um episódio que se produziu em Odessa, entre os fins de 1919 e começo de 1920, quando as nossas tropas, depois de expulsar da Ucrânia as forças de Denikine, esmagaram os seus últimos restos na região de Odessa. Viu-se então uma parte dos combatentes do Exército Vermelho procurando afanosamente por Odessa a Entente (1), convencidos de que, se dessem com ela, com essa Entente, acabariam com a guerra. Imaginemos que os combatentes do Exército Vermelho tivessem descoberto em Odessa algum representante da Entente. É evidente que isso não chegaria para resolver o problema da Entente, pois as suas raízes não estavam em Odessa, nesse último território ocupado pelas tropas de Denikine, mas no capitalismo mundial. O mesmo pode ser dito de alguns dos nossos camaradas que, perante o problema do desvio de direita, apontam os seus tiros contra as pessoas que encarnam esse desvio e não se preocupam com as condições que o originam.
Por isso, a primeira coisa que temos que esclarecer aqui são as condições que fizeram surgir o desvio de direita, assim como o desvio de "esquerda" (trotskista) contra a linha leninista.
Nas condições do capitalismo, o desvio direitista do comunismo é a tendência, a propensão de uma parte dos comunistas – propensão imprecisa, é verdade, e que talvez não tenham ainda tomado consciência mas que existe apesar de tudo – para se afastar da linha revolucionária do marxismo, para se inclinar para o lado da social-democracia.
Quando alguns círculos comunistas negam a oportunidade da palavra de ordem "classe contra classe" na luta eleitoral (em França), etc., isto significa que, dentro do Partido Comunista, há pessoas que lutam por adaptar o comunismo ao social-democratismo. A vitória do desvio de direita nos Partidos Comunistas dos Países capitalistas equivaleria à derrocada ideológica dos Partidos Comunistas e a um fortalecimento enorme da social-democracia. E o que significaria esse fortalecimento enorme da social-democracia? Significaria reforçar e consolidar o capitalismo, pois a social-democracia é o principal apoio do capitalismo dentro da classe operária. Portanto, a vitória do desvio de direita nos Partidos Comunistas dos países capitalistas conduziria ao desenvolvimento das condições necessárias para a manutenção do capitalismo.
Nas condições do desenvolvimento soviético, onde o capitalismo já foi derrubado mas onde ainda não foram arrancadas as suas raízes, o desvio de direita do comunismo significa a tendência, a propensão de uma parte dos comunistas – propensão ainda indefinida, é certo, e talvez inconsciente, mas que existe apesar de tudo – para se afastar da linha geral do nosso Partido, inclinando-se para o lado da ideologia burguesa. Quando alguns círculos dos nossos comunistas tentam fazer recuar o Partido e impedí-lo de aplicar as resoluções do XV Congresso, negam a necessidade da ofensiva contra os elementos capitalistas do campo, ou exigem que se afrouxe o crescimento da nossa indústria, por entenderem que o ritmo atual é ruinoso para o país, ou negam a vantagem da distribuição de subsídios do Estado aos kolkhozes e sovkhozes, por acharem que é dinheiro jogado fora, ou negam a conveniência da luta contra o burocratismo sobre a base da autocrítica, por entenderem que autocrítica abala o nosso aparelho, ou exigem que se abrande o monopólio do comércio externo, etc., etc. Isto quer dizer que nas fileiras do nosso Partido há pessoas que, talvez sem disso se darem conta, tentam adaptar a obra da nossa construção socialista aos gostos e necessidades da nossa burguesia "soviética". O triunfo do desvio de direita no nosso Partido equivaleria a fortalecer em proporções enormes os elementos capitalistas do nosso país. E o que significa fortalecer os elementos capitalistas do nosso país? Significa enfraquecer a ditadura do proletariado e fortalecer as possibilidades de restauração do capitalismo. Portanto, a vitória do desvio de direita no nosso Partido significaria o amadurecimento das condições necessárias para a restauração do capitalismo no nosso país.
