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Primeira Edição: Escrito em 04 de janeiro de 1848; Publicado pela primeira vez em La Réforme, 08 de janeiro de 1848.
Fonte: Marx-Engels Collected Works, volume 6, p.445.
Tradução: Rafael Duarte Oliveira Venancio, novembro de 2008.
HTML: Fernando A. S. Araújo, novembro 2008.
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A Coercion Bill irlandesa veio à força na última quarta-feira. O Lord Lieutenant não titubeou em se aproveitar dos poderes despóticos que essa nova lei conferiu a ele; o ato foi aplicado para todos os condados de Limerick e Tipperary e para vários baronatos nos condados de Clare, Waterford, Cork, Roscommon, Leitrim, Cavan, Longford e King’s County.(1)
Resta saber quais serão os efeitos dessa medida odiosa. Nesse contato, nós já obtivemos a opinião da classe cujos interesses influenciaram a medida, ou seja, os latifundiários irlandeses. Eles anunciam para o mundo em seus jornais que a medida não terá nenhum efeito. E para conseguir isso todo o país foi colocado em estado de sítio! Para conseguir isso, nove-décimos dos deputados irlandeses desertaram de seu país!
Esse é um fato. A deserção foi geral. Durante a discussão da Bill, a família O'Connell ficou dividida: John e Maurice, dois filhos do falecido Libertador,(2) continuaram fiéis à pátria-mãe, enquanto seu irmão Morgan O'Connell, não só votou pela Bill, mas também falou em seu apoio em diversas ocasiões. Houve apenas dezoito membros que votaram pela rejeição da Bill, e apenas vinte apoiaram a emenda do Sr. Wakley, o membro cartista de uma cidade na periferia de Londres, que pediu que a Coercion Bill deveria ser acompanhada de medidas direcionadas a reduzir as causas dos crimes os quais ela propôs reprimir. E entre esses dezoito e vinte eleitores, havia quatro ou cinco ingleses radicais e dois irlandeses representando cidades inglesas, significando que dos cem membros que a Irlanda possui no Parlamento, apenas uma dúzia deles colocaram uma oposição séria à Bill.
Essa foi a primeira discussão sobre uma importante questão que afeta a Irlanda que foi realizada após a morte de O'Connell. Era o momento de decidir quem tomaria o lugar do grande agitador na liderança da Irlanda. Até a abertura do Parlamento, o Sr. John O'Connell foi tacitamente reconhecido na Irlanda como o sucessor de seu pai. Mas logo ficou evidente que, após o início do debate, ele não seria capaz de liderar o partido e, além disso, ele encontrara um rival formidável em Feargus O'Connor. Esse líder democrático – sobre o qual Daniel O'Connell afirmou, “nós estamos felizes de ter os cartistas ingleses presentes na figura do Sr. F. O'Connor” – se colocou como líder do partido irlandês em uma única tacada. Foi ele que propôs a rejeição da Coercion Bill; foi ele que conseguiu reunir toda a oposição; foi ele que opôs cada cláusula; foi ele que segurou a votação o maior tempo possível; foi ele que, em seus discursos, resumiu todos os argumentos da oposição contra a Bill; e finalmente foi ele que, pela primeira vez desde 1835, reintroduziu a moção contra a União [Repeal of the Union],(3) que nenhum dos membros irlandeses apoiou.
Os membros irlandeses aceitaram esse líder com maus olhos. Sendo meros Whigs em seus âmagos, eles, fundamentalmente, destestaram a energia democrática do Sr. O'Connor. Ele não os deixou utilizar a moção de recusa como um meio de derrubar os Tories em favor dos Whigs e esquecerem a palavra “recusa” quando esses chegarem ao poder. Mas os membros irlandeses que apóiam a moção de recusa não podem fazê-lo sem um líder como O'Connor e, apesar deles tentarem diminuir sua crescente popularidade na Irlanda, eles são obrigados a se submeterem à liderança dele no Parlamento.
Quando a sessão parlamentar acabar, O'Connor irá, provavelmente, fazer um tour pela Irlanda para reviver a agitação pela recusa à União e para fundar um partido cartista irlandês. Não há dúvidas de que se O'Connor tiver sucesso nisso, ele será o líder do povo irlandês em menos de seis meses. Através da união da liderança democrática de três reinos em suas mãos, ele irá ocupar a posição que nenhum agitador, nem O'Connell, chegou a ocupar.
Nós deixaremos aos nossos leitores a função de julgar a importância dessa futura aliança entre o povo das duas ilhas. A democracia britânica irá avançar muito mais rapidamente quando suas linhas forem inundadas por dois milhões de bravos e ardentes irlandeses, e a Irlanda empobrecida terá dado um importante passo para sua libertação.
Notas:
(1) Nota 239 do volume 6 do MECW: King’s County foi o nome dado pelos conquistadores ingleses ao condado de Offaly (Irlanda Central) em homenagem a Felipe II da Espanha, marido de Mary Tudor, rainha da Inglaterra. Ao mesmo tempo, o condado vizinho de Laoighis (Leix) foi renomeado Queen’s County. (retornar ao texto)
(2) Nota do Tradutor: Libertador é o epíteto de Daniel O’Connell. (retornar ao texto)
(3) Nota 240 do volume 6 do MECW: A União Anglo-Irlandesa foi imposta à Irlanda pelo Governo Inglês após a supressão da rebelião irlandesa de 1798. A União, que veio à força em 1 de janeiro de 1801, retirava a autonomia do Parlamento Irlandês e tornou a Irlanda ainda mais dependente da Inglaterra. Após a década de 1820, a demanda por uma recusa da União foi uma questão de massa na Irlanda, mas os liberais irlandeses, que comandavam o movimento nacional, O’Connell entre eles, viram a agitação pela recusa apenas como um meio de lutar por concessões do Governo Inglês em favor da burguesia e dos latifundiários irlandeses. Em 1835, O’Connell chegou a um acordo com os Whigs ingleses e desmobilizou a agitação. Sob a pressão do movimento de massa, no entanto, os liberais irlandeses foram obrigados em 1840 a montarem a Repeal Association, através da qual eles tentaram negociar com as classes dirigentes inglesas.
A recusa da União foi colocada em discussão no Parlamento em 18 de novembro de 1847 e a Coercion Bill foi discutida em 29 de novembro do mesmo ano. Notícias sobre a participação de O’Connor nos debates, suas sugestões e petições demandando a recusa da União e protestando contra a Coercion Bill foram veiculadas no The Northern Star, números 528 e 529, dos dias 4 e 11 de dezembro de 1847, respectivamente. (retornar ao texto)
Inclusão | 02/12/2008 |
Última alteração | 16/09/2011 |