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Primeira Edição: Variedades, 19 de Abril de 1924.
Fonte: http://www.marxists.org/archive/mariateg/works/1924-tro.htm.
Tradução do inglês: Eduardo de Andrade Machado.
Transcrição e HTML de: Fernando A. S. Araújo
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Trotsky não é somente um protagonista, mas também, filósofo, historiador e crítico da revolução. Nenhum líder da revolução, naturalmente, pode estar querendo uma panorâmica e clara visão de suas raízes e origens. Lenin, por exemplo, distinguiu-se por singular habilidade sensível e entendimento de direção da história moderna e significado de seus eventos. Mas os estudos de Lenin enveredaram somente a questão econômica e política. Trotsky, de outro modo, interessara-se também nos impactos que tivera a revolução sobre a filosofia e arte.
Trotsky polemizara com artistas e escritores que anunciaram a emergência de uma nova arte, a aparente arte proletária. A revolução já teria a posse de sua própria arte? Trotsky abjurou. "Cultura", escreveu, "não é fase primeira da felicidade; é seu resultado final". O proletariado atualmente administra suas energias na luta para derrotar a burguesia e no trabalho para solucionar problemas econômicos, políticos e educacionais. A nova ordem é ainda embrionária e incipiente. Encontra-se num estágio formativo.
A arte proletária não poderia ainda emergir. Trotsky define o desenvolvimento artístico como o maior testemunho de vitalidade e valor de uma época. A arte proletária não irá ser aquela que venha descrever os episódios de uma luta revolucionária, mas, ao invés disso, aquela que descreve a vida que emana da revolução, suas criações e frutos. Não é uma questão, aliás, de falar de uma nova arte. A arte, como a nova ordem social, está passando por um período de testes e erros. "A revolução encontrará sua imagem na arte quando não for mais um cataclisma estranho ao artista". A nova arte será produzida por um tipo novo de humanidade. O conflito entre a realidade que está morrendo e aquela que nasce, durará vários anos. Serão anos de combate e mal-estar. Somente quando findos estes anos, quando a nova organização humana estiver estabelecida e assegurada, existirão as condições necessárias para o desenvolvimento da arte proletária. Quais serão as características essenciais da arte futura? Trotsky desenvolve algumas previsões. A arte do futuro será, em seu julgamento, "irreconciliável para com o pessimismo, ceticismo, e todas outras formas de exaustão intelectual. Será completa de fé criativa, cheia de uma ilimitada fé no futuro".
Certamente sua tese não é arbitrária. A aflição, o niilismo, a morbidez que a literatura contemporânea tem desenvolvido em várias formas, são características de uma exausta, desgastada, sociedade decadente. A juventude é otimista, afirmativa e esperançosa; os velhacos são céticos, negativos e briguentos. A filosofia e a arte numa sociedade jovem terão consequentemente um tom divergente da sociedade em decomposição.
O pensamento de Trotsky procura outras conjecturas e interpretações neste caminho. Os esforços intelectuais e culturais burgueses estão principalmente direcionados ao desenvolvimento da técnica e do mecanismo de produção. A ciência é principalmente aplicada para gerar e impulsionar a completa mecanização. Os interesses da classe dominante são hostis à racionalização da produção e são, por tal motivo, hostis à racionalização personalizada. As preocupações da humanidade têm fim utilitário. O ideal da era é o lucro e poupança. A acumulação de riqueza parece ser o próposito mor da vida humana. E, de fato, a nova ordem, a ordem revolucionária, racionalizará e humanizará o costume. O que resolverá os problemas que a ordem burguesa não tem capacidade de resolver, vista sua estrutura e função. Permitirá a libertação das mulheres da escravidão doméstica, assegurará a educação social das crianças e o casamento livre das preocupações econômicas. O socialismo, tão criticado e denunciado como materialista, é finalmente, deste ponto de vista, a convalescença, um renascimento de valores morais e espirituais esmagados pela organização e método capitalista. Se as ambições materiais e interesses prevaleceram na era capitalista, a era proletária, sua natureza e instituições encontrarão inspiração em interesses e ideais éticos.
