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Capitulo V — A Segunda e a Terceira Internacional
A revolução comunista só poderá vencer se for uma Revolução mundial. Se num país, por exemplo, a classe operária toma conta do poder, mas nos outros, o proletariado permanece sinceramente devotado ao capitalismo, esse país será finalmente estrangulado pelos grandes Estados de rapina. De 1917 a 1919, todas as potencias tentaram estrangular a Rússia dos sovietes; em 1919, estrangularam a Hungria dos Sovietes. Não puderam, porem, estrangular a Rússia dos sovietes, porque sua situação interna era tal que deviam temer, também elas, ser derrubadas pelos seus próprios operários que reclamavam a retirada das tropas da Rússia. A ditadura proletária num país isolado está continuamente ameaçada, se não encontra apoio entre os operários dos outros países. Demais, nesse país, a organização econômica é muito difícil, porque nada, ou quase nada, ele recebe do estrangeiro; está bloqueado por todos os lados.
Mas se, para o triunfo do comunismo, a vitória da Revolução mundial e a solidariedade dos operários entre si são necessárias, isto significa que a condição indispensável da vitória consiste na solidariedade internacional da classe operária. Assim como os operários das diferentes fábricas sustentarem-se mutuamente, criarem uma organização comum e conduzirem a luta comum contra todos os fabricantes, assim também os operários dos diferentes países burgueses só poderão vencer se marcharem em comum, em fileiras cerradas, se não criarem dissensões entre si, e se, pelo contrário, unirem-se de país a país, sentirem-se uma classe única com os mesmos interesses. Só uma confiança mútua, perfeita, uma união fraternal, a unidade da ação revolucionária contra o capital mundial, garantirão a vitória da classe operária. O movimento comunista operário só poderá vencer como movimento internacional.
A necessidade da luta internacional do proletariado foi reconhecida há muito tempo. À véspera da Revolução de 1884, já existia uma organização secreta internacional: a Liga dos Comunistas. À sua frente, estavam Marx e Engels. No congresso dessa Liga, realizado em Londres, eles foram encarregados de compor um manifesto em nome da Liga. Assim nasceu o Manifesto Comunista, no qual esses grandes campeões do proletariado expuseram pela primeira vez, a doutrina comunista.
Em 1864, surgiu, sob a direção de Marx a Associação Internacional dos Trabalhadores, a Primeira Internacional. Ela compreendia muitos chefes do movimento operário de diferentes paises, mas havia pouca unidade nas suas fileiras. Além disso, não se apoiava sobre largas massas operárias e mais se assemelhava a um grupamento internacional de propaganda revolucionária. Em 1871, os membros da Internacional participaram da revolução dos operários parisienses (a Comuna), o que provocou em toda parte, a perseguição à Internacional. Em 1874, dissolveu-se, particularmente enfraquecida pela luta interna entre os partidários de Marx e os do anarquista Bakunin. Depois da sua dissolução, os partidos socialistas começaram a nascer em diversos países, de acordo com o desenvolvimento da indústria. Fez-se logo sentir a necessidade de um apoio recíproco, e em 1889 foi convocado um congresso socialista internacional, composto de representantes dos partidos socialistas de diversos países. A Segunda Internacional foi fundada, mas devia desmoronar-se ao tempo da declaração da Guerra Mundial. As razões desse fato serão explicadas mais adiante.
Já no Manifesto Comunista, Marx havia proclamado a palavra de ordem: “Proletários de todos os paises, uni-vos!” Eis o que, a esse respeito, escrevia Marx, no fim do Manifesto: “Os comunistas não se rebaixam a dissimular suas opiniões e seus fins. Proclamam resolutamente que esses fins não poderão ser atingidos sem a derrubada violenta de toda a ordem social atual. Que as classes dominantes tremam à idéia de uma revolução comunista! Os proletários nada têm a perder com ela exceto as cadeias. Têm um mundo a ganhar. Proletários de todos os paises, uni-vos!”
