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Primeira Edição: Discurso pronunciado no 10º Plenário do Comitê Central do Partido do Trabalho da Albânia, em 26 de junho de 1970.
Fonte: Fundação Maurício Grabois. Revista Princípios, Edição 11, Agosto, 1985, pág: 41-46.
Transcrição: Diego Grossi
HTML: Fernando A. S. Araújo
Quando falamos de problemas organizativos do Partido, devemos velar para que nunca os simplifiquemos, os restrinjamos e os minimizemos, reduzindo-os simplesmente a certas normas ou regras organizativas conhecidas. Insisto nisto porque se crê, por vezes, que estes problemas englobam apenas algumas questões, como: trabalho organizativo do Partido nas organizações de base, extensão do Partido, adesões ao Partido, organização de reuniões e algumas outras atividades análogas. Por um lado, tal concepção mecânica dos problemas organizativos do Partido é demasiado estreita e, por outro, não é justo conceber o trabalho organizativo do Partido, como limitado a decretar ou a tomar certas medidas puramente práticas, sem conteúdo político-ideológico e sem uma clara perspectiva da amplitude e da profundidade do resultado procurado.
Os grandes educadores, Marx, Engels, Lênin e Stalin ensinam-nos que na luta contra a burguesia, pelo triunfo da revolução proletária, a classe operária nada mais tem para opor à força da opressão e da exploração da ordem capitalista do que a força de sua organização de ferro e a sua consciência de classe. Mesmo depois da tomada do poder político, na obra de construção do socialismo e do comunismo, é graças sobretudo ao seu trabalho de organização e à sua ação revolucionária consciente que a classe operária consegue superar numerosos obstáculos e dificuldades. Ora, tanto para derrubar a burguesia do poder como para edificar a nova sociedade, uma organização de ferro da classe operária implica absolutamente, e em primeiro lugar, a organização do partido do proletariado. Sem a organização deste partido, a linha política e ideológica do proletariado não pode ser posta em prática com êxito. Esta organização favorece, regula e acelera o processo em virtude do qual, nas condições materiais e revolucionárias atingidas, o fator subjetivo, a classe operária, dá o golpe final e decisivo para destruir o velho mundo capitalista e substituí-lo pelo novo mundo do socialismo e do comunismo.
Portanto, para que a ideologia e a política da classe operária sejam postas em ação com êxito, convém prestar muita atenção ao papel e à força organizativa do Partido. De outra forma, não poderão ser alcançadas vitórias ou êxitos duradouros nem na luta contra o capital, nem na luta pela manutenção do poder político nas mãos do proletariado, poder sem o qual não se pode dar o mínimo passo em frente, na edificação do socialismo e do comunismo.
Nesta ótica é que se deve lutar pelo aperfeiçoamento do trabalho de direção e de organização por parte do Partido. Uma compreensão aprofundada do papel de direção e de organização, de educação e de execução, que cabe ao Partido, constitui uma premissa indispensável para ter um Partido do proletariado poderoso, temperado nas batalhas, capaz de compreender corretamente todos os problemas, no plano político e ideológico, em qualquer situação, um partido que saiba organizar perfeitamente seu trabalho para aplicar sua linha. E a sua linha é rica e apresenta muitos aspectos. Por isso, devemos persuadir-nos bem de que uma justa compreensão das questões organizativas do Partido nos fornece uma arma para organizarmos corretamente o trabalho por toda parte, em todos os setores, para levar a cabo as tarefas que cada novo estágio de desenvolvimento nos apresenta.
As questões organizativas do Partido não podem ser destacadas do seu trabalho relativo a todas as tarefas e a todos os problemas diversos que constituem a sua linha. A política não pode ser concebida separada da organização que tende a concretizar esta linha prática, e nem uma nem outra podem ser concebidas nem postas em execução no que respeita a nosso Partido, sem serem inspiradas, impregnadas e guiadas pela ideologia marxista-leninista. Ao andar em frente com firmeza e com passo revolucionário, o nosso Partido adquire uma força de aço e torna-se capaz de resolver corretamente os problemas políticos, ideológicos, econômicos culturais e militares.
