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Escrito: na primeira quinzena de Agosto de 1918, depois do dia 6.
Primeira Edição: em 17 de Janeiro de 1925 no Jornal Rabótchaia Moskvá n° 14.
Fonte: Obras Escolhidas em Três Tomos, 1978, t2, p 665-668, Edições Avante! - Lisboa, Edições Progresso - Moscovo.
Tradução: Edições "Avante!" com base nas Obras Completas de V. I. Lénine, 5.ª ed. em russo, t. 37, pp. 38-42.
Transcrição: Partido Comunista Português
Enviado: Diego Grossi Pacheco
HTML: Fernando A. S. Araújo, março 2009.
Direitos de Reprodução: © Direitos de tradução em língua portuguesa reservados por Edições
"Avante!" - Edições Progresso Lisboa - Moscovo, 1977.
A República Soviética está cercada por inimigos. Mas ela vencerá os inimigos tanto externos como internos. Vê-se já um entusiasmo no seio das massas operárias que garantirá a vitória. Vê-se já como se tornaram frequentes as centelhas e explosões do incêndio revolucionário na Europa ocidental, que nos dão a certeza de uma vitória próxima da revolução operária internacional.
O inimigo externo da República Socialista Soviética da Rússia é no presente momento o imperialismo anglo-francês e o imperialismo nipo-americano. Este inimigo ataca agora a Rússia, pilha as nossas terras, apoderou-se de Arkhanguelsk e avançou de Vladivostoque (a acreditar nos jornais franceses) até Nikolsk-Ussuriiski. Este inimigo subornou os generais e oficiais do corpo checoslovaco. Este inimigo ataca a pacífica Rússia de modo brutal e espoliador como atacaram os alemães em Fevereiro, com a diferença, contudo, de que os anglo-japoneses não só precisam de conquistar e espoliar a terra russa, mas também de derrubar o Poder Soviético para «restabelecer a frente», isto é, para voltar a fazer participar a Rússia na guerra imperialista (falando mais simplesmente: banditesca) da Inglaterra contra a Alemanha.
Os capitalistas anglo-japoneses querem restaurar o poder dos latifundiários e capitalistas na Rússia para partilhar em conjunto a presa pilhada na guerra, para submeter os operáros e camponeses russos ao capital anglo-francês, para arrancar deles os juros sobre os empréstimos de muitos milhares de milhões, para apagar o incêndio da revolução socialista que começou no nosso país e que ameaça cada vez mais estender-se a todo o mundo.
Faltarão forças às feras do imperialismo anglo-japonês para ocupar e subjugar a Rússia. Nem a nossa vizinha Alemanha tem tais forças, como o mostrou a sua «experiência» com a Ucrânia. Os anglo-japoneses contavam apanhar-nos de surpresa. Não o conseguiram. Os operários de Petrogrado. depois deles os de Moscovo e, depois de Moscovo, de toda a região industrial central levantam-se cada vez com maior unidade, cada vez com mais insistência, em massas sempre maiores, cada vez mais abnegadamente. Nisso reside a garantia da nossa vitória.
Os abutres capitalistas anglo-japoneses, ao lançar-se na campanha contra a pacífica Rússia, contam ainda com a sua aliança com o inimigo interno do Poder Soviético. Sabemos bem quem é este inimigo interno. São os capitalistas, os latifundiários, os kulaques, os seus filhinhos, que odeiam o poder dos operários e camponeses trabalhadores, dos camponeses que não sugam o sangue dos seus conterrâneos.
Uma onda de insurreições kulaques atravessa a Rússia. O kulaque odeia furiosamente o Poder Soviético e está pronto a estrangular e a degolar centenas de milhares de operários. Se os kulaques conseguissem a vitória, sabemos perfeitamente que eles exterminariam implacavelmentc centenas de milhares de operários, entrando em aliança com os latifundiários e capitalistas, restabelecendo o presídio para os operários, abolindo a jornada de 8 horas, tornando a colocar as fábricas sob o jugo dos capitalistas.
Assim foi em todas as revoluções europeias anteriores, quando os kulaques, em consequência da fraqueza dos operários, conseguiam fazer voltar de novo da república para a monarquia, de novo do poder dos trabalhadores para a omnipotência dos exploradores, dos ricos e dos parasitas. Assim aconteceu, diante dos nossos olhos, na Letónia, na Finlândia, na Ucrânia, na Geórgia. Por toda a parte os kulaques ávidos, fartos, ferozes, uniam-se com os latifundiários e com os capitalistas contra os operários e contra os pobres em geral. Por toda a parte os kulaques liquidavam a classe operária com uma inaudita avidez de sangue. Por toda a parte eles entravam em aliança com os capitalistas estrangeiros contra os operários do seu próprio país. Assim procederam e procedem os democratas-constitucionalistas, os socialistas-revolucionários de direita e os mencheviques; basta recordai apenas os seus feitos na «Checoslováquia»[N331]. Assim procedem também, devido a uma extrema estupidez e falta de carácter, os socialistas-revolucionários de esquerda, que com o seu motim em Moscovo prestaram ajuda aos guardas brancos em Iaroslavl, aos checoslovacos e aos brancos em Kazán; não foi por acaso que esses socialistas-revolucionários de esquerda mereceram um elogio de Kérenski e dos seus amigos, os imperialistas franceses.