Quando, em agosto de 1914, explodiu a Grande Guerra Mundial, quase todos os partidos social-democratas se colocaram ao lado de seus governos e sustentaram, com estes, a sangrenta matança. Só o proletariado da Rússia, da Sérvia e, mais tarde, da Itália, declarou guerra a guerra e convidou os operários para a insurreição. Os deputados social-democratas da França e da Alemanha votaram, no mesmo dia, em seus respectivos Parlamentos, os créditos de guerra. Em vez de provocar uma sublevação geral contra a burguesia criminosa, os partidos socialistas dispersaram-se e cada um se alistou sob a bandeira de seu “próprio” governo burguês. A guerra recebeu, assim, o apoio direto dos partidos socialistas, cujos chefes abandonaram e traíram o socialismo. Foi quando a Segunda Internacional encontrou sua morte inglória.
Coisa curiosa: apenas alguns dias antes da traição, a imprensa dos partidos socialistas e seus chefes tinham atacado a guerra. Assim, por exemplo, G. Hervé, hoje traidor do socialismo francês, escrevia em seu jornal A Guerra Social (ao qual deu mais tarde, o titulo de Vitória): “Bater-se para salvar o prestigio do czar!... Que alegria morrer por uma causa tão nobre!” Três dias antes da guerra, o Partido Socialista francês publicava um manifesto contra a guerra e os sindicalistas franceses proclamavam em seu jornal: “Operários, se sois covardes... protestai!’ A social-democracia alemã organizava grandes comícios de protesto. Todos ainda conservavam na memória a decisão do Congresso Internacional de Stuttgart, dizendo que, em caso de guerra, era preciso lançar mão de todos os meios para “agitar as camadas populares mais profundas e precipitar a queda do capitalismo”. Mas no dia seguinte, os mesmos partidos e seus chefes afirmavam a necessidade de “salvar a pátria” (isto é, o Estado de rapina de sua própria burguesia), e o Arbeite Zeitung de Viena declarava que era preciso defender a humanidade alemã” (!)
Para compreender as razões da falência e do fim inglório da Segunda Internacional, é preciso fazer uma idéia exata das condições do movimento operário, antes da guerra. O capitalismo dos países europeus e dos Estados Unidos desenvolvia-se, então, à custa das colônias; era o mais repugnante e sangrento de todos os aspectos do capitalismo. Por uma exploração bárbara dos povos coloniais, pela pilhagem, pelo engodo, pela violência, extorquíam-se-lhes riquezas que iam aproveitar abundantemente aos tubarões do capital financeiro europeu e americano. Quanto mais forte e poderoso era um truste de Estado capitalista no mercado mundial, tanto maior lucro auferia-o da exploração das colônias. Graças a essa mais-valia podia pagar aos seus escravos assalariados um pouco mais que o salário comum. Não a todos, é certo, mas, pelo menos, aos mais instruídos. Certas camadas da classe operária foram, assim, corrompidas pelo capital. Raciocinavam do seguinte modo: “Se a nossa indústria encontra vazão nas colônias africanas, está bem, porque melhor se desenvolverá; os lucros dos nossos patrões aumentarão e nós também lucraremos”. Assim era que o Capital agrilhoava ao seu Estado os seus escravos assalariados.
Esse fato já fora notado pelos fundadores do comunismo cientifico. F. Engels, em 1882, escrevia a Kautsky: “Perguntais o que pensam os operários ingleses da política colonial? Exatamente o que pensam da política em geral. Aqui não existe um só partido operário, só há os conservadores e os radical-liberais, e os operários limitam-se a participar zelosamente do gozo dos bens que acarreta o monopólio inglês no mercado mundial e nas colônias”.
Desenvolveu-se, assim, um servilismo particular, a dedicação do operário à sua burguesia, sua subserviência diante dela. O mesmo Engels escrevia em 1889: “O que há de mais desolador aqui (na Inglaterra), é a respeitabilidade burguesa que os operários trazem até à medula. O respeito inato para com os “melhores” (betters) e “superiores” arraigou-se há tão longo tempo e tão solidamente, que os senhores burgueses enredam os operários muito facilmente. Estou convencido, por exemplo, de que John Burns (um dos chefes operários da época) se orgulha mais de sua popularidade junto ao cardeal Manning, ao Prefeito e, em geral, junto à burguesia, do que com sua popularidade no seio de sua própria classe”.
