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Escrito: Escrito em 24-27 de Dezembro de 1917 (6-9 de Janeiro de 1918).
Primeira edição: ...
Origem:
Reproduzido das Obras Escolhidas em Seis Tomos, V.I. Lénine, Ed. Avante!, Lisboa, 1986, t.3, pp. 354-357.
Fonte: CECAC - Centro Cultural Antônio Carlos de Carvalho.
Transcrição: Marco Antonio
HTML: Fernando A. S. Araújo
Direito de Reprodução: © Direitos de tradução em língua portuguesa reservados por Editorial «Avante!» - Editorial Progresso, Lisboa-Moscovo.
"Os bolcheviques já estão no poder há dois meses, e em vez do paraíso socialista vemos o inferno do caos, da guerra civil, de uma ruína ainda maior." Assim escrevem, falam e pensam os capitalistas juntamente com os seus partidários conscientes e semiconscientes.
Os bolcheviques só estão no poder há dois meses – responderemos nós –, e o passo em frente que já foi dado em direção ao socialismo é enorme. Não vê isto quem não quer ver ou não sabe avaliar os acontecimentos históricos na sua conexão. Não querem ver que em algumas semanas foram destruídas quase até aos fundamentos as instituições não democráticas no exército, no campo na fábrica. E não há nem pode haver outro caminho para o socialismo senão através dessa destruição. Não querem ver que em algumas semanas a mentira imperialista em matéria de política externa, que prolongava a guerra e encobria a pilhagem e a conquista, com os tratados secretos, foi substituída por uma política realmente democrática revolucionária de paz realmente democrática, que produziu já um êxito prático tão grande como o armistício e a centuplicação da força propagandística da nossa revolução. Não querem ver que o controle operário e a nacionalização dos bancos começaram a ser aplicados, e isto são precisamente os primeiros passos para o socialismo.
Não são capazes de compreender a perspectiva histórica aqueles que foram esmagados pela rotina do capitalismo, aturdidos pela estrondosa falência do velho, pelo estrépito, pelo barulho, pelo "caos" (aparente caos) do desmoronamento e afundamento dos seculares edifícios do tsarismo e da burguesia, assustados com o fato de a luta de classes ter sido levada a uma extrema agudização, com a sua transformação em guerra civil, a única que é legítima, a única que é justa, a única que é sagrada – não no sentido clerical mas no sentido humano da palavra –, a guerra sagrada dos oprimidos contra os opressores, pelo seu derrubamento, pela libertação dos trabalhadores de toda a opressão. No fundo todos estes esmagados, aturdidos e assustados burgueses, pequenos burgueses e "serventuários da burguesia" se guiam, muitas vezes sem eles próprios terem consciência disso, pela idéia velha, absurda, sentimental e intelectual-vulgar da "introdução do socialismo", que adquiriram "por ouvir dizer", apanhando fragmentos da doutrina socialista, repetindo a deturpação desta doutrina por ignorantes e semi-sábios, atribuindo-nos a nós, marxistas, a idéia e mesmo o plano de "introduzir" o socialismo.
Essas idéias, para já não falar de planos, são-nos alheias a nós, marxistas. Nós sempre soubemos, dissemos, repetimos, que não se pode "introduzir" o socialismo, que ele surge no decurso da mais tensa e mais aguda – indo até à raiva e ao desespero – luta de classes e guerra civil; que entre o capitalismo e o socialismo há um longo período de "dores de parto"; que a violência é sempre a parteira da velha sociedade; que ao período de transição da sociedade burguesa para a socialista corresponde um Estado particular (isto é, um sistema particular de violência organizada sobre uma certa classe), a saber, a ditadura do proletariado. E a ditadura pressupõe e significa uma situação de guerra contida, uma situação de medidas militares de luta contra os adversários do poder proletário. A Comuna foi uma ditadura do proletariado, e Marx e Engels censuraram a Comuna, consideraram uma das causas da sua morte o fato de a Comuna ter utilizado com insuficiente energia a sua força armada para reprimir a resistência dos exploradores.