Existem no nosso país, no País Soviético, condições que tornem possível a restauração do capitalismo? Sim, existem. Talvez pareça estranho, mas é um fato, camaradas. Derrubamos o capitalismo, implantamos a ditadura do proletariado e desenvolvemos em ritmo acelerado a nossa indústria socialista, à qual articulamos a economia camponesa. Mas ainda não arrancamos as raízes do capitalismo. Onde se encontram essas raízes? Encontram-se na produção de mercadorias, na pequena produção, sobretudo a dos campos e também a das cidades. A força do capitalismo reside, como disse Lênin, "na força da pequena produção, pois, por infelicidade, resta ainda no mundo uma grande quantidade de pequena produção e esta engendra constantemente, dia a dia, hora a hora, o capitalismo e a burguesia, por um processo espontâneo e em massa". (Lênin, Obras, t. XXV, p. 173, "O Esquerdismo, doença infantil do comunismo".). É evidente que enquanto a pequena produção tiver no nosso país proporções massivas e mesmo um caráter predominante, e enquanto ela engendrar o capitalismo e a burguesia constantemente e em massa, sobretudo nas condições da NEP, existem no nosso país as condições que tornam possível a restauração do capitalismo.
Existem no nosso país, no País Soviético, os meios e as forças necessários para destruir, para liquidar a possibilidade de restauração do capitalismo? Sim, existem. E isto precisamente que faz a justeza da tese de Lênin sobre a possibilidade de construir na URSS uma sociedade socialista completa, Para isso, é necessário consolidar a ditadura do proletariado, fortalecer a aliança entre a classe operária e os camponeses, desenvolver os nossos postos de comando do ponto de vista da industrialização do país, aplicar um ritmo rápido de desenvolvimento da indústria, eletrificar o país, reedificar toda a economia nacional sobre uma nova base técnica, organizar a cooperação em massa dos camponeses e elevar o rendimento da sua economia, unificar gradualmente as explorações camponesas individuais em propriedades coletivas, desenvolver os sovkhozes, limitar e eliminar os elementos capitalistas da cidade e do campo etc., etc.
Vejamos o que diz Lênin a este respeito:
"Enquanto vivermos num país de pequena exploração camponesa, haverá na Rússia uma base econômica mais sólida para o capitalismo do que para o comunismo. E preciso não o esquecer. Todo aquele que observe com atenção a vida do campo, comparando-a com a da cidade, sabe que não arrancamos as raízes do capitalismo, nem eliminamos o fundamento, a base do inimigo interno. Este último apóia-se na pequena exploração e a forma de o esmagar é apenas uma: reconstruir a economia do país, incluindo a agricultura, sobre uma nova base técnica, sobre a base técnica da grande produção moderna. E essa base é a eletricidade. O comunismo é o poder soviético mais a eletrificação de todo o país. Se assim não for, continuaremos a ser um país de pequena economia camponesa e é preciso que tenhamos clara consciência disso. Somos mais fracos do que o capitalismo, não só à escala mundial, mas também dentro do país. Toda a gente o sabe. Tendo isso em conta, organizaremos as coisas de forma a que a base econômica passe da pequena economia camponesa para a grande indústria. Só quando o nosso país estiver eletrificado e quando a indústria, a agricultura e os transportes se apoiarem sobre a base técnica da grande indústria moderna, só então teremos triunfado por completo. " (Lênin, Obras, t, XXVI, pp. 46-47, discurso pronunciado no VII Congresso dos Sovietes de toda a Rússia, "Sobre a atividade do Conselho de Comissários do Povo.").
Resulta daqui, em primeiro lugar, que enquanto vivermos num país de pequenas explorações camponesas, enquanto não tivermos arrancado as raízes do capitalismo, este disporá no nosso país de uma base econômica mais sólida do que o comunismo. Pode acontecer que se derrube uma árvore mas não se lhe arranquem as raízes por não haver a força suficiente para isso. Daqui precisamente se conclui a possibilidade de restauração do capitalismo no nosso país.
