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Primeira Edição: L'Humanite, 25 de maio de 1922.
Fonte: Selected Works of Ho Chi Minh Vol. 1, Editora: Foreign Languages Publishing House
Transcrição: Roland Ferguson e Christian Liebl
Tradução do inglês: Gabriel Zerbetto Vera
HTML de: Fernando A. S. Araújo, maio 2007.
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Desde que o Partido Socialista Francês aceitou as “21 condições” de Moscou e se integrou à Terceira Internacional, há entre os problemas que surgiram um de especial delicadeza – a política colonial. Diferentemente da Primeira e da Segunda Internacional, ele não pode ser resolvido com expressões de posicionamento puramente sentimentais que não levam a nada. Ele deve ter um programa de trabalho bem-definido, uma política prática e efetiva.
Nesse ponto, mais do que em outros, o Partido se depara com várias dificuldades, sendo as maiores delas as seguintes:
Contando agora com os novos “protetorados” adquiridos após a guerra, a França possui: 450.000 km² na Ásia, 3.541.000 km² na África, 108.000 km² na América e 21.600 km² na Oceania, totalizando 4.120.000 km² (oito vezes seu território) e uma população de 48 milhões de habitantes. Essas pessoas falam mais de vinte línguas diferentes e a diversidade traz dificuldades para a propaganda. À exceção de algumas antigas colônias, um propagandista francês necessita de um intérprete para se fazer entender. Entretanto, as traduções têm um valor limitado, e nesses países de despotismo administrativo é um tanto difícil encontrar um intérprete para traduzir discursos revolucionários.
Existem outras inconveniências: embora os nativos de todas as colônias sejam igualmente oprimidos e explorados, seu desenvolvimento intelectual, econômico e político difere fortemente de uma região para outra. Entre Anã e o Congo, Martinica e Nova Caledônia, não há nada em comum, exceto a pobreza.
Em suas teses sobre a questão colonial, Lênin afirma claramente que “os trabalhadores dos países colonizados estão propensos a dar o mais forte apoio aos movimentos de libertação dos países dominados”. Para isso, os trabalhadores da metrópole devem saber o que é realmente uma colônia; devem estar cientes sobre o que de fato acontece por lá e do sofrimento – mil vezes mais intenso que o deles – imposto a seus irmãos, os proletários coloniais. Em resumo, eles devem se interessar pela questão.
Infelizmente, existem militantes que ainda pensam que colônia é nada mais do que um país com um monte de areia para andar e de sol para queimar a cabeça, mais algumas poucas palmeiras e pessoas de cor, e só. E eles não demonstram o menor interesse pelo assunto.
Nos países colonizados – tanto na velha Indochina como no novo Daomé – a luta de classes e a força proletária são fatores desconhecidos pela simples razão de que lá não existem grandes indústrias ou empresas comerciais, nem organizações de trabalhadores. Aos olhos dos nativos, o bolchevismo – uma palavra bastante vívida e expressiva por ser freqüentemente utilizada pela burguesia – significa tanto a destruição de tudo como a emancipação do domínio estrangeiro. A primeira acepção da palavra afugenta a massa ignorante e temerosa de nós; a segunda os orienta rumo ao nacionalismo. Ambos os sentidos são igualmente perigosos. Apenas uma pequena fração da elite intelectual sabe o que significa comunismo. Mas essa nata, por pertencer à burguesia nativa e apoiar os colonizadores burgueses, não tem interesse de que a doutrina comunista seja entendida e disseminada. Pelo contrário. Como o cachorro da fábula, eles preferem ornar uma coleira e ter seu pedaço de osso. Generalizando, as massas são profundamente rebeldes, mas completamente ignorantes. Elas querem se libertar, mas não sabem como.
A mútua ignorância dos dois proletariados resulta em preconceitos. Os trabalhadores franceses vêem os nativos como humanos inferiores e insignificantes, incapazes de entender e muito menos de agir. Os nativos consideram todos os trabalhadores franceses como exploradores perversos. O imperialismo e o capitalismo não hesitam em tirar vantagem dessa desconfiança mútua e dessa hierarquia racial artificial para frustrarem a propaganda e dividirem as forças que deveriam se unir.
Os colonizadores franceses podem não ter a habilidade de ampliar seus recursos coloniais, mas são mestres na arte da repressão selvagem e na sustentação de uma lealdade feita para quem os serve. Os Gandhis e os De Valeras teriam ido para o paraíso há muito tempo se tivessem nascido numa das colônias francesas. Cercado por todos os refinamentos de cortes marciais e tribunais especiais, um militante nativo não pode educar seus irmãos oprimidos e ignorantes sem correr o risco de cair nas garras de seus civilizadores.
Frente a tais dificuldades, o que o Partido deve fazer?
Intensificar a propaganda para superá-los.
Inclusão | 07/06/2007 |