A dialética de Trotsky oferta-nos uma visão otimista do futuro do Leste e da humanidade. Spengler anuncia o declínio total do Leste. O socialismo, de acordo com sua teoria, é somente um estágio na trajetória de uma civilização. Trotsky estabelece a crise como uma da cultura burguesa ao longo do alvorecer da sociedade capitalista. Esta cultura, esta velha e detestada sociedade está desaparecendo; uma nova cultura, uma nova sociedade está emergindo de suas entranhas. O surgimento de uma nova classe dominante, com suas raízes mais amplas e conteúdo mais vital que da sua predecessora, vão renovar e implementar a energia moral e mental da humanidade. O progresso humano vai então aparecer dividido nos estágios maiores a seguir: antiguidade (o regime da escravidão); a Idade Média (o regime da servidão); capitalismo (o regime do trabalho assalariado); socialismo (o regime da igualdade social). Os trinta ou cinquenta anos da revolução proletária, diz Trotsky, marcarão uma era de transição.
É o homem que teoriza tão subta e profundamente, o mesmo homem que arengava e que inspecionava o Exército Vermelho? Algumas pessoas, porventura, estão acostumadas somente com o Trotsky lutador, o sujeito de tão vastos retratos e caricaturas; O Trotsky do trem blindado, o ministro da guerra e generalíssimo, o Trotsky que ameaça a Europa de uma invasão Napoleônica. E este Trotsky, na verdade, não existe. Ele é quase exclusivamente uma invenção da imprensa. O Trotsky real, o Trotsky verdadeiro, é o que ele mesmo revela pelos seus escritos. Um livro sempre dá a um homem uma mais exata e verdareira imagem do que um uniforme. Um generalíssimo, especialmente, não pode filosofar tão humanamente e com tal humanidade. Alguém poderia imaginar algum Foch, Ludendorff ou Douglas Haig com a envergadura mental de Trotsky?
A ficção do Trotsky marcial, do Trotsky napoleônico, provêm de um aspecto singular do papel da celebrada revolucionária Rússia Soviética: seu comando do Exército Vermelho.
Trotsky, assim como tornou-se conhecido, ocupara primeiramente o comissariado de Assuntos Externos. Entretanto o desenrolo filnal das negociações de Brest-Litovsk obrigaram-no a abandonar este ministério. Trotsky desejava que a Rússia se opusesse ao militarismo Germânico com uma atitude Tolstoyniana: rejeitar uma paz imposta e cruzar os braços, indefesos, diante do adversário. Lenin, com maior senso político, preferiu a rendição ao inimigo. Movido para o Comissariado de Guerra, Trotsky ficou encarregado de organizar o Exército Vermelho. Nesta tarefa, Trotsky demonstrou sua capacidade como organizador e realizador. O Exército Russo fora dissolvido. A queda do czarismo, o progresso da revolução e o fim da guerra levaram-nos à sua destruição. Os Soviéticos não dispunham de recursos para reconstituí-lo. Dificilmente qualquer material de guerra teve permanência. Os oficiais e o bordão geral não puderam ser utilizados por conta de seu espírito obviamente reacionário. Neste momento, Trotsky tentou tomar vantagem do apoio técnico das missões militares aliadas, aproveitando o interesse da Entente na retomada do apoio da Rússia contra a Alemanha. Porém, as missões aliadas desejavam a queda dos Bolcheviques acima de qualquer outra coisa. Trotsky encontrou somente um colaborador leal: O capitão Jacques Sadoul do pessoal da embaixada Francesa, que finalmente juntou-se à revolução, seduzido por seus ideais e seu povo. Os Soviéticos, no fim, tiveram de expulsar os diplomatas da Entente e o setor militar da Rússia. E, lidando com todas as dificuldades, Trotsky acabou por criar um exército poderoso que vitoriosamente defendeu a revolução dos ataques de todos os seus inimigos, externos e internos. O núcleo inicial deste exército era de duzentos mil voluntários da vanguarda e da juventude Comunista. Entretanto, no período mais ameaçador para os Soviéticos, Trotsky comandou um exército de mais de cinco milhões de soldados.
E, tal como seu generalíssimo fundador, o Exército Vermelho é uma nova instância na história militar mundial. É um exército que sente seu papel como um exército revolucionário e nunca esquece seu propósito como defensor da revolução. Neste espírito, portanto, exclui qualquer sentimento imperialista, especificamente enquanto à guerra. Sua disciplina, organização, e estrutura são revolucionárias. Possivelmente, enquanto o generalíssimo estava escrevendo um artigo sobre Romain Rolland, os soldados estariam invocando Tolstoy ou lendo Kropotkin.
Inclusão | 06/01/2011 |