Do que ficou dito, resulta, em segundo lugar, que para além da possibilidade de restauração do capitalismo, existe também no nosso país a possibilidade de triunfo do socialismo, visto que podemos destruir a possibilidade de restauração do capitalismo, podemos arrancar as raízes do capitalismo e alcançar uma vitória completa sobre ele, se desencadearmos um grande esforço para levar a cabo a eletrificação do país, se fornecermos à indústria, à agricultura e aos transportes a base técnica da grande indústria moderna. Daqui precisamente se conclui a possibilidade do triunfo do socialismo no nosso país.
Do que ficou dito, resulta finalmente que não se pode construir o socialismo só na indústria, abandonando a agricultura ao desenvolvimento espontâneo e partindo do ponto de vista de que o campo "seguirá por si mesmo" a cidade. A existência de uma indústria socialista na cidade é o fator fundamental para a transformação socialista do campo, mas por si só não é suficiente. Para que a cidade socialista possa arrastar o campo atrás de si até o fim, é necessário, como disse Lênin, "reconstruir a economia do país, incluindo a agricultura, sobre uma nova base técnica, sobre a base técnica da grande produção moderna.".
Pode perguntar-se: não está esta citação de Lênin em contradição com uma outra citação colhida nas suas obras, segundo a qual "a NEP garante-nos plenamente a possibilidade de lançar os alicerces da economia socialista"? Não, não existe nenhuma contradição. Longe disso, as duas citações concordam perfeitamente. Lênin não diz de modo nenhum que a NEP nos traga o socialismo já pronto. Diz apenas que a NEP nos garante a possibilidade de lançar os alicerces da economia socialista. Entre a possibilidade de construir o socialismo e a sua construção efetiva, há uma grande diferença. Não se deve confundir possibilidade, com realidade. É precisamente para transformar essa possibilidade em realidade que Lênin propõe a eletrificação do país e o estabelecimento da base técnica da grande indústria moderna para a indústria, a agricultura e os transportes, como condição do triunfo definitivo do socialismo.
Mas esta condição necessária para a construção do socialismo não pode ser realizada num ou dois anos. Não se consegue, num ou dois anos, industrializar o país, construir uma potente indústria, organizar a cooperação de massas de milhões de camponeses, dar uma nova base técnica à agricultura, unificar as explorações camponesas individuais em grandes propriedades coletivas, desenvolver os sovkhozes, limitar e vencer os elementos capitalistas da cidade e do campo. Para isso, são necessários anos e anos de intenso trabalho construtivo da ditadura do proletariado. E enquanto isto não for feito – e não o será de repente – continuaremos a ser um país de pequena exploração camponesa, com a pequena produção engendrando constantemente e em massa o capitalismo e a burguesia, com o perigo sempre presente de restauração do capitalismo.
E como o proletariado não vive no vazio, mas mergulhado na vida real e concreta, com toda a sua diversidade, os elementos burgueses que surgem sobre a base da pequena produção "cercam o proletariado por todos os lados com o ambiente pequeno-burguês, penetram-no com esse ambiente, desmoralizam-no, provocam constantemente no seio do proletariado recaídas de temor pequeno-burguês, de dispersão, de individualismo, oscilações entre a exaltação e o abatimento" (Lênin, Obras, t. XXV, p. 189, "O esquerdismo, doença infantil do comunismo"), e infundem assim ao proletariado e ao seu partido uma certa vacilação, uma certa indecisão.
Esta é a raiz e a base de todo o gênero de vacilações e desvios contra a linha leninista nas fileiras do nosso Partido.