As massas operárias não tinham o hábito, nem a oportunidade, de conduzir a luta internacionalmente. Suas organizações limitavam-se, na maioria dos casos, a agir no interior do Estado de sua própria burguesia. E a essa “própria” burguesia interessava em sua política colonial uma parte da classe operária, particularmente os operários qualificados. Os chefes das organizações operárias mordiam nesse anzol, assim como a burocracia operária e os representantes do Parlamento, que tinham lugares mais ou menos lucrativos e se haviam habituado a uma atividade pacífica, tranqüila, legal.
Já falamos do aspecto sangrento do capitalismo, aparecendo em toda a sua crueldade, sobretudo nas colônias. Na própria Europa e na América, a indústria progredia rapidamente e a luta operária assumia formas mais ou menos pacificas. Não se dera ali uma grande revolução (salvo na Rússia) desde 1871, e, na maioria dos países, desde 1848. Estava-se habituado à idéia de que o capitalismo se desenvolveria, no futuro, do mesmo modo pacifico, e, quando se falava da próxima guerra, pouco se lhe dava crédito.
Uma parte dos operários — e, entre eles, os chefes operários — se compenetrava cada vez mais da idéia de que a classe operária devia interessar-se, também, pela política colonial e devia, com a sua burguesia, velar pela prosperidade dessa “questão nacional”. Igualmente, as massas pequeno-burguesas começavam a ingressar na social-democracia. Não é de admirar que, no momento decisivo, a dedicação ao Estado dos bandidos imperialistas prevalecesse sobre a solidariedade internacional da classe operária.
Sendo assim, a principal causa da queda da Segunda Internacional foi que a política colonial e a criação de verdadeiros monopólios pelos grandes trustes capitalistas de Estado tinham acorrentado os operários e, sobretudo, os “dirigentes” da classe operária ao Estado imperialista da burguesia.
Na história do movimento operário, viu-se também, outrora, o operário fazer causa comum com seus opressores; por exemplo: quando este comia à mesa do patrão. Considerava, então, a oficina do patrão como sua e o patrão não era, para ele, um inimigo, mas “o homem que lhe dava trabalho”. Só com o decorrer dos tempos, é que os operários das diversas fábricas começaram a unir-se contra todos os patrões. Quando os grandes países se transformaram também em “truste nacionais capitalistas”, os operários demonstraram-lhes, a princípio, a mesma dedicação que tinham antes por seus patrões particulares.
Só a guerra ensinou-lhes que não deviam colocar-se ao lado de seu próprio Estado burguês e sim destruir todo Estado burguês e marchar para a ditadura do proletariado.
A traição à causa operária foi justificada pelos chefes dos partidos socialistas da Segunda Internacional em nome da “defesa nacional”.
Já vimos que, numa guerra imperialista, nenhuma das grandes potências se defende, mas todas atacam. A palavra de ordem de defesa da pátria burguesa nada mais era do que um engodo, com o qual os chefes procuravam dissimular sua traição.
Examinemos mais de perto essa questão.
Que é, no fundo, a pátria? Que se compreende por essa palavra? Os homens que falam a mesma língua? A “Nação”? Nada disto. Tomemos, por exemplo, a Rússia czarista. Quando burguesia russa, em altos brados, reclamava a defesa da pátria, não se referia a uma pátria habitada por uma só nacionalidade, digamos os Grande-Russos; não, pois se tratava de uma pátria habitada por diferentes povos. Na realidade, de que se tratava? Nada mais do que do poder de Estado da burguesia e dos proprietários agrícolas. Os operários russos eram chamados a “defendê-lo” (ou antes, a dilatar suas fronteiras até Constantinopla e Cracóvia). Quando a burguesia alemã clamava pela necessidade de defesa da Pátria (Vaterland), de que se tratava? Ainda uma vez, do poder da burguesia alemã, do alargamento das fronteiras do Estado imperialista dos Hohenzollern.
Aqui, é necessário averiguar-se, sob a dominação capitalista, a classe operária possui, de fato, uma pátria. Marx, no Manifesto Comunista, respondeu: “Os operários não têm pátria.” Por quê? Muito simplesmente porque, sob o domínio capitalista, eles não têm nenhum poder, porque sob o capitalismo todo o poder está nas mãos da burguesia; porque, sob o capitalismo, o Estado nada mais é que um instrumento para a opressão e a repressão da classe operária.
