Carta à Redação do «Labour Leader»

Karl Liebknecht

Dezembro de 1914


Fonte: Lettre à la rédaction du «Labour Leader»
Tradução para o português da Galiza: José André Lôpez Gonçâlez. Dezembro, 2013.
e HTML:
Fernando A. S. Araújo.
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Caros camaradas,

Estou satisfeito, numa época em que as classes dirigentes da Alemanha e da Inglaterra atiçam por todos os meios um ódio sanguento entre os nossos dous povos, de poder, como socialista alemão, mandar aos socialistas ingleses algumas palavras de fraternidade. Doe-me ter que escrever no momento em que a Internacional Socialista, a nossa certeza radiante doutrora, foi deitada no chão com todas as nossas esperanças, onde muitos «socialistas» da maioria dos países em guerra - incluindo Alemanha – deixaram, justo agora quando a natureza nociva do sistema capitalista se tornava mais evidente do que nunca, docemente se atrelam aos carros de guerra do imperialismo na mais pirata das guerras de pirataria. Mas estou feliz e orgulhoso de enviar-vos a minha saudação, precisamente a vós, o ILP(1) que, no delírio da matança geral, salvastes, junto com os nossos irmãos russos e sérvios, a honra do socialismo.

A confusão reina nas fileiras do socialismo, e alguns deitam a culpa nos próprios princípios socialistas. Mas não são esses princípios que faliram, mas aqueles que os representavam. Não há que mudar nada na nossa doutrina, mas apenas fazê-la viva, transformá-la em atos.

As lantejoulas enganosas são as frases em defesa da pátria e da libertação dos povos, onde o imperialismo adorna os seus instrumentos de morte. Cada partido socialista tem o seu inimigo: o inimigo do proletariado internacional está no seu próprio país, é aí onde ele tem que luitar. A liberação de cada povo deve ser a sua obra própria.

Somente a cegueira pode requerer a continuação do massacre até a derrota dos «inimigos». A prosperidade dos povos está intrinsecamente ligada: a luita de classes do proletariado só pode ser realizada numa base internacional.

Os pretensos sábios, cuja alma oportunista muito facilmente é levada polos turbilhões da diplomacia, as explosões de chauvinismo, declaram que o futuro do movimento operário não pode ser mais internacional. Mas a guerra mundial, que destruiu a velha Internacional, é o melhor argumento em favor da nova Internacional, uma Internacional certamente animada por outro espírito, por outra resolução diferente daquela com a que as potências capitalistas têm jogado tão facilmente o 4 de agosto de 1914.

Somente na colaboração das massas trabalhadoras de todos os países em prol da paz consiste desde agora, na guerra, a salvação da humanidade. Nenhures essas massas quiseram a guerra, em nenhum lugar a querem. Deveriam eles, tendo no coração o ódio da guerra, continuar a se dividir entre si? Nenhum povo pode começar a falar da paz, por conseguinte, enquanto falam todos à vez. E quem fale primeiro mostrará a força, não a fraqueza, e apanhará a glória e gratidão. Cada socialista deve agir hoje no seu país como combatente de classe, de combate e arauto da fraternidade internacional, na plena confiança de que cada palavra que ele diga a favor do socialismo, a favor da paz, cada ato que realize neste sentido, suscitará as mesmas palavras e mesmos atos nos outros países, até que a chama da vontade de paz brilhe, esclareça, sobre a Europa.

O exemplo que vós e os nossos irmãos russos e sérvios deram ao mundo, será imitado lá onde a socialdemocracia ainda está presa na rede das classes dominantes. E estou certo de que a massa dos obreiros ingleses vão se alinhar com as valentes tropas do ILP. Desde hoje, os sentimentos da classe operária alemã estão também muito mais próximos do que geralmente se pensa de tal atitude. Mostrará a sua vontade, cada vez com maior fuga desde que perceba o eco do seu grito de paz nos outros países. Assim criará a via onde o proletariado de todos os países em guerra, a resolução para impor, através duma ação internacional, uma paz no sentido socialista, uma paz que não se baseia no ódio, mas na fraternidade, não na violência, mas na liberdade, e que traz consigo a certeza de permanecer.

Assim a Internacional, luitando e reparando velhas faltas, ressuscitará novamente durante a guerra mundial. Assim terá de ressuscitar, mas como nova Internacional, não só como força externa, senão como força revolucionária interior, em clareza, em disposição para superar todos os perigos do absolutismo, da diplomacia secreta e das conspirações capitalistas contra a paz.

Proletários de todos os países, uni-vos! Guerra à guerra!

Saudações socialistas.
Karl Liebknecht.
Berlim, dezembro, 1914.


Notas de rodapé:

(1) Independent Labour Party, partido membro da IIª Internacional. (retornar ao texto)

 

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Inclusão 22/12/2013