Eis porque a questão do desvio de direita ou de "esquerda" dentro do nosso Partido não pode ser considerada como uma questão banal. Em que consiste o perigo do desvio de direita, francamente oportunista, dentro do nosso Partido? Consiste em subestimar a força dos nossos inimigos, a força do capitalismo, em não ver o perigo de restauração do capitalismo, em não compreender a mecânica da luta de classes nas condições da ditadura do proletariado. Daí que se incline com tanta facilidade para fazer concessões ao capitalismo, reclamando que se abrande o ritmo de crescimento da nossa indústria, exigindo que se dêem facilidades aos elementos capitalistas da cidade e do campo, exigindo que se passe para segundo plano o problema dos kolkhozes e dos sovkhozes, exigindo o afrouxamento do monopólio do comércio externo, etc., etc.. Não se pode duvidar de que a vitória do desvio de direita no nosso Partido desencadearia as forças do capitalismo, minaria as posições revolucionárias do proletariado e aumentaria as probabilidades de restauração do capitalismo no país. Em que consiste o perigo do desvio de "esquerda" (trotskista) dentro do nosso Partido? Consiste em exagerar a força dos nossos inimigos, a força do capitalismo, em ver apenas a possibilidade de restauração do capitalismo, sem se aperceber da possibilidade de construir o socialismo com as forças do nosso país, em deixar-se cair no desespero e tentar consolar-se com divagações acerca de tendências termidorianas no nosso Partido. Das palavras de Lênin ao indicar que "enquanto vivermos num país de pequena exploração camponesa, haverá na Rússia uma base econômica mais sólida para o capitalismo do que para o comunismo", destas palavras, tiram os desviacionistas de "esquerda" a falsa conclusão de que na URSS é impossível, de um modo geral, construir o socialismo, de que não se conseguirá nada com os camponeses, de que a idéia da aliança da classe operária com os camponeses é uma idéia caduca, de que, se não vier rapidamente em nosso socorro a revolução triunfante nos países ocidentais, a ditadura do proletariado na URSS se afundará ou degenerará, de que, se não se aceitar um fantástico plano de super-industrialização, mesmo que a sua realização nos custe a ruptura com os camponeses, teremos que considerar a causa do socialismo na URSS como perdida. Daqui o aventureirismo na política dos desviacionistas de "esquerda". Daqui os saltos de "super-homens" que dão em política. Não pode haver dúvidas de que a vitória do desvio de "esquerda" no nosso Partido conduziria ao rompimento da classe operária com a sua base camponesa, ao rompimento da vanguarda operária com o resto da massa operária e por conseguinte à derrota do proletariado, à criação de condições favoráveis à restauração do capitalismo.
Como se vê, ambos os perigos, tanto o de "esquerda" como o de direita, ambos os desvios contra a linha leninista, tanto o desvio de direita como o de "esquerda", apesar de partirem de extremos diferentes, conduzem ao mesmo resultado.
Qual destes perigos é o pior? Eu diria que ambos são piores. A diferença entre estes dois desvios, do ponto de vista de uma luta eficaz contra eles, consiste em que o desvio de "esquerda" aparece neste momento mais claro para o Partido do que o desvio de direita. Naturalmente, o fato de há vários anos virmos lutando intensamente contra os desvios de "esquerda" não podia deixar de ter efeitos sobre o Partido. Como é evidente, durante os anos de luta contra o desvio "esquerdista", trotskista, o Partido aprendeu muito e já não é fácil enganá-lo com frases "esquerdistas". Mas creio que o desvio de direita, que já anteriormente existia e agora se manifesta de forma mais marcada devido ao fortalecimento das tendências caóticas pequeno-burguesas e à crise no abastecimento de trigo no ano passado, creio que esse perigo aparece com menos clareza para certos setores do nosso Partido. Por isso, sem atenuar no mínimo a luta contra o perigo "esquerdista", trotskista, a nossa tarefa consiste em acentuar a luta contra o desvio de direita, tomando todas as medidas necessárias para que este perigo surja tão claro ante o Partido como já surge o perigo trotskista.
O problema do desvio de direita não nos colocaria com tanta perspicácia se não estivesse relacionado com o problema das dificuldades do nosso desenvolvimento. Mas, justamente, a existência do desvio direitista complica as dificuldades do nosso desenvolvimento e trava a superação dessas dificuldades. Precisamente porque o perigo direitista enfraquece a luta para vencer as dificuldades, a sua liquidação reveste uma importância tão grande para nós.
