MIA> Biblioteca> Mao Zedong > Novidades
Fonte: Mao Tsetung, Obras Escolhidas - Tomo III. Tradução: Edições em Linguas Estrangeiras - Pequin, 1975. Editora Alfa-omega, São Paulo - 1979
Transcrição: CECAC - Centro Cultural Antônio Carlos de Carvalho.
HTML: Fernando A. S. Araújo
Atualmente, a política rural do Partido já não é, como durante a guerra civil de dez anos, uma política de revolução agrária, mas sim uma política de frente única nacional antijaponesa. A totalidade do Partido deve aplicar as diretivas do Comitê Central de 7 de Julho e de 25 de Dezembro de 1940(1), bem como as que resultarão do VII Congresso do Partido, que se reunirá brevemente. Publicamos o presente material para ajudar os nossos camaradas a encontrar um método de estudo dos problemas. Muitos dos nossos camaradas conservam ainda um estilo de trabalho caracterizado pela negligência, recusando-se a penetrar no fundo das coisas; chegam a ignorar completamente o que se passa na base e, no entanto, são responsáveis por um trabalho de direção. Esse estado de coisas é extremamente perigoso. Sem um conhecimento verdadeiramente concreto da situação real das diversas classes da sociedade chinesa, não pode haver direção realmente boa.
O único processo de conhecer uma situação é investigar sobre a sociedade, sobre a realidade viva das classes sociais. Os que assumem trabalhos de direção devem consagrar-se, segundo um plano definido, a algumas cidades e aldeias, para proceder aí a investigações minuciosas, aplicando o ponto de vista básico do Marxismo, isto é, o método de análise de classes; esse é o método fundamental de conhecimento duma situação. Só assim podemos adquirir mesmo os conhecimentos mais elementares sobre os problemas sociais da China.
Para conseguir isso é necessário, em primeiro lugar, olhar para baixo e não voltar a cabeça para cima e ficar fitando o céu. Os que não têm o interesse nem a decisão de olhar para baixo jamais poderão compreender realmente a situação da China.
Em segundo lugar, é necessário proceder a reuniões de investigação. Jamais poderão adquirir-se conhecimentos completos com um simples golpe de vista à direita e à esquerda ou com um ouvir dizer. Do material que recolhi através de tais reuniões, o que respeita à província de Hunan e montanhas Tchincam perdeu-se. O que se publica aqui é essencialmente a "Investigação sobre o Distrito de Sincuo", a "Investigação sobre a Circunscrição de Tchancam" e a "Investigação sobre a Circunscrição de Tsaici". Fazer reuniões de investigação é o método mais simples, prático e seguro; dele retirei grande benefício; é melhor que qualquer universidade. Devem chamar-se para tais reuniões os quadros verdadeiramente experimentados dos escalões médio e inferior ou pura gente comum. Nas minhas investigações em cinco distritos de Hunan e dois das montanhas de Tchincam, recorri a quadros responsáveis do escalão médio; no distrito de Siunvu, convidei alguns quadros dos escalões médio e inferior , um siutsai(2) pobre, um ex-presidente, arruinado, da câmara de comércio e um pequeno funcionário desempregado, anteriormente recebedor de impostos no distrito. Todos eles me forneceram um bom caudal de informações sobre coisas de que jamais tinha ouvido falar. O homem que me deu pela primeira vez uma ideia completa da podridão do regime penitenciário na China foi um simples guarda de prisão, que conheci durante a investigação no distrito de Henxan, província de Hunan. Nas investigações no distrito de Sincuo e nas duas circunscrições de Tchancam e Tsaici, estive em contato com camaradas trabalhadores no escalão de circunscrição e simples camponeses. Todos eles — quadros, camponeses, siutsai, guarda de prisão, comerciante e recebedor de impostos — foram para mim inestimáveis professores. Como aluno, era meu dever mostrar-me respeitador, diligente e camarada nas atitudes; se não fosse assim, eles ter-se-iam afastado de mim, não me teriam contado o que sabiam ou, pelo menos, não o teriam feito inteiramente. Uma reunião de investigação não necessita ser muito numerosa: bastam três, cinco, digamos sete ou oito pessoas. Para cada reunião há que reservar tanto tempo quanto necessário, ter um questionário formulado de antemão e, pessoalmente, fazer as perguntas, anotar as respostas e entrar em discussão com os participantes. A investigação é pois impossível ou não dá bons resultados, quando não se tem entusiasmo ardente, determinação de voltar os olhos para a base, sede de conhecer, coragem de abater o odioso orgulho pessoal e vontade de ser simples estudante. É preciso compreender que as massas são os verdadeiros heróis, enquanto que, frequentes vezes, nós somos de uma ingenuidade ridícula. Se não compreendermos isso, ser-nos-á impossível adquirir os conhecimentos mais elementares.
