Discurso de Encerramento da Discussão do Relatório Sobre o Momento Actual

V. I. Lénine

24 de Abril (7 de Maio) de 1917

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Primeira edição: Publicado pela primeira vez em 1921, nas Obras de N. Lenine (V. Uliánov), t. XIV, parte II.
Fonte: Obras Escolhidas em Três Tomos, 1977, tomo 2, pág: 64 a 66. Edições Avante! - Lisboa, Edições Progresso - Moscovo

Tradução: Edições "Avante!" com base nas Obras Completas de V. I. Lénine, 5.ª ed. em russo, t. 31, pp. 361-363.

Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo

Direitos de Reprodução: © Direitos de tradução em língua portuguesa reservados por Editorial "Avante!" - Edições Progresso Lisboa - Moscovo, 1977.


capa

O camarada Kámenev montou habilmente o cavalinho do aventureirismo. É necessário determo-nos nisto. O camarada Kámenev está convencido e afirma, falando contra a palavra de ordem «abaixo o Governo Provisório», que nós demos provas de vacilação. Estou de acordo com ele: houve, naturalmente, vacilações em relação à linha da política revolucionária, e essas vacilações devem ser evitadas. Penso que as nossas divergências com o camarada Kámenev não são muito grandes, porque ao declarar-se de acordo connosco adopta outra posição. Em que consistiu o nosso aventureirismo? Na tentativa de recorrer a medidas de força. Não sabíamos se as massas, naquele momento alarmante, se inclinavam decididamente para o nosso lado, e a questão teria sido outra se elas se tivessem inclinado fortemente. Lançámos a palavra de ordem de manifestações pacíficas, mas alguns camaradas do Comité de Petersburgo do Partido lançaram outra palavra de ordem, que anulámos, mas não o fizemos a tempo de evitar que as massas seguissem a palavra de ordem do Comité de Petersburgo. Dizemos que a palavra de ordem «abaixo o Governo Provisório» é aventureira, que agora não se pode derrubar o governo e por isso lançámos a palavra de ordem de manifestações pacíficas. Só queríamos fazer apenas um reconhecimento pacífico das forças do inimigo, sem lhe dar batalha, mas o Comité de Petersburgo virou um pouco mais para a esquerda, o que neste caso é, naturalmente, um gravíssimo crime[N69]. O aparelho de organização revelou-se fraco: nem todos acompanham as nossas resoluções. Juntamente com a palavra de ordem correcta de «vivam os Sovietes de deputados operários e soldados!» foi dada uma incorrecta: «abaixo o Governo Provisório». No momento da acção era despropositado ir «um pouco mais para a esquerda». Consideramos isso como o maior dos crimes, como desorganização. E não teríamos permanecido nem um minuto no CC se tivéssemos permitido conscientemente tal passo. Isto aconteceu devido às imperfeições do aparelho de organização. Sim, tivemos defeitos na organização. Colocou-se a questão do melhoramento da organização.

Os mencheviques e C.a agitam a palavra «aventureirismo» mas, na realidade, foram eles que não tiveram organização nem linha de espécie alguma. Nós temos uma organização e uma linha.

Naquele momento, a burguesia mobilizou todas as forças, o centro escondia-se, e nós organizávamos uma manifestação pacífica. Só nós tínhamos uma linha política. Houve erros? Sim, houve. Só não erra quem não age. E organizar-se bem é uma coisa difícil.

Agora acerca do controlo.

Marchamos juntos com o camarada Kámenev excepto na questão do controlo. Ele vê nele um acto político. Mas, subjectivamente, entende esta palavra melhor que Tchkheídze e outros. De nossa parte, não vamos nisso do controlo. Dizem-nos: isolaste-vos a vós próprios, dissestes palavras terríveis sobre o comunismo, atemorizastes o burguês até à convulsão ... Seja! Mas não foi isso que nos isolou. O que nos isolou foi a questão do empréstimo — eis o que nos conduziu ao isolamento. Eis em que questão ficámos em minoria. Sim, estamos em minoria. E então? Ser socialista, neste tempo de embriaguez chauvinista, é estar em minoria, mas estar em maioria significa ser chauvinista. Agora, o camponês, juntamente com Miliukov, ataca o socialismo com o empréstimo. O camponês segue Miliukov e Gutchkov. É um facto. A ditadura democrático-burguesa do campesinato é uma fórmula velha.

Para empurrar o campesinato para a revolução é preciso separar o proletariado, destacar o partido proletário, pois o campesinato é chauvinista. Atrair neste momento o mujique significa entregar-se à mercê de Miliukov.

É preciso derrubar o Governo Provisório, mas não agora, nem pela via habitual. Estamos de acordo com o camarada Kámenev. Mas é preciso esclarecer. E a esta palavra que se agarra o camarada Kámenev. Não obstante, é a única coisa que podemos fazer.

O camarada Ríkov diz que o socialismo tem de vir de outros países de indústria mais desenvolvida. Mas não é assim. Não se pode dizer quem começará e quem acabará. Isto não é marxismo, mas uma paródia do marxismo ...

Marx disse que o francês começaria e o alemão terminaria. Mas o proletariado russo alcançou mais que ninguém.

Se tivéssemos dito: «não ao tsar, sim à ditadura do proletariado», isto seria saltar por cima da pequena burguesia. Mas nós dizemos: ajudai a revolução através do Soviete de deputados operários e soldados. Não se deve deslizar para o reformismo. Lutamos não para sermos vencidos, mas para sairmos vencedores. E no pior dos casos contamos com um êxito parcial. Se sairmos derrotados conseguiremos, apesar de tudo, um triunfo parcial. Consistirá em reformas. E as reformas são um meio auxiliar da luta de classes.

O camarada Ríkov diz também que não há período de transição entre o capitalismo e o socialismo. Não é assim. Isso é romper com o marxismo. A linha traçada por nós é justa e, no futuro, adoptaremos todas as medidas para conseguir uma organização na qual não haja membros do Comité de Petersburgo que não escutem o CC. Crescemos como corresponde a um verdadeiro partido.


Notas de fim de tomo:

[N69] V. I. Lénine refere-se à táctica aventureira dum pequeno grupo de membros do Comité de Petrogrado do Partido que, durante a manifestação de Abril de 1917, avançou a palavra de ordem de derrubamento imediato do Governo Provisório, o que era incorrecto e aventureirista e contrariava a linha do Partido de desenvolvimento pacífico da revolução naquele período. (retornar ao texto)

Inclusão 01/03/2011