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Escrito em: Outubro de 1926.
1ª Edição: (?)
Tradução: Nildo Viana.
Origem da presente transcrição: (?)
Trancrição de: amavelmente cedido pelo Núcleo de Pesquisa Marxista.
HTML por José Braz para o Marxists Internet Archive
Caro companheiro Korsch,
As questões estão hoje tão graves que, na verdade, seria necessário poder discuti-las pessoalmente e com bastante tempo, mas esta possibilidade no momento, infelizmente, não a temos. Nem ao menos posso escrever-lhe detalhadamente sobre todos os pontos de sua plataforma, alguns dos quais poderiam dar lugar a uma útil discussão entre nós.
Por exemplo, o seu "modo de se exprimir" sobre a Rússia parece-me incorreto. Não se pode dizer que "a revolução russa é uma revolução burguesa". A revolução de 17 foi uma revolução proletária, se bem que seja um erro generalizar suas lições "táticas". Agora, coloca-se o problema: que acontecerá com a ditadura do proletariado num país se não houver a sequência da revolução nos outros países? Pode acontecer uma intervenção externa, pode acontecer uma continuidade degenerada cujos sintomas e reflexos dentro dos partidos comunistas precisamos descobrir e definir.
Não se pode dizer simplesmente que a Rússia é um país onde se expande o capitalismo. A coisa é muito mais complexa, trata-se de novas formas da luta de classes que não têm precedentes históricos; trata-se de demonstrar como qualquer concepção das relações com a classe média sustentada pelos stalinistas é uma renúncia ao programa comunista. Parece-me que você exclui a possibilidade de uma política do Partido Comunista russo que não equivalha à restauração do capitalismo. Isto equivaleria a dar uma justificativa a Stálin ou a sustentar a política inadmissível de "demitir-se do poder". É necessário, ao contrário, dizer que uma política correta e classista na Rússia teria sido possível sem a série de graves erros de política internacional cometidos por toda a "velha guarda leninista" junta.
Tenho, pois, a impressão — e me limito a vagas impressões — de que nas suas formulações táticas, ainda quando são aceitáveis, você concede um valor demasiadamente preponderante às sugestões da situação objetiva, que pode hoje parecer uma volta à esquerda radical. Saiba que, hoje, nós, esquerdistas italianos, somos acusados de negar o exame das situações; e isto não é verdade. Todavia, almejamos a construção de uma linha de esquerda verdadeiramente geral e não ocasional, que se ligue a si mesma através de fases e desenvolvimentos de situações distintas no tempo e diversas, encarando-as todas num bom terreno revolucionário, não certamente ignorando seus caracteres específicos e objetivos.
Vamos, sem mais delonga, à sua tática. Para me exprimir com fórmulas abertas e não oficiais..., direi que esta me parece ainda, nas relações internacionais do partido, demasiado elástica e demasiado... bolchevique. Todo raciocínio com o qual você justifica a atitude favorável ao grupo Fischer, isto é, que você contava levar para a esquerda, ou se recusava a desvalorizá-lo diante dos olhos dos operários, não me convence e me parece que, pelos fatos, não tenha dado bons resultados. Em geral, penso que num primeiro plano hoje, mais que a organização e a manobra, se deve colocar um trabalho prejudicial de elaboração de uma ideologia política da esquerda internacional, baseada nas experiências eloqüentes atravessadas pelo Comintern. Estando muito atrasada neste ponto, qualquer iniciativa internacional fica difícil.
Alinharei poucos apontamentos sobre a nossa posição com respeito às questões da esquerda russa. É sugestivo que tenhamos visto as coisas diversamente: você, que era muito desconfiado com relação a Trótski, chegou rapidamente ao programa de solidarização incondicional com a oposição russa, apoiando mais Trótski que Zinoviev (compartilho com esta preferência).
Hoje, quando a oposição russa teve que "se submeter", você fala de uma declaração em que se deveria atacá-la por ter deixado cair a bandeira, coisa que eu não poderei estar de acordo em fazer enquanto prioritariamente nós não tivermos a crença de "fundirmo-nos" sob esta bandeira internacional defendida pela oposição russa.
Zinoviev e Trótski são, acima de tudo, homens que têm muito senso de realidade, e compreenderam que é preciso ainda promover golpes sem passar à ofensiva aberta. Não estamos no momento da classificação definitiva, nem na situação externa, nem na interna.
1. As posições da esquerda russa a respeito das diretrizes da política estatal do Partido Comunista russo são compartilhadas por nos. A orientação sustentada pela maioria do Comitê Central é por nós combatida como um encaminhamento à degeneração do partido russo e da ditadura proletária que conduz para fora do programa do marxismo revolucionário e do leninismo. No passado, não combatemos a política de Estado do Partido Comunista russo até quando esta permaneceu no terreno correspondente aos dois documentos do discurso de Lenine sobre o Imposto em Espécie e da relação de Trótski no IV Congresso mundial. Aceitamos as teses de Lenine no II Congresso.