Sabe-se que o trabalho de organização do Partido, suas formas, seus métodos e seu estilo não são uma coisa inerte, trata-se, antes, de uma coisa dinâmica, mutável, e que deve modificar-se de acordo com o estágio de desenvolvimento dos fatores materiais e dos fatores subjetivos, de acordo com as necessidades do próprio reforço do Partido, do Poder e da ordem sócio-econômica socialista no seu conjunto.
Como sabemos, hoje, toda a vida do nosso país se caracteriza pelo número de iniciativas e de movimentos revolucionários e por uma larga participação das massas. A classe operária, o campesinato cooperativista, todos os trabalhadores manuais e intelectuais estão empenhados em ações de massas. A juventude escolar e universitária participa largamente no trabalho produtivo nas cidades e nos campos. Toda a população foi integrada numa preparação e num treinamento militares sistemáticos para a defesa da Pátria. Por toda parte os trabalhadores lutam pelo reforço e pelo aprofundamento da democracia socialista, para aumentar e alargar sua participação ativa na direção do país, da economia e da cultura. Temos ainda muitos outros testemunhos do mesmo gênero. Põe-se o problema: podemos prosseguir o trabalho organizativo do Partido sob todas as formas? Este ritmo e estes métodos podem servir-nos para realizar as novas tarefas, para resolver os problemas novos que esta situação revolucionária, este ímpeto revolucionário, fazem surgir? É evidente que não.
Que convém então fazer? Devemos refletir, procurar e encontrar formas de trabalho e de organização novas, apropriadas às situações novas, que abram caminho aos fenômenos novos e concorram para o seu desenvolvimento e para o seu aperfeiçoamento. Os antigos métodos e formas de trabalho de organização não permitem cumprir as tarefas e resolver os problemas que a condução de ações de massas e de assistência mútua suscitam não ao nível de uma equipe ou de uma brigada de cooperativa, mas de toda a cooperativa, e isto não só nos limites desta, mas também pode ser verdade para as empresas de Estado.
Quando se dá uma diretiva definem-se, igualmente, as formas de organização do trabalho que permitirão pô-la em prática. Todos, e em primeiro lugar os comunistas, devem concorrer fortemente para que a diretriz formulada, tal como as formas organizativas que a acompanham, sejam as mais justas, as mais apropriadas possíveis ao problema dado. Do mesmo modo, todos, e em primeiro lugar os comunistas, devem compreender perfeitamente a diretiva, o que lhes permitirá em seguida pô-la em prática.
Contudo, tanto uma diretiva em si mesma como a organização da sua aplicação podem comportar erros. Esses erros revelam-se na prática, e esta não deve ser seguida passivamente, mas de maneira revolucionária. Que quero dizer com isto? Quero dizer que todos os operários, quer sejam comunistas, quer sem-partido – que verificam defeitos no decorrer do seu trabalho e que têm boas idéias sobre os meios de os corrigir e perspectivas ainda mais claras sobre o problema levantado – devem propor retificações.
Do mesmo modo, a idéia de que um comunista ou um trabalhador sem-partido não devem poder avançar essas sugestões senão perante a organização de base ou a direção, também não é justa.
Ninguém proíbe a discussão direta para a melhoria do trabalho, pelo contrário, o Partido apóia-a e encoraja-a. Quanto melhor as sugestões e as propostas, que a organização de base ou a direção recebem, tiverem sido preparadas e debatidas externamente tanto melhor será. Ao discutirem os seus problemas mesmo fora das organizações e das vias oficiais, os operários, membros do Partido ou sem-partido, nada fazem de mal, pelo contrário, fazem bem em discutir uma recomendação ou uma diretiva eivada de erros, uma forma de organização manca, e, depois de terem confrontado suas idéias – o que não se faz necessariamente nos encontros oficiais –, fazem bem em apresentar o problema perante a organização de base ou perante a direção, segundo o caso, para o discutirem desta vez de maneira colegial e, se necessário, tomar decisões.