Repito que o nosso principal objetivo, ao publicarmos o presente material de referência, é indicar um método que permita conhecer a situação nos escalões inferiores, e não exigir que os nossos camaradas retenham na memória os dados concretos e as conclusões deles extraídas. De modo geral, uma vez que a burguesia chinesa, ainda na infância, não pôde nem poderá nunca fornecer dados relativamente completos ou mesmo rudimentares sobre a situação social, como fez a burguesia europeia, americana e japonesa, vemo-nos obrigados a recolher nós próprios esse material. Especialmente os que realizam o trabalho prático devem a todo momento manter-se ao corrente da situação que não para de modificar-se; nesse domínio, nenhum partido comunista, seja em que país for, pode contar com outrem. Por isso é que os que realizam o trabalho prático devem proceder a investigações nos escalões inferiores. Para os que conhecem a teoria mas não conhecem a situação real, tais investigações tornam-se ainda mais necessárias pois, doutro modo, ficam incapacitados de ligar a teoria à prática. "Sem investigação, não há direito à palavra" é uma afirmação que foi ridicularizada, qualificada de "empirismo estreito", mas, até este momento, eu não lamento tê-la feito; muito pelo contrário, insisto em sustentar que, a menos que se tenha investigado, não deve pretender-se o direito à palavra. Há muitos que "apenas apeados do carro" vociferam, arengam, multiplicam opiniões, criticando isto, condenando aquilo; na prática, de dez deles, dez correm para o fracasso, pois os seus comentários ou críticas não se baseiam em qualquer investigação minuciosa, são apenas palavreado inútil. Os males causados ao nosso Partido por tais "enviados imperiais" são incontáveis. Não obstante, esses enviados são omnipresentes, aqui, ali, quase por toda a parte. Com muita razão diz Estáline que "a teoria perde o seu objeto se não for ligada à prática revolucionária". Claro que tem igualmente razão em acrescentar que "a prática é cega se a teoria revolucionária não lhe ilumina o caminho"(3). Excetuando-se esses práticos cegos, sem perspectivas nem previsão, ninguém mais pode ser acusado de "empirismo estreito".
Atualmente, ainda sinto profundamente essa necessidade de estudar com minúcia a situação na China e no estrangeiro, o que se deve ao fato de os meus conhecimentos sobre a questão serem ainda fragmentários. De nenhum modo posso afirmar que conheço tudo e os outros nada sabem. Com todos os camaradas do Partido, aprender junto das massas e continuar a ser aluno destas, eis o meu desejo.