O dever do proletariado é destruir o Estado da burguesia, e nunca o defender. O proletariado só terá pátria quando tiver conquistado o poder do Estado e se tornar senhor do pais. Então, e então somente, terá ele uma pátria e será obrigado a defendê-la, O que ele defenderá será, nesse caso, o seu próprio poder e a sua própria causa, e não de seus inimigos, não a política de pirataria aos seus opressores.
A burguesia compreende isso muito bem. Por exemplo, quando o proletariado russo conquistou o poder, a burguesia russa empenhou-se na luta contra a Rússia por todos os meios, aliando-se com todo o mundo: com os alemães, os japoneses, os americanos, os ingleses, e, se fosse preciso, com o diabo e a sua avó. Por quê? Porque perdera o poder na Rússia, sua pátria de pirataria, de pilhagem, de exploração burguesa. A todo o momento, ela está pronta a fazer desaparecer a Rússia proletária, isto é, o poder dos Sovietes. O mesmo se deu na Hungria. A burguesia proclamou a “defesa” da pátria húngara, enquanto o poder esteve em suas mãos: mas, quando o perdeu, aliou-se rapidamente com os romenos, os tchecoslovacos, os austríacos, para sufocar, com seu auxílio, a Hungria proletária. Isso quer dizer que a burguesia sabe muito bem do que se trata. Por meio da bela fórmula da pátria, obriga todos os cidadãos a fortificar seu próprio poder burguês e condena por alta traição os que não se submetem a isso. Em compensação, não recua diante de nada para despedaçar a pátria proletária.
É preciso que o proletariado aprenda com a burguesia a fazer saltar a pátria burguesa, e não a defendê-la ou a dilatá-la: mas, quando se trata de sua própria pátria, é necessário que ele a defenda com todas as forças, até a última gota de sangue.
Nossos adversários podem objetar a tudo isso: “Reconhecereis, no entanto, que a política colonial e o imperialismo auxiliaram o desenvolvimento industrial das grandes potências e que, da mesa dos senhores, algumas fatias caíram para a classe operária. Por conseguinte e, por isto mesmo, é preciso defender o patrão e ajudá-lo na concorrência!”.
Absolutamente, não. Suponhamos dois fabricantes: Schultz e Petrov. Eles disputam o mercado. Schultz diz aos seus operários: “Amigos, defendei-me com todas as forças. Fazei todo o mal que puderdes contra a fábrica de Petrov, a ele pessoalmente, aos seus operários, etc. Só assim, minha fábrica irá adiante, liquidarei Petrov, os negócios prosperarão. E, por tudo isso, dar-vos-ei meio rublo”. Petrov diz o mesmo aos seus operários. Suponhamos que Schultz seja o vencedor. Nos primeiros tempos, talvez, dará o meio rublo a mais; mais tarde, porém o recuperará. E se os operários de Schultz, querendo declarar-se em greve, pedirem o auxílio dos antigos operários de Petrov, estes últimos replicarão: “Será possível? Depois do que fizestes, ainda apelais para nós? Ide-vos embora!” E a greve comum será irrealizável.
Enquanto os operários estiverem divididos, o capitalista será forte. Uma vez vencido o concorrente, volta suas armas contra os operários divididos. Os operários de Schultz haviam percebido, durante algum tempo, meio rublo a mais; mais tarde, porém, o perderam. O Estado burguês é uma associação de patrões. Quando essa associação quer engordar à custa dos outros, pode, à custa do dinheiro, comprar o consentimento dos operários.
A falência da Segunda Internacional e a traição ao socialismo pelos chefes operários só se verificaram porque os chefes concordaram em “defender” os senhores e aumentar as migalhas caídas da mesa dos senhores. Mas, com o desenrolar da guerra, quando os operários, traídos, ficaram divididos, o capital, em todos os países, desabou sobre eles um peso formidável. Os operários viram que se haviam enganado que os chefes socialistas os tinham vendido por um prato de lentilhas. Começou, então, a regeneração do socialismo. Os protestos surgiram, a princípio, das fileiras dos operários mal pagos, não qualificados. A aristocracia operária (os impressores de todos os países, por exemplo) e os antigos chefes continuaram, ainda por muito tempo, a sua traição.