Quando dizemos que a organização de base deve agir por si própria, mostrar-se revolucionária e combativa, não entendemos por isso que se deve comportar assim apenas como instância, mas que, a exemplo da organização, cada um dos seus membros deve também agir desta maneira na prática. Sem comunistas revolucionários não pode haver organização revolucionária. Portanto, se um comunista, armado com as decisões e as diretivas do Partido, não se mostrar ativo sobre cada problema e em cada uma de suas atividades revolucionárias cotidianas, não se esforçar por encontrar as formas apropriadas de organização, os métodos e o estilo de trabalho mais indicados, não pode desempenhar como deve o seu papel de dirigente, de comunista.
Ele pode e deve, sendo necessário, agir também de modo isolado para aplicar uma dada diretiva e não contemporizar, como fazem certos comunistas que não são capazes da mínima iniciativa e se fingem agarrar às formas organizativas estabelecidas, na expectativa de a organização de base se reunir para criticar qualquer camarada que infrinja a diretiva ou a disciplina.
E por que um comunista, na fábrica ou noutro local, deveria esperar pelas reuniões regulares para criticar um camarada? Nos minutos de repouso ele pode chamar seus camaradas e, em particular, aquele que importa criticar, e dizer-lhe umas verdades. Que regra se infringe então? Nenhuma. Pelo contrário, o camarada corrige-se. E, se não se corrigir, então seu caso deve ser evocado na reunião da base.
Se agirmos assim para todos os problemas que surgem perante os comunistas na sua vida cotidiana, muitas questões e diretivas serão retificadas, muitas formas de organização do trabalho melhoradas, muitos problemas de princípios e plenos de interesse serão levantados para as organizações de base e para as instâncias do Partido e do Estado.
Dizemos que o pensamento é o reflexo do mundo material, mas acontece com freqüência, sobretudo os que não refletem profundamente nestes problemas, considerar o pensamento qualquer coisa que não se submete à coordenação e à organização, quando, de fato, o pensamento, em todos os casos, qualquer que seja a forma de que se reveste, é acompanhado por uma forma de organização, de coordenação, de disposição. Na realidade, em nossos pensamentos, quando refletem corretamente a realidade, manifesta-se a mesma organização, a mesma disposição que existem no mundo exterior, noutras palavras, a lógica, a dialética objetiva do mundo material. Por outro lado, para que o pensamento seja claro e compreensível, para aquele que o concebe, e para os outros por maioria de razão, deve absolutamente ser organizado, ordenado, arranjado. Se não as idéias aparecerão obscuras, os problemas serão colocados a trouxe-mouxe, as conclusões retiradas não serão lógicas.
Devemos dar grande importância aos problemas de organização, que dizem respeito a todos os problemas, pois a organização tem um profundo significado teórico e filosófico. A vida da sociedade desenvolve-se de acordo com certas leis, tal como a natureza tem as suas próprias leis. Queiramos ou não, as leis agem, cumprem o seu trabalho. Mas os homens não são impotentes perante elas. Têm condições para as conhecer e utilizar para promover a produção e a vida da sociedade em seu conjunto. As possibilidades de conhecimento e de utilização das leis variam segundo os regimes sociais. Com a passagem para o socialismo, estas possibilidades aumentam imensamente. É aqui que se opera a grande viragem qualitativa no desenvolvimento da sociedade, viragem definida por Engels como uma passagem do reino da necessidade para o da liberdade. Mas as possibilidades são uma coisa e a sua realização na prática outra.
Uma larga e justa utilização das leis da sociedade e da natureza a favor do desenvolvimento, sob todos os aspectos, da sociedade e do homem, depende diretamente do nosso trabalho de organização, da criação das condições e da adoção das medidas indispensáveis que tornam possível uma ação frutuosa destas leis. Uma organização do trabalho que não tivesse em conta as exigências das leis objetivas criaria sérios perigos que levariam a graves fracassos.
A organização não deve ser considerada como uma coisa secundária, ela constitui a base da aplicação de uma lei, de uma dada diretiva, e faz parte integrante destas. Uma organização perfeita, em qualquer domínio que seja, constitui qualquer coisa de científico e de muito importante. Uma organização científica perfeita ajuda não só a aplicar uma lei, uma dada diretiva, a ciência em geral, mas também a promover esta última, a revelar os aspectos desconhecidos das leis e dos fenômenos. Pelo contrário, uma má organização, não científica, que não tenha em conta todos os dados objetivos e subjetivos é nociva à teoria e à prática, trava-as. Assim, a organização constitui este elemento importante que participa, ao mesmo tempo, na teoria e na prática.
