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Fonte: Michel Contat e Michel Rybalka, Les Écrits de Sartre. Paris, Gallimard, 1970. (Originalmente escrito em “Franchise,” número. 3, Novembro/Dezembro de 1946.
Fonte da Presente Tradução: versão em inglês existente no MIA.
Tradução: Camila Stukas, 2012
HTML: Fernando Araújo
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Esta guerra será a guerra do medo. É no medo que ela está sendo preparada. As pessoas estão permitindo que ela venha lentamente, com um tipo de êxtase. Acreditam nela como acreditam em quiromancia, como um confessor, como tudo aquilo que as livram de moldarem seus próprios destinos. Elas amam seus medos; este as reconciliam consigo mesmas, este suspende as faculdades da alma do mesmo modo que o espirro e a diarréia. E esta ameaça que paira sobre suas cabeças as esconde o céu vazio: ela é um telhado. E nesse meio tempo, os governos aterrorizados observam um ao outro. Quando, em pânico, uma nação fizer um gesto demasiado abrupto, as outras irão pular em seu pescoço.
Então o massacre abstrato irá começar. Uma vez arriscamos nossas vidas contra a dos outros; vimos o inimigo tão de perto que poderíamos tocar suas feridas; de longe nós atiramos sem correr nenhum risco, nós vamos morrer por nada. Técnicos em Washington, no Texas, irão preparar as valas comuns de Bacu e Leningrado sem vê-las. Sem ao menos imaginá-las. Sem heróis, sem mártires: um cataclismo caindo sobre os seres em pânico.
Não acredito no fim do mundo, e nem sei se acredito nesta guerra. Vinte anos, talvez cinquenta, irão passar antes que ela aconteça. Mas se durante esse meio tempo nós continuarmos a esperá-la, se por cinquenta anos nós tivermos de permanecer no medo, se convencermos a nós mesmos que, a fim de viver, devemos esperar o fim do próximo conflito, então teremos inutilizado três quartos da bomba atômica. Não haverá mais nenhum homem para matar; isto já terá acontecido.
Notas de rodapé:
(1*) Quando a Guerra Fria começou, um tema constante de Sartre era o perigo de se acreditar que uma Terceira Guerra Mundial fosse inevitável. Este foi um dos motivos de ter virado um membro da Rassemblement Dèmocratique Révolutionnaire em 1948-49. O pequeno texto a seguir é o primeiro de muitos que escreveu sobre o assunto. (retornar ao texto)
Inclusão | 21/03/2012 |