Além da palavra de ordem de defesa da pátria (burguesa) um bom meio de enganar as massas operárias foi o que se chama o pacifismo. Que significa isso? Consiste na opinião gratuita de que, nos próprios limites do capitalismo, sem revolução, sem insurreição do proletariado, etc., pode reinar na terra uma paz perpétua. Seria suficiente organizar a arbitragem entre as diferentes potências, suprimir a diplomacia secreta, desarmar ou, para começar, reduzir os armamentos, etc., e tudo correria bem.
O erro fundamental do pacifismo consiste em acreditar que a burguesia consentirá em reformas como o desarmamento. A despeito dos desejos do pacifismo, a burguesia continuará sempre a armar-se, e se o proletariado desarmar-se ou não se armar, será esmagado, muito simplesmente. Eis como as belas frases pacifistas iludem o proletariado. O seu fim exclusivo é desviar a classe operária da luta armada pelo comunismo.
O melhor exemplo da falsidade do pacifismo é dado por Wilson, que, com os seus quatorze princípios, sob a máscara de nobres projetos como a Sociedade das Nações, quer organizar o saque mundial e a guerra contra o proletariado. O grau de infâmia a que podem chegar os pacifistas vê-se pelos seguintes exemplos. O antigo presidente dos Estados Unidos, Taft, é um dos fundadores da Liga Americana da Paz, e, ao mesmo tempo, um imperialista furioso; o conhecidíssimo fabricante americano de automóveis, Ford, organizou expedições inteiras através da Europa, para que proclamassem seu pacifismo, mas, ao mesmo tempo, amontoava centenas de milhões de dólares de lucros, porque suas empresas trabalhavam para a guerra. Um dos mais autorizados pacifistas, A. Fried, em seu Manual do Pacifismo, enxerga a fraternidade dos povos, entre outras coisas, na campanha comum dos imperialistas contra a China, em 1900. Escreve ele a esse respeito: “A expedição chinesa demonstrou a influencia das idéias de paz sobre os conhecimentos contemporâneos (!). Demonstrou a possibilidade de uma associação internacional dos exércitos. Os exércitos aliados são uma força mundial sob o comando de um só generalíssimo europeu. Nos amigos da paz, vemos nesse generalíssimo mundial (era o conde Waldersee, nomeado por Guilherme II) o precursor desse homem de Estado mundial que realizará nosso ideal por meios pacíficos”.
Um banditismo coletivo evidente é considerado como um exemplo da “fraternidade dos povos”. O mesmo se dá quando se serve uma “Associação de bandidos capitalistas”, com nome de “Sociedade das Nações”.
As enganadoras fórmulas com que a imprensa da burguesia, diariamente, inundava as massas (jornais, periódicos, folhas volantes, etc.), transformaram-se nas fórmulas dos traidores do socialismo.
Os antigos partidos socialistas dividiram-se, em quase todos os países, em três correntes: os social-patriotas, traidores confessos e cínicos; os traidores dissimulados e hesitantes, chamados centristas; e, enfim, aqueles que ficaram fiéis ao socialismo e em torno dos quais se organizaram, mais tarde, os partidos comunistas.
Os social-patriotas pregam o ódio da humanidade sob a bandeira do socialismo, o apoio prestado aos Estados de bandidos burgueses, sob a forma enganadora da defesa nacional, Entre eles se encontram os chefes de quase todos os antigos partidos socialistas: na Alemanha, Scheidemann, Noske, Ebert, Davi, Heine, etc.; na Inglaterra, Henderson; na América, Samuel Gompers (o chefe da Federação do Trabalho); na França, Renaudel, Albert Thomas, Jules Guesdes e os chefes do sindicalismo, como Jouhaux; na Rússia, Plekhanov, Potressov; os socialista-revolucionários da direita, Catarina Brechkovskaia, Kerensky, Tchernov, os mencheviques da direita, Lieber, Rosanov; na Áustria, Renner, Seitz. Victor Adler; na Hungria, Garami, Buchinger, etc.
Todos foram pela defesa da pátria burguesa. Alguns chegaram a aderir abertamente à política de rapina, admiraram anexações, indenizações de guerra, pilhagem das colônias (são comumente chamados: social-imperialistas). Durante toda a guerra, sustentaram essa política, não só votando créditos, como também pela propaganda. O manifesto de Plekhanov, foi afixado na Rússia, pelo ministro do czar, Khvostov. O general Kornilov tinha convidado Plekhanov para ministro de seu gabinete. Kerensky (socialista-revolucionário) e Tseretelli (menchevique) esconderam do povo os tratados secretos do czar; esmagaram o proletariado de Petrogrado nas jornadas de julho; socialista-revolucionários e mencheviques da direita fizeram parte do governo de Koltchak; Rosanov tornou-se espião de Iudenitch. Em resumo, com toda a burguesia, eram partidários do apoio à pátria de rapina burguesa e da derrubada da pátria proletária dos Sovietes.