Se um físico ou um químico não organizarem bem o seu trabalho, as leis científicas não podem encontrar a aplicação desejada, não podem agir. Não pode tirar conclusões nem ser conduzido a novas descobertas a partir de fenômenos e de fatos que, na realidade, não chegaram a produzir-se, ou que se produziram defeituosamente, porque a organização do trabalho, em lugar de ser perfeita e científica, foi insuficiente. É isto que se produz em todos os domínios, na indústria, na agricultura, no ensino e na cultura; é, bem entendido, também o que acontece no trabalho teórico; tal como na prática revolucionária do Partido.
A organização é um poderoso meio que contribui para promover o desenvolvimento, as atividades práticas, o pensamento; é uma ciência que não nasce espontaneamente no homem, mas que se adquire no trabalho, é uma ciência sem limites determinados, que não é idêntica para todas as atividades e em qualquer altura, nem estabelecida de uma vez por todas sob uma forma estereotipada. A organização perfeita é uma arte que se fundamenta em vastos conhecimentos teóricos, políticos, científicos e organizativos, que sabe combinar judiciosamente os dados, que procura uma visão clara dos objetivos a atingir, que se caracteriza por um espírito progressista, revolucionário, que não teme as dificuldades, mas que as prevê. A organização perfeita baseia-se numa vontade firme e num trabalho incansável; tem em conta os ganhos de tempo, a aplicação da técnica mais recente, tal como outros dados.
Se os considerarmos, portanto, nesta ótica, facilmente compreenderemos a grande importância que devemos atribuir aos problemas de organização.
Queria agora deter-me um pouco também sobre outro problema: o trabalho a desenvolver junto às pessoas, para esclarecer quais devem ser o método e o estilo de trabalho. Todos sabemos bem que uma organização tão perfeita e de grau tão elevado quanto possível da atividade geral do Partido – como a grande organização socialista da produção, como um trabalho de envergadura com a participação continuamente crescente e coletiva das massas – não poderia realizar-se sem um trabalho melhor organizado, mais qualificado e que seja mais atento junto às pessoas. Na realização desse objetivo, a par de seu conteúdo marxista-leninista, com seu espírito revolucionário militante de classe, o método e o estilo do nosso trabalho de Partido desempenham um papel muito importante. Trata-se de penetrar, pelo nosso trabalho, nos espíritos e nos corações das massas e dos indivíduos, de os convencer coletiva e individualmente, de os tocar e emocionar, de os estimular e os empenhar em ações, de os exaltar para a luta pela grande causa do Partido e da revolução. Trata-se de um trabalho complexo. Requer uma propaganda persuasiva apoiada sobre sólidos alicerces científicos. E é, ao mesmo tempo, uma arte particular, que todo o Partido, todos os nossos quadros, os nossos organizadores e os nossos propagandistas devem possuir.
A formação da consciência socialista é um processo complexo. No decorrer deste processo, chocamos tanto contra a psicologia social dos homens como contra sua psicologia individual. Por isso, é indispensável conhecer bem tanto a opinião social em seu conjunto como conhecer não só suas opiniões político-ideológicas e o seu comportamento em geral, mas também sua psicologia, sua mentalidade na vida, suas necessidades e suas exigências, não só no plano material, mas também sob o aspecto social e psicológico. E se trabalharmos atentamente, veremos que esses fenômenos comportam traços dominantes, diferenciações e tonalidades que variam de acordo com as diversas camadas sociais, as diversas idades, o sexo, que varia da planície para a montanha, de uma região do país para outra, sem falar de sua manifestação particular de um indivíduo para outro. Em nosso trabalho junto às pessoas, em nosso trabalho de organização, de propaganda e de educação junto a elas devemos absolutamente tomar em consideração todos esses fenômenos.