Duas palavras acerca do caráter das nossas dificuldades. E necessário ter em conta que as nossas dificuldades não são dificuldades de estagnação ou de decadência. Há um tipo de dificuldades relacionado com o declínio ou a estagnação da economia, que exige esforços para conseguir que a estagnação seja menos prejudicial ou o declínio econômico menos profundo. Mas as nossas dificuldades não têm nada de comum com isto. O seu traço característico é serem dificuldades de desenvolvimento, dificuldades de crescimento. Quando falamos das nossas dificuldades, referimo-nos em geral à percentagem de elevação da indústria, à percentagem de aumento da superfície semeada, ao aumento que é necessário obter nas colheitas, etc., etc. Precisamente por isso, porque as nossas dificuldades são dificuldades de desenvolvimento e não de decadência ou de estagnação, não representam um perigo para o Partido. Mas não deixam de ser dificuldades. E como, para as vencer, é preciso pôr todas as forças em tensão, dar provas de firmeza e tenacidade, e nem todos possuem estas qualidades em grau suficiente, talvez por cansaço ou desalento ou por aspirarem a uma vida tranqüila, sem lutas nem agitações, precisamente por isso começam as vacilações e as flutuações, as viragens em busca da linha de menor resistência, as divagações sobre a necessidade de atenuar o ritmo de desenvolvimento da indústria, de dar facilidades aos elementos capitalistas, a negação da necessidade da existência dos kolkhozes e sovkhozes e, de forma geral, de tudo o que saia dos limites da situação habitual, tranqüila, e do trabalho quotidiano. Mas é impossível avançar sem vencer as dificuldades que se levantam no nosso caminho. E para as vencer, é preciso em primeiro lugar acabar com o perigo de direita, vencer o desvio de direita, que entrava a luta contra as dificuldades. Ao dizer isto, refiro-me a uma luta real contra o desvio de direita e não a uma luta verbal, no papel. No nosso Partido, há pessoas que se dispõem a proclamar a luta contra o perigo de direita, mas só por descargo de consciência, como os padres que cantam o "aleluia, aleluia", mas sem aplicar nenhuma, absolutamente nenhuma medida prática para por em marcha a luta contra o desvio de direita e vencê-lo na prática. É isto que nós chamamos a tendência conciliadora para com o desvio de direita, tendência francamente oportunista. Não é difícil compreender que a luta contra esta corrente conciliadora é parte integrante da luta geral contra o desvio de direita, contra o perigo de direita, pois é impossível vencer o desvio de direita, oportunista, sem lutar sistematicamente contra os conciliadores, que abrigam os oportunistas sob a sua proteção.
A questão das pessoas que servem de agentes ao desvio direitista tem um interesse indiscutível, embora não seja decisiva. Tivemos ocasião de encontrar agentes do perigo de direita nas organizações de base do nosso Partido no ano passado, durante a crise de abastecimento de cereais, quando toda uma série de comunistas das regiões rurais e das aldeias se levantou contra a política do Partido e defendeu a aliança com os elementos kulaks. Como é sabido, esta categoria de pessoas foi excluída do Partido na Primavera deste ano, como é mencionado em especial no conhecido documento do CC do nosso Partido, publicado em fevereiro do ano corrente. Mas seria falso dizer que já não existem elementos desses no Partido. Se dirigirmos o olhar para as organizações distritais e provinciais do Partido e nos detivermos a examinar com cuidado o aparelho dos sovietes e das cooperativas, descobriremos aí também, sem grande esforço, agentes do perigo direitista e casos de conciliação com ele. São bem conhecidas as "cartas", "declarações" e outros documentos de uma série de funcionários do aparelho do nosso Partido e dos sovietes, expressando de modo muito concreto a tendência para o desvio direitista, como é referido na ata estenográfica da reunião plenária de julho do CC. E se, subindo um pouco mais, olharmos o Comitê Central, devemos reconhecer que também dentro deste organismo se encontram alguns elementos, embora em muito pequeno número, com uma atitude conciliadora perante o perigo de direita. A ata da reunião plenária de Julho do CC é disto um testemunho direto. E no Bureau Político? Há algum desvio no Bureau Político? Não. No nosso Bureau Político não há direitistas, nem esquerdistas, nem conciliadores com uns ou com outros. É preciso que isto fique aqui assente da forma mais categórica. É tempo de acabar com os mexericos espalhados pelos inimigos do Partido e por toda a espécie de oposicionistas, sobre a existência no Bureau Político do nosso CC de um desvio direitista ou de uma atitude conciliadora para com a direita.