Os social-patriotas franceses fizeram parte de um ministério de piratas (Guesde, Sambat, Thomas): sustentaram todos os projetos de banditismo dos aliados, o estrangulamento da Revolução russa e o envio de tropas contra os operários russos.
Os social-patriotas alemães, quando Guilherme ainda imperador, fizeram parte do governo (Scheidemann), sustentaram Guilherme quando este assassinava a Revolução na Finlândia, saqueava a Ucrânia e a Grande-Rússia; social-democratas (Winnig, em Riga) dirigiram as batalhas contra os operários russos e letões; mais tarde, assassinaram Liebknecht e Rosa Luxemburgo e reprimiram, de um modo atroz e sanguinário, as sublevações dos operários comunistas em Berlim, Leipzig, Hamburgo, Munique, etc. Os social-patriotas húngaros, após terem sustentado, em seu tempo, o governo monárquico, traíram, em seguida, a República dos Sovietes. Em suma, em todos esses países, revelaram-se como verdadeiros carrascos da classe operária.
Quando Plekhanov era ainda revolucionário escrevia no jornal Iskra publicado no estrangeiro, que o século XX, ao qual está reservada a realização do socialismo, veria, provavelmente, produzir-se uma enorme cisão entre os socialistas e uma luta formidável e encarniçada entre eles. Assim como, ao tempo da Revolução Francesa, de 1789 a 1793, o partido revolucionário extremo (a Montanha) esteve em guerra com o partido moderado tornado contra-revolucionário (a Gironda), assim também — dizia Plekhanov — o século XX verá, provavelmente, levantarem-se uns contra os outros os antigos camaradas, porque uma parte deles passará para o lado da burguesia.
Essa profecia de Plekhanov realizou-se integralmente. Uma só coisa ele ignorava: é que seria do número dos traidores.
Os social-patriotas (também chamados oportunistas) transformaram-se, assim, em inimigos de classe declarados do proletariado. Durante a grande Revolução mundial, combateram nas fileiras dos brancos contra os vermelhos; marcharam com os generais, a burguesia, os grandes proprietários.
É preciso, pois, desencadear contra eles uma luta implacável tão firme como contra a burguesia da qual são agentes.
O que resta da Segunda Internacional, que os seus diversos partidos procuram reanimar, não passa, no fundo, de um departamento da Sociedade das Nações, que a burguesia utiliza contra o proletariado.
Outro grupo dos velhos partidos socialistas é formado pelo que se chama o Centro. É chamado assim porque hesita entre os comunistas, de um lado, e os social-patriotas, do outro. A essa corrente, pertencem, na Rússia, os mencheviques da esquerda, Martov à frente; na Alemanha, os independentes (Partido Social-Democrata Independente), com Kautsky e Ledebour; na França, o grupo de Jean Longuet; na América, o Partido Socialista Americano, com Hillquit; na Inglaterra, uma fração do Partido Socialista britânico e do Independent Labour Party, etc.
No começo da guerra, essas personagens se pronunciaram, com todos os social-traidores, pela defesa nacional contra a Revolução. Kautsky escrevia que a pior calamidade era a invasão inimiga, e que, só depois da guerra se poderia recomeçar a luta contra a burguesia. Durante a guerra, o internacionalismo, na opinião de Kautsky, nada tinha a fazer. Depois de concluída a “paz”, Kautsky escreveu que, tendo sido destruído tudo, não era possível pensar-se mais no socialismo. Sendo assim, durante a guerra, não se deve combater, porque nada existe a fazer, mas, vindo a paz, também não se deve combater, porque a guerra destruiu tudo. A teoria de Kautsky é uma proclamação de impotência absoluta que embrutece o proletariado. Pior ainda: durante a Revolução Kautsky atirou-se doidamente contra os bolcheviques. Ele que esqueceu a doutrina de Marx, combate, atualmente, a ditadura do proletariado, o terror, etc., sem perceber que, assim procedendo, auxilia o terror branco da burguesia. O seu programa é de um vulgar pacifista: tribunal de arbitragem, etc. Nisso, ele está de acordo com qualquer dos pacifistas burgueses.