Como marxistas-leninistas que somos, é evidente para nós que a expansão da personalidade de cada indivíduo só é possível no seio de uma comunidade.
Por isso damos uma importância particular às formas e aos métodos de organização geral do trabalho coletivo, assim como à educação dos homens no seio dos coletivos. Mas, paralelamente, o Partido não cessa de sublinhar a necessidade de não nos contentarmos com o trabalho geral conduzido nos coletivos, de não nos limitarmos apenas a este trabalho, de não ignorarmos as particularidades individuais dos homens, as preocupações que lhes são próprias, mas, pelo contrário, de nos mostrarmos ativos nesse campo, de conhecermos e tratarmos estas preocupações de maneira aprofundada, de lhes darmos uma solução justa, adaptando-lhes também as atitudes individuais oportunas.
Precisamente assim, ao mesmo tempo como uma ciência e como uma arte, o Partido encarou o trabalho junto às pessoas. Assim agiu durante a Luta de Libertação Nacional, conduzindo ao mesmo tempo um vasto trabalho de massas e um trabalho diferenciado e individual junto a pioneiros, jovens, velhos, mulheres, camponeses, intelectuais etc. Será suficiente, enfim, recordar a este propósito o grande trabalho muito frutuoso levado a cabo nestes últimos anos pela resolução de problemas sociais e ideológicos agudos, nomeadamente na luta pela emancipação completa da mulher e a elevação da personalidade dos jovens sob todos os seus aspectos, na luta contra a religião e os costumes atrasados; lembrar a capacidade e habilidade do nosso Partido na luta pela solução destes problemas penetrando precisamente na consciência e na psicologia das pessoas, tanto das massas como dos indivíduos, atirando abaixo ousadamente o que é ultrapassado e apoiando com todas as forças o novo revolucionário e socialista, que floresce em seus domínios igualmente.
Mas não é justo contentarmo-nos com o que realizamos e não vermos os defeitos sérios que se verificam no trabalho junto às pessoas. Não devemos contentarmo-nos com uma visão exterior geral e de tabelas do conjunto dos fenômenos sociais, sobretudo no que diz respeito ao universo espiritual interior dos homens. Se ficarmos por aí, não poderemos lutar ativamente contra o formalismo e a burocracia no trabalho junto às pessoas, contra a estandardização e a uniformidade deste trabalho. Veremos então levantar-se diante de nós problemas de caráter ideológico e político agudos.
O trabalho do Partido é, antes de mais nada, um trabalho junto às pessoas e é multiforme, pois os próprios homens são diferentes, com seus interesses, suas exigências, seus problemas e suas preocupações das mais variadas. Sua vida é um conjunto complexo, e por isso o Partido deve procurar tocar este conjunto e não ser unilateral em seu trabalho. Não se deve pedir unicamente trabalho aos homens, produção, altos rendimentos, a realização dos planos. Essas exigências são justificadas, indispensáveis e importantes, mas não constituem um objetivo em si mesmas. Nossa terra, tudo o que se produziu e se criou foi em nome e no interesse do homem trabalhador. Deste ponto de vista, convém criticar e denunciar severamente o método e a prática de certos quadros, sobretudo dos órgãos do Poder e da economia, que se interessam por tudo, dos parafusos às vacas, mas esquecem o que é essencial e determinante em todo o trabalho – o homem, a solicitude por sua vida, sua saúde, sua segurança no trabalho, sua higiene, seu repouso, sua educação e seus lazeres, a preocupação de lhe assegurar o ambiente mais apropriado etc.