Nenhumas dúvidas são possíveis. Os kulaques são o inimigo enraivecido do Poder Soviético. Ou os kulaques degolarão um número infinito de operários, ou os operários esmagarão impiedosamente as insurreições da minoria kulaque, espoliadora, do povo contra o poder dos trabalhadores. Aqui não pode haver meio termo. Não pode haver paz: o kulaque pode, e pode facilmente, conciliar-se com o latifundiário, com o tsar e com o padre mesmo que tenham brigado, mas nunca com a classe operária.
E é por isso que ao combate contra os kulaques chamamos o combate último e decisivo. Isto não significa que não possa haver repetidas insurreições de kulaques ou que não possa haver repetidas campanhas do capitalismo estrangeiro contra o Poder Soviético. A palavra «último» combate significa que a última e a mais numerosa das classes exploradoras se sublevou contra nós no nosso país.
Os kulaques são os exploradores mais ferozes, mais brutais, mais selvagens, que mais de uma vez na história de outros países restauraram o poder dos latifundiários, dos tsares, dos padres e dos capitalistas. Há mais kulaques do que latifundiários e capitalistas. Mas, apesar de tudo, os kulaques são uma minoria no povo.
Suponhamos que na Rússia há cerca de 15 milhões de famílias camponesas, considerando a Rússia anterior à época em que os abutres lhe arrancaram a Ucrânia, etc. Destes 15 milhões, seguramente cerca de 10 milhões são pobres, que vivem vendendo a sua força de trabalho ou escravizados pelos ricos,ou que não têm excedentes de cereais e são particularmente arruinados pelos sacrifícios da guerra. Cerca de 3 milhões devem ser considerados camponeses médios, e dificilmente haverá mais de 2 milhões de kulaques, de ricos e de especuladores de cereais. Estes bebedores de sangue lucraram com as necessidades do povo durante a guerra, acumularam milhares e centenas de milhares de rublos, elevando os preços dos cereais e de outros produtos. Estas aranhas engordaram por conta dos camponeses arruinados pela guerra, por conta dos operários famintos. Estas sanguessugas beberam o sangue dos trabalhadores, enriquecendo tanto mais quanto mais fome passavam os operários nas cidades e nas fábricas. Estes vampiros apanharam e apanham nas suas mãos os latifúndios, escravizam uma e outra vez os camponeses pobres.
Guerra implacável contra estes kulaques! Morte a eles! Ódio e desprezo aos partidos que os defendem: os socialistas-revolucionários de direita, os mencheviques e os actuais socialistas-revolucionários de esquerda! Os operários devem esmagar com mão de ferro as insurreições dos kulaques, que concluíram uma aliança com os capitalistas estrangeiros contra os trabalhadores do seu país.
Os kulaques aproveitam-se da ignorância, da dispersão, da fragmentação dos pobres do campo. Eles incitam-nos contra os operários, por vezes subornam-nos, deixando-os «aproveitar-se» numa centena de rublos com a especulação de cereais (pilhando ao mesmo tempo ao pobre muitos milhares). Os kulaques tentam atrair para o seu lado o camponês médio, e às vezes conseguem-no.
Mas a classe operária não é obrigada, de modo algum, a separar-se do camponês médio. A classe operária não pode conciliar-se com os kulaques, mas pode procurar e procura conseguir um acordo com os camponeses médios. O governo operário, isto é, o governo bolchevique, provou isso de facto e não em palavras.
Provámo-lo adoptando e aplicando rigorosamente a lei sobre a «socialização da terra»; nessa lei há muitas concessões aos interesses e concepções do camponês médio.
Provámo-lo triplicando (há dias) os preços dos cereais[N332], pois reconhecemos inteiramente que os ganhos do camponês médio não correspondem com frequência aos preços actuais dos artigos industriais e devem ser aumentados.
Cada operário consciente explicará isto ao camponês médio, provando-lhe de modo paciente, insistente e repetido que o socialismo é infinitamente mais vantajoso para o camponês médio do que o poder dos tsares, dos latifundiários e dos capitalistas.
O poder operário nunca ofendeu nem ofenderá o camponês médio. E o poder dos tsares, latifundiários, capitalistas e kulaques não só ofendeu sempre o camponês médio, como o estrangulou, pilhou e arruinou de modo directo em todos os países por toda a parte sem excepção, incluindo a Rússia.
A aliança mais estreita e a união completa com os pobres do campo; as concessões e o acordo com o camponês médio; o esmagamento implacável dos kulaques, desses sanguessugas, vampiros, saqueadores do povo, especuladores que lucram com a fome - tal é o programa do operário consciente. Tal é a política da classe operária.
Notas de fim de tomo:
[N331] Lénine refere-se às cidades e às regiões ocupadas pelas tropas checoslovacas nas quais foram criados, com a participação dos mencheviques e dos socialistas-revolucionário, governos de guardas brancos que massacravam brutalmente os trabalhadores. (retornar ao texto)
[N332] Trata-se da resolução aprovada pelo Conselho de Comissários do Povo em 6 de Agosto de 1918 "Sobre os preços fixos dos cereais para a colheita de 1918", segundo a qual os preços de compra dos cereais ao produtor foram triplicados. (retornar ao texto)
Fonte |
Inclusão | 25/09/2009 |