A política do Centro oscila, tropeça impotente, entre a burguesia e o proletariado, deseja conciliar o inconciliável e, nos momentos decisivos, trai o proletariado. Durante a Revolução de Outubro, o Centro russo (Martov & Cia.) queixava-se da violência dos bolcheviques. Procurava reconciliar todo o mundo, auxiliando a guarda branca e enfraquecendo a energia combativa do proletariado. O partido menchevique nem sequer excluiu os seus membros que tinham conspirado com os generais e lhes haviam servido de espiões. Nos dias difíceis do proletariado, o Centro pregava a greve em nome da Constituinte e contra a ditadura do proletariado; durante a ofensiva do Koltchak, certos centristas espalhavam, solidários com os conspiradores burgueses, a palavra de ordem da cessação da guerra civil (o menchevique Pleskov). Na Alemanha, os independentes fizeram o papel de traidores durante a insurreição dos operários de Berlim, quando eles próprios se puseram a “reconciliar”, em pleno combate, contribuindo assim para a derrota; muitos deles são partidários de uma ação em comum com os sequazes de Scheidemann. O mais grave, porém, é que não preconizam a insurreição em massa contra a burguesia e adormecem o proletariado com esperanças pacifistas. Na França e na Inglaterra, o “Centro” condena a contra-revolução, “protesta” em palavras contra o estrangulamento da Revolução, mas manifesta uma absoluta incapacidade para a ação de massas.
Atualmente, o Centro é tão prejudicial quanto os social-patriotas. Os centristas, ou como ainda são chamados, os kautskistas, procuram também reanimar o cadáver da II Internacional e “reconciliá-la” com os capitalistas. É claro que, sem um completo rompimento com eles e sem luta contra eles, a vitória sobre a contra-revolução é impossível.
As tentativas de reconstrução da II Internacional são feitas sob o patrocínio benevolente da Sociedade das Nações, associação de bandidos. Os social-patriotas são, na verdade, hoje, o último apoio do regime capitalista em decomposição.
A guerra imperialista só pôde raivar durante cinco anos, graças à traição de classe dos partidos socialistas. Depois, quando surgiu a época revolucionária, a burguesia principiou a se apoiar diretamente sobre eles, para asfixiar, por meio deles, o movimento do proletariado. Os antigos partidos socialistas converteram-se no principal obstáculo à luta de classe pela derrocada do capital.
Durante a guerra, cada um dos partidos social-traidores repetia as palavras de ordem de sua burguesia. Depois da “paz de Versalhes”, ao se formar a Sociedade das Nações, o que restava da II Internacional (isto é, os social-patriotas e o Centro) pôs-se a repetir as palavras de ordem emitidas pela Sociedade das Nações. De acordo com a Sociedade das Nações, a II Internacional reprovou aos bolcheviques o terror, a violação dos princípios democráticos, seu “imperialismo vermelho”. Em vez de travar uma luta decisiva contra os imperialistas, ela sustenta os seus, princípios.
Os social-patriotas e o centro como vimos, lançaram, durante a guerra, a palavra de ordem de defesa nacional (burguesa), isto é, de defesa do Estado do inimigo do proletariado.
Foi a “união sagrada”, isto é, a submissão completa ao Estado burguês. Proibição de greves, por exemplo, e, com mais forte razão, de revolta contra a burguesia criminosa. Os social-traidores raciocinavam assim: “Primeiro liquidar o inimigo exterior; depois ver-se-á”.
Foi assim que os operários de todos os países foram vendidos à burguesia. Entretanto, desde o princípio da guerra, grupos de militantes honestos reconheceram que a “defesa nacional” e a “união sagrada”, que garroteavam o proletariado, eram uma traição ao proletariado.