A experiência adquirida na guerra civil de dez anos é a melhor, a mais adequada ao período atual, o da Guerra de Resistência contra o Japão. Mas só no que se refere à ligação com as massas, à mobilização destas contra o inimigo, e não quanto ao problema da linha tática. A linha tática atual do partido apresenta uma diferença de princípio em relação à linha antiga. Antes, nós lutávamos contra os senhores de terras e a burguesia contrarrevolucionária; hoje, aliamo-nos a todos os que, entre os senhores de terras e a burguesia, não se opõem à resistência ao Japão. Mesmo no último período da guerra civil de dez anos, foi um erro não diferenciar a nossa política, segundo se tratasse do governo e do partido reacionários que nos lançavam ataques armados, ou das camadas sociais de caráter capitalista colocadas sob a nossa autoridade, e também segundo os diferentes grupos que existiam no seio do governo e do partido reacionários. A política de "nada mais que luta", praticada na época com relação a todas as camadas sociais, à parte o campesinato e a camada inferior da pequena burguesia urbana, era indubitavelmente errada. No plano da política agrária, o erro consistiu em rejeitar a justa política seguida nos dois primeiros períodos da guerra civil de dez anos(4), e que consistia em atribuir aos senhores de terras a mesma porção de terra que aos camponeses, de modo que pudessem cultivá-la e não se convertessem em vagabundos sem eira nem beira ou em bandoleiros de montanha, perturbadores da ordem pública. Hoje a política do Partido é necessariamente diferente; não é nem "nada mais que luta, nenhuma unidade" (tchentussiuísmo de 1927), mas sim a unidade com todas as camadas sociais opostas ao imperialismo japonês, a formação duma frente única e, ao mesmo tempo, a luta contra as camadas que dentre elas tenham tendência a capitular frente ao inimigo e a opor-se ao Partido Comunista e ao povo, luta cujas formas variam segundo o grau de hesitação e caráter reacionário das tais camadas. A nossa política atual tem um duplo caráter: associa a "unidade" e a "luta". No domínio do trabalho, essa política tem por objetivo melhorar, na medida conveniente, as condições de vida dos operários, mas não impede que a economia capitalista se desenvolva adequadamente. No domínio agrário, exige dos senhores de terras uma redução de rendas e taxas de juro, pedindo por outro lado aos camponeses um pagamento parcial dessas rendas e juros. Quanto aos direitos políticos, garante a todos os senhores de terras e a todos os capitalistas antijaponeses os mesmos direitos que aos operários e camponeses — inviolabilidade da pessoa, direitos políticos e direito à propriedade — mas cuida igualmente de preservar-se das eventuais ações contrarrevolucionárias daqueles. A economia de Estado e a economia cooperativa devem ser desenvolvidas mas, como nas bases rurais o setor principal da nossa economia é constituído atualmente pelas empresas privadas, e não pelas empresas de Estado, devemos dar ao setor do capitalismo liberal oportunidades de desenvolvimento e utilizá-lo contra o imperialismo japonês e o regime semifeudal. Essa é a política mais revolucionária que se pode adotar hoje na China, sendo seguramente errado pronunciar-se contra ela ou entravar-lhe a aplicação. Fazer sérios e resolutos esforços para preservar a pureza da ideologia comunista entre os membros do Partido e, por outro lado, proteger a parte útil do setor capitalista da nossa economia social e possibilitar-lhe um desenvolvimento adequado, são, tanto uma como outra, duas tarefas indispensáveis para nós, no período de resistência ao Japão e de edificação duma república democrática. Ao longo desse período é possível que alguns membros do Partido Comunista se deixem corromper pela burguesia e surjam ideias capitalistas entre as nossas fileiras, tendo nós que combater esse espírito decadente; mas não há que, erradamente, levar essa luta do interior do Partido para o terreno da economia social, combatendo os elementos da economia capitalista. Importa traçar uma clara linha de demarcação entre esses dois domínios. O Partido Comunista da China trabalha em condições complexas; cada membro e, especialmente, cada quadro, deve temperar-se para converter-se num combatente conhecedor das táticas marxistas; não é encarando os problemas de modo unilateral e simplista que se leva a revolução à vitória.
Notas de rodapé:
(1) A primeira diretiva é a "Resolução do Comitê Central do Partido Comunista da China sobre a Situação Atual e a Política do Partido"; a segunda é a que, com o título de "Sobre a Nossa Política", figura nas Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Tomo II. (retornar ao texto)
(2) Graduados dos escalões mais baixos nos exames imperiais da China antiga (nota do tradutor). (retornar ao texto)
(3) J. V. Estáline: "Fundamentos do Leninismo", parte III. (retornar ao texto)
(4) O primeiro período da guerra civil de dez anos vai dos fins de 1927 aos fins de 1928, e é o que se chama comumente Período das montanhas Tchincam; o segundo estende-se dos começos de 1929 ao Outono de 1931, quer dizer, desde a criação da base de apoio vermelha central até a conclusão vitoriosa da terceira contracampanha de "cerco e aniquilamento"; o último vai dos fins de 1931 aos fins de 1934, quer dizer, da vitória sobre essa terceira campanha à Reunião Ampliada do Birô Político do Comitê Central do Partido, realizada em Tsuen-yi, província de Cueidjou. A Reunião de Tsuen-yi, em Janeiro de 1935, eliminou a linha oportunista de "esquerda", dominante no seio do Partido desde 1931 a 1934, e reencaminhou o Partido para a linha justa. (retornar ao texto)
Fonte |
Inclusão | 11/08/2011 |