Os homens da nossa terra são maravilhosos. Caracterizam-se pela simplicidade proletária, pelo espírito de sacrifício e abnegação, pelo entusiasmo e pela determinação de lançar-se mesmo ao fogo pela causa do Partido e do povo. Isso é uma manifestação elevada de confiança no Partido, uma manifestação dos elos estreitos que o unem ao povo. É uma força colossal, a força que torna nosso Partido invencível e nosso povo indomável. Temos obrigação de canalizar devidamente esse entusiasmo, essa confiança no Partido, de o utilizar como uma arma poderosa para superar todos os obstáculos e vencer todas as dificuldades, para promover constantemente nossa revolução e nossa construção socialistas. Mas, a este respeito gostaria de sublinhar que não devemos tolerar qualquer veleidade de especulação sobre essas altas virtudes de nossos trabalhadores. E que devemos mesmo condenar qualquer manifestação desse gênero. Se os homens da nossa terra são simples e sem pretensões, isso não é razão para nos preocuparmos menos com a satisfação de suas justas e legítimas necessidades materiais e espirituais. Ou então se os homens da nossa terra estão prontos a responder a qualquer apelo do Partido não é justo. E, de resto, não há qualquer razão para isso, que os façamos reunir-se horas antes do início dos comícios ou das manifestações. Tal como não é justo que façamos levantar as pessoas antes da alvorada para as ações de massas, quando o trabalho se faz efetivamente durante o dia e se leva a cabo em algumas horas. Das duas, uma: ou certos camaradas não têm confiança no entusiasmo das massas, ou então, por estas maneiras de proceder, procuram encobrir suas fraquezas na organização do trabalho, a não ser que sejam as duas coisas ao mesmo tempo.
O trabalho junto às pessoas requer um conhecimento aprofundado da linha do Partido, inteligência e tato em sua aplicação. Nem todos os problemas podem ser estudados e resolvidos através de formas de trabalho que reúnam as massas, nas reuniões da Frente Democrática, da Juventude, das Uniões Profissionais, ou pela imprensa. Em particular, quando se trata de problemas sociais e familiares, que atingem a vida íntima dos homens, muitas vezes a intervenção, nem sempre fundamentada, em lugar de ter efeito salutar, é nociva, suscita grandes inquietações injustificadas nas pessoas, toca profundamente o seu amor próprio e leva algumas delas a ações penosas e condenáveis por nossa moral proletária.
Não esqueçamos que os homens têm coração e sentimentos, que têm sua dignidade e sua personalidade, que não só não devemos espezinhar, mas também proteger e reforçar na via que o Partido nos indica, combatendo todas as atitudes ou ações arbitrárias da parte de quem quer que seja.
Não se trata aqui de encobrir as fraquezas ou os erros de tal ou qual pessoa, mas de saber encontrar as vias, as formas e os métodos de trabalho mais apropriados para atingir o objetivo.
Trata-se de um trabalho de natureza tal que, para levar a cabo com êxito, há que penetrar na alma das pessoas, conhecer a fundo seus pensamentos e suas inquietações, seus interesses e suas preocupações. Para o fazer, é necessário bom senso, maleabilidade tanto no trabalho junto às pessoas, a fim de criar nas relações com elas uma atmosfera calorosa e de camaradagem que permita a cada um exprimir livremente as suas idéias, apresentar abertamente os problemas, expandir-se como junto à pessoa mais íntima. Sabemos, que durante a discussão sobre o controle operário, os operários e os camponeses levantaram numerosos problemas, fizeram muitas observações sobre o trabalho e os homens. Mas até aí todas essas coisas tinham sido mantidas em vaso fechado, escondidas. Por quê? Porque eram afogadas sob o burocratismo, o oficialismo. O Partido tirou e deve tirar constantemente ensinamentos desses casos. É uma questão de grande importância, pois diz respeito a suas relações com as massas, às relações dos quadros com os trabalhadores, à defesa e ao desenvolvimento da democracia de base.
Notas de rodapé:
(1) Enver Hoxha (1908-1985) não foi apenas um talentoso dirigente político de seu país, a Albânia socialista. Foi um pensador perspicaz e um teórico brilhante que deu enorme contribuição ao enriquecimento do tesouro do marxismo-leninismo. Um setor em que foi marcante a sua contribuição foi o da construção do Partido de vanguarda do proletariado e do socialismo, como novo ordenamento econômico e social e também político. Neste seu discurso, do qual publicamos trechos. por razões de espaço, ele ressalta o papel decisivo do Partido e a importância de aplicar no socialismo métodos de trabalho que coloquem no centro das ações os homens, as massas, verdadeiros construtores da história. (Nota da Revista Princípios) (retornar ao texto)
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Inclusão | 07/02/2012 |