No fundo, todos estes brados de intelectuais a propósito da repressão da resistência dos capitalistas não constituem senão uma sobrevivência da velha "conciliação", para falar "educadamente". Mas para falar com franqueza proletária é preciso dizer: a continuação do servilismo perante o saco do dinheiro, é esse o fundo dos brados contra a atual violência operária empregue (infelizmente de modo ainda demasiado fraco e não enérgico) contra a burguesia, contra os sabotadores, contra os contra-revolucionários. "A resistência dos capitalistas foi quebrada", proclamou o bom Pechekhónov, um dos ministros conciliadores, em Junho de 1917. Este bom homem nem suspeitava que a resistência tem realmente de ser quebrada, que ela será quebrada, de que é precisamente a esse quebrar que, em linguagem científica, se chama ditadura do proletariado, que todo um período histórico se caracteriza pela repressão da resistência dos capitalistas, se caracteriza, por conseguinte, por uma violência sistemática sobre toda uma classe (a burguesia), sobre os seus cúmplices.
A cobiça, a suja, raivosa, furiosa, cobiça do saco do dinheiro, o medo e servilismo dos seus parasitas – tal é a verdadeira base social do atual uivo dos intelectuais, do Retch à Nóvaia Jizn, contra a violência da parte do proletariado e do campesinato revolucionário. Tal é o significado objetivo do seu uivo, das suas tristes palavras, dos seus gritos de comediantes sobre a "liberdade" (a liberdade dos capitalistas de oprimir o povo), etc., etc. Eles estariam "dispostos" a reconhecer o socialismo se a humanidade saltasse para ele de golpe, com um salto espetacular, sem fricções, sem luta, sem ranger de dentes da parte dos exploradores, sem diversas tentativas da sua parte de defender os velhos tempos ou de voltar a eles por caminhos desviados, às ocultas, sem repetidas "respostas" da violência revolucionária proletária a essas tentativas. Estes parasitas intelectuais da burguesia estão "dispostos", como diz o conhecido provérbio alemão, a lavar a pele desde que a pele fique sempre seca.
Quando a burguesia e os funcionários, empregados, médicos, engenheiros, etc., que estão habituados a servi-la, recorrem às medidas mais extremas de resistência, isso horroriza os intelectuaizinhos. Eles tremem de medo e berram ainda mais estridentemente acerca da necessidade de voltar à "conciliação". Mas a nós, tal como a todos os amigos sinceros da classe oprimida, as medidas extremas de resistência dos exploradores só nos podem alegrar, pois nós não esperamos o amadurecimento do proletariado para o poder a partir das exortações e da persuasão, da escola das pregações adocicadas ou das declamações edificantes, mas da escola da vida, da escola da luta. Para se tornar a classe dominante e vencer definitivamente a burguesia, o proletariado tem de aprender isto porque ele não tem onde ir buscar este conhecimento já pronto. E é preciso aprender na luta. E só uma luta séria, tenaz e desesperada é que ensina. Quanto mais extrema for a resistência dos exploradores, mais enérgica, firme, implacável e bem-sucedida será a sua repressão pelos explorados. Quanto mais diversas forem as tentativas e esforços dos exploradores para defenderem o velho, mais depressa o proletariado aprenderá a expulsar os seus inimigos de classe dos seus últimos recantos, a minar as raízes da sua dominação, a remover o próprio terreno em que a escravidão assalariada, a miséria das massas, o enriquecimento e o descaramento do saco do dinheiro podiam (e tinham de) crescer.
À medida que cresce a resistência da burguesia e dos seus parasitas cresce a força do proletariado e do campesinato que a ele se uniu. Os explorados fortalecer-se-ão, amadurecerão, crescerão, aprenderão, afastarão de si o "velho Adão" da escravidão assalariada à medida que crescer a resistência dos seus inimigos – os exploradores. A vitória estará do lado dos explorados, porque do seu lado está a vida, do seu lado está a força do número, a força da massa, a força das fontes inesgotáveis de tudo o que é abnegado, avançado e honesto, de tudo o que aspira a avançar, de tudo o que desperta para a construção do novo, de toda a gigantesca reserva de energia e de talentos do chamado "baixo povo", os operários e camponeses. A vitória pertence-lhes.
Fonte |
Inclusão | 09/01/2008 |