O partido dos bolcheviques, desde 1914, declarou que o necessário não era a união sagrada com a burguesia criminosa, mas a guerra civil contra a burguesia, a Revolução. Antes de tudo, o dever do proletariado era derrubar a sua própria burguesia. Na Alemanha, um grupo de camaradas, entre os quais Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo, tomou o nome de Grupo Internacional e declarou que a solidariedade internacional do proletariado estava acima de tudo. Pouco depois, Karl Liebknecht proclamou abertamente a necessidade da guerra civil e pôs-se a chamar a classe operária para a insurreição armada contra a burguesia. Assim nasceu o partido dos bolcheviques alemães, ou espartaquistas.
Na Suécia, formou-se o Partido Socialista de Esquerda; na Noruega, os esquerdistas conquistaram todo o partido. Os socialistas italianos mantiveram-se firmes durante a guerra. Assim, cresceram, pouco a pouco, os partidos que queriam a Revolução. Sobre esse terreno, fez-se, na Suíça, sua primeira tentativa de unificação. Nas conferências de Zimmerwald e de Kienthal, criou-se o embrião da III Internacional. Mas, em breve, notou-se que indivíduos suspeitos do Centro se tinham infiltrado ali e só trabalhavam para entravar o movimento. No interior dos agrupamentos internacionais de Zimmerwald, nasceu a esquerda de Zimmerwald, com o camarada Lenine à frente. A esquerda de Zimmerwald exigia uma ação resoluta e criticava àsperamente o Centro, dirigido por Kautsky.
Depois da Revolução de Outubro e do estabelecimento do poder dos Sovietes, a Rússia tornou-se o centro principal do movimento internacional. Nosso partido, a fim de romper com os social-traidores, tornou a adotar o seu antigo e glorioso nome de batalha: Partido Comunista. Sob a influência da Revolução russa, formaram-se partidos comunistas em outros países. A Liga dos Espartaquistas tomou o nome de partido Comunista da Alemanha; partidos comunistas formaram-se na Hungria, na Finlândia, etc.; mais tarde, formou-se, também, na França, um partido comunista. Na América, o Centro excluiu do Partido Socialista as esquerdas, que se constituíram, então, em Partido Comunista; na Inglaterra, este partido foi fundado, no outono de 1919. Desses partidos saiu a Internacional Comunista. Em março de 1919, em Moscou, no antigo castelo do czar, o Kremlin, realizou-se o Primeiro Congresso Internacional Comunista, no qual foi fundada a Terceira Internacional. Assistiram a esse Congresso os representantes dos comunistas alemães, russos, austríacos, húngaros, suecos, noruegueses, finlandeses, bem como camaradas franceses, americanos e ingleses.
O Congresso adotou a plataforma proposta pelos comunistas alemães e russos. Os debates mostraram que o proletariado se alistou decididamente sob a bandeira da ditadura operária do poder dos Sovietes e do comunismo.
A Terceira Internacional tomou o nome de Internacional Comunista, como outrora a Liga dos Comunistas, a cuja frente estava Karl Marx. Por toda a sua ação, a Terceira Internacional prova que segue os passos de Marx, isto é a estrada revolucionária que conduz à derrubada violenta do regime capitalista.
Não é de admirar, pois, que o que existe de vivo, de honesto, de revolucionário, no proletariado internacional adira cada vez mais à nova Internacional, que enfeixa os esforços dos pioneiros da classe operária.
Só pelo seu nome, a Internacional Comunista mostra que nada tem de comum com os social-traidores. Marx e Engels já consideravam o nome de social-democrata como inadequado ao partido do proletariado revolucionário. “Democrata” quer dizer partidário de certa forma de Estado. Como vimos, porém, na sociedade futura, não haverá Estado. E, no período de transição, deve vigorar a ditadura operária. Os traidores da classe operária não vão além da república burguesa. Quanto a nós, vamos para o comunismo.
No prefácio do Manifesto Comunista, Engels escrevia que a palavra socialista se aplicava, no seu tempo, ao movimento dos intelectuais avançados, ao passo que o comunismo era um movimento puramente operário. O fato reproduz-se à nossa vista. Os comunistas apóiam-se unicamente nos operários: os social-traidores, os socialistas, em suma, na pequena burguesia.
Assim a Internacional Comunista realiza a doutrina de Marx, livrando-a das excrescências que nela haviam aparecido durante o período “pacífico” do desenvolvimento capitalista. As previsões do grande pensador comunista realizam-se hoje, após 70 anos, sob a direção da Internacional Comunista.
Inclusão | 06/06/2005 |
Última alteração | 22/03/2016 |