Tem havido vacilações e flutuações na organização de Moscou ou no seu órgão dirigente, o Comitê de Moscou? Sim, tem existido. Seria estupidez querer negar a existência dessas vacilações e flutuações. O sincero discurso de Penkov é disso um testemunho direto. Penkov não é um militante qualquer na organização e no Comitê de Moscou. E todos puderam ouvir como reconheceu, de modo franco e aberto, os seus erros em toda uma série de problemas importantíssimos da política do nosso partido. Claro que isto não quer dizer que todo o Comitê de Moscou se tenha deixado arrastar por essas vacilações. De forma nenhuma. Documentos como a circular dirigida em Outubro deste ano pelo Comitê de Moscou aos membros da organização da cidade demonstram acima de toda a dúvida que o Comitê de Moscou conseguiu sobrepor-se às vacilações de alguns dos seus membros. E não tenho dúvidas de que o núcleo dirigente do Comitê de Moscou conseguirá corrigir definitivamente a situação.
Alguns camaradas estão descontentes com o fato de que organizações de zona de Partido tenham levantado a necessidade de acabar com os erros e vacilações destes ou daqueles dirigentes da organização de Moscou. Não consigo compreender a razão desse descontentamento. Que mal pode haver em que assembléias de ativistas de zona da organização de Moscou levantassem a voz, exigindo a liquidação dos erros e vacilações? Será que o nosso trabalho não se desenvolve sob o signo da autocrítica desde a base? Não será um fato que a autocrítica estimula a atividade da base do Partido e da massa proletária em geral? Que haverá de mau ou de perigoso em que os ativistas de zona tenham mostrado estar à altura da situação?
Foi correto da parte do CC intervir nesta questão? Eu penso que sim, que o CC procedeu acertadamente. Bersin acha que o CC procede de forma demasiado brusca ao propor a destituição de um dos dirigentes de zona, contra o qual se manifestou a organização partidária dessa zona. Mas isto é completamente falso. Poderia recordar a Bersin alguns episódios dos anos 1919 e 1920, em que certos membros do CC que cometeram erros para com a linha do Partido, erros a meu ver não muito graves, foram sancionados de modo exemplar, sob proposta de Lênin, e um deles foi transferido para o Turquestão e o outro esteve à beira de ser excluído do Comitê Central. Lênin tinha razão em proceder desta forma? Acho que tinha toda a razão. Nessa altura, a situação existente no CC não era a de hoje. Metade do CC era trotskista e não existia uma situação firme dentro do próprio CC. Hoje, o CC procede de um modo incomparavelmente mais suave. Porquê? Será que pretendemos ser mais tolerantes do que Lênin? Não, nada disso. O que acontece é que hoje a situação do CC é mais firme do que nessa altura e isso permite ao Comitê Central proceder com maior suavidade. Também não teve razão Sakharov ao afirmar que o CC não interveio com a rapidez necessária. Não teve razão porque desconhece, pelo visto, que a intervenção do CC data já, em rigor, de Fevereiro passado. Sakharov pode certificar-se disso, se quiser. É certo que a intervenção do CC não produziu resultados positivos de imediato. Mas seria descabido deitar as culpas ao Comitê Central.
Conclusões:
Notas:
(1) Acordo anglo-francês responsável pela intervenção militar contra a Rússia Soviética. (retornar ao texto)
Este texto foi uma contribuição do |
Inclusão | 06/04/2006 |