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Primeira Edição: Jornal El Cronista Comercial, em 20 de fevereiro de 1975.
Fonte e Transcrição: Izquierda Nacional (Argentina).
Tradução para o português: Gabriel Zerbetto Vera
HTML: Fernando A. S. Araújo,
setembro 2007.
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Na reportagem que se segue, publicada no jornal El Cronista Comercial, em 20 de fevereiro de 1975, Jorge Abelardo Ramos reitera que não é possível sustentar as posições da Izquierda Nacional de dentro do Peronismo. Os que tentaram, afirma, “se degradaram politicamente”. Para Ramos, o compromisso da Izquierda Nacional é para com a Revolução Nacional, e o apoio ao Peronismo – que não supõe subordinação política, ideológica nem organizacional – está condicionado a que esse movimento “dê passos em defesa da Pátria e do interesse popular. Se não, não”.
Jornalista: Mais de uma vez sua posição de não se comprometer com o Peronismo foi qualificada como oportunismo, apesar das grandes coincidências.
JAR: O Peronismo foi criado pela irrupção da classe operária nos assuntos públicos em 1945 e foi organizado e controlado por um grupo de líderes do exército de tendência nacional, a frente dos quais se encontrava o coronel Perón. Nunca se propôs a estabelecer nem o fascismo nem o socialismo, apenas desenvolver o capitalismo nacional contra a pretensão imperialista de imobilizar a Argentina como uma feitoria agrária. Por isso outorgou grandes concessões de toda ordem à classe operária e às massas populares ao mesmo tempo que protegeu a nascente burguesia industrial, ainda que tenha recebido a evidente ingratidão desta última. Nós somos socialistas revolucionários e apoiamos este movimento contanto que se disponha a dar passos adiante na Pátria e do interesse popular. Se não, não.
Jornalista: E o FIP considera que dá passos adiante?
JAR: O governo tropeça em grandes dificuldades. Mas quero acrescentar: nosso compromisso é para com a Revolução Nacional. Deve-se entender que na política argentina existem dois grandes campos, o campo nacional e o campo dos interesses vinculados à feitoria agrária e ao imperialismo. Em cada lada há uma esquerda, um centro e uma direita. Nós nos situamos à esquerda do campo nacional.
Jornalista: O FIP, no entanto, não alcançou uma notoriedade pública equivalente a das outras esquerdas ou a de outros setores do que se denomina campo nacional.
JAR: Nós somos o reflexo intelectual de um mundo que nasce em 1945. No podíamos existir antes nem mesmo poderíamos existir se não houvesse nascido antes o Peronismo. Aspiramos a construção das condições para se realizar a Revolução Nacional. Os 900 mil votos que obtivemos em 23 de setembro indicam precisamente que isso é o que acontece quando se logra plantar no campo nacional uma perspectiva revolucionária. A consciência da classe operária, que é esmagadoramente peronista, irá ascendendo ao socialismo. Esta é a nossa tarefa.
Jornalista: Você critica duramente os velhos partidos liberais. Você tem o mesmo conceito sobre certos setores desses mesmos partidos que se caracterizam por assumir posições de esquerda?
JAR: Veja, o esquerdismo do senhor Alfonsín, por exemplo, surge do baixo preço do novilho e do “desalento” dos setores rurais, que na realidade estão “desalentados” desde o século 18, quando se apoderaram das grandes terras da província de Buenos Aires. Não há diferenças substanciais com a inquietude de Balbín, que também expressa o desalento dos proprietários de terras que, quanto mais ricos estão, mais desalentados se sentem. Inclusive, observe que a palavra “desalento” foi patenteada pela Sociedade Rural e está sempre presente nas declarações. Refiro-me à mesma Sociedade Rural que no fim do ano passado ofereceu um almoço a Balbín, que logo declarou que não existia nenhuma oligarquia pecuária no país. O que diria o senhor Hipólito!
Jornalista: Você quer dizer que esses setores estariam fora do Peronismo?
JAR: Acontece que para se fazer uma política de esquerda é preciso estar fora do Peronismo, visto que do contrário de choca inevitavelmente contra a direção do Peronismo. E, nesse caso, acaba sendo impossível apoiar o Peronismo e lutar pelo socialismo. Nós defendemos isto desde 1946, graças a uma compreensão correta da realidade nacional. Lamentavelmente, em alguns casos, outros dirigentes políticos que vêm tentando compreender o fenômeno peronista pela ótica revolucionária terminaram se transformando em peronistas, ou seja, degradando-se politicamente. Para a classe trabalhadora e as massas populares, a incorporação ao Peronismo em 1945-46 significou um enorme avanço histórico. Mas os marxistas que entraram no Peronismo abandonaram a ideologia do socialismo e embora compreendendo bem certos aspectos da “questão nacional”, ignoraram o mais importante: definitivamente, a “questão nacional” só poderá ser resolvida pelo socialismo.
Jornalista: A seu ver, Perón deixou herdeiros?
JAR: Os herdeiros de Perón são os que receberam o poder político que ele deixou vago, os que fazem decretos, os que estão no governo. O problema é que deve-se ver se tais herdeiros são dignos do legado. De acordo com Goethe, “o que vos foi legado, conquiste-o para possuir-lo”.
Jornalista: O FIP, como muitos grupos da esquerda tradicional, mantém obstinadamente sua independência. Você aprova este posicionamento?
JAR: Para começar, trabalhamos para criar as condições políticas revolucionárias, como lhe disse antes. Por outro lado, as esquerdas tradicionais são outro problema, sobre o qual mais de uma vez dei minha opinião. Mas, por último, o que seria do porvir se não houvesse quem o possibilitar? Ficaríamos à mercê da astrologia.
Inclusão | 08/09/2007 |