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Antes de tudo, são absolutamente falsas as concepções dos autores do “Credo” com respeito ao passado do movimento operário da Europa ocidental. É falso que a classe operária do Ocidente não tenha participado da luta pela liberdade política nem das revoluções políticas. A história do movimento cartista, a revolução de 48 na França, Alemanha e Áustria demonstram o contrário. É absolutamente falso que “o marxismo constituísse a expressão teórica da prática dominante: a luta política que prevalecia sobre a luta econômica”. Pelo contrário, “o marxismo” surgiu no momento em que predominava o socialismo apolítico (owenismo, “fourierismo”, “socialismo verdadeiro”). E o Manifesto Comunista empreendeu imediatamente a luta contra o socialismo apolítico. Inclusive quando o marxismo já atuava completamente armado com a teoria (O Capital) e organizou a célebre Associação Internacional dos Trabalhadores, a luta política não era, absolutamente, a prática dominante (o trade-unionismo estreito na Inglaterra, o anarquismo e o proudhonismo nos países latinos). Na Alemanha, o grande mérito histórico de Lassalle foi transformar a classe operária, de apêndice da burguesia liberal, em partido político independente. O marxismo atou num só feixe inseparável a luta econômica e política da classe operária; e a ânsia dos autores do “Credo” de separar essas formas de luta constitui um de seus desvios do marxismo menos felizes e mais deploráveis.
Prossigamos. Também são completamente falsas as concepções que os autores do “Credo” têm sobre a situação atual do movimento operário na Europa ocidental e sobre a teoria do marxismo, que serve de bandeira a esse movimento. Falar de uma “crise do marxismo”, significa repetir as frases absurdas dos emplumados burgueses que se esforçam em atiçar toda discussão entre socialistas a fim de transformá-la numa cisão dos partidos socialistas. A famosa “bernsteiniada”, tal como geralmente a compreende o público, e em particular os autores do “Credo”, significa uma tentativa de reduzir o alcance da teoria do marxismo, uma tentativa de transformar o partido operário revolucionário em reformista, e essa tentativa, como era de se esperar, chocou-se com a enérgica condenação da maioria dos social-democratas alemães. As tendências oportunistas manifestaram-se mais de uma vez dentro da social-democracia alemã e sempre foram rechaçadas pelo Partido, que se atém fielmente aos legados da social-democracia revolucionária internacional. Estamos seguros de que todas as tentativas de aplicar os conceitos oportunistas na Rússia se chocarão com a mesma resistência enérgica da enorme maioria dos social-democratas russos.
Tampouco cabe sequer falar de “uma modificação radical da atividade prática” dos partidos operários da Europa ocidental, apesar do que afirmam os autores do “Credo”: a enorme importância da luta econômica do proletariado e a necessidade desta luta foram reconhecidas pelo marxismo desde o início; já na década de 40, Marx e Engels polemizaram com os socialistas utópicos que negavam a importância da luta econômica.
Uns vinte anos mais tarde, quando se formou a Associação Internacional dos Trabalhadores, a questão da importância dos sindicatos operários e da luta econômica foi apresentada no Primeiro Congresso de Genebra, em 1866. A resolução desse Congresso assinalava claramente a importância da luta econômica, advertindo os socialistas e os operários, de um lado, que não deviam exagerar a sua importância (o que então acontecia entre os operários ingleses) e, de outro, que não a subestimassem (o que acontecia entre os franceses e alemães, principalmente entre os partidários de Lassalle). A resolução não só reconhecia os sindicatos operários como um fenômeno legítimo, mas indispensável sob a existência do capitalismo; reconhecia-os como sumamente importantes para a organização da classe operária em sua luta diária contra o capital e para a abolição do trabalho assalariado. A resolução reconhecia que os sindicatos operários não deviam limitar a sua atenção exclusiva à “luta direta contra o capital”, não deviam afastar-se do movimento político e social geral da classe operária; que seus objetivos não deviam ser “estreitos”, e sim aspirar à emancipação geral dos milhões de trabalhadores oprimidos. Desde então, entre os partidos operários dos diversos países apresentou-se mais de uma vez, e ainda se apresentará, naturalmente, mais de uma vez, a questão a respeito de se é necessário, num determinado momento, prestar maior ou menor atenção à luta econômica que à luta política do proletariado; mas a questão geral ou de princípio apresenta-se, também agora, tal como foi apresentada pelo marxismo. A convicção de que a luta de classes única deve abarcar, necessariamente, a luta política e a econômica encarnou-se na social-democracia internacional.
Além disso, a experiência histórica prova, de modo irrefutável, que a falta de liberdade ou a restrição dos direitos políticos do proletariado levam sempre à necessidade de colocar a luta política no primeiro plano.
Notas de rodapé:
(1) O Protesto dos Social-Democratas da Rússia foi escrito por Lênin em seu exílio no ano de 1899. Era dirigido contra o Credo, manifesto de um grupo de “economistas” que representavam a corrente oportunista da social-democracia da Rússia (S. Prokopóvitch, E. Kuskova e outros). (retornar ao texto)
Inclusão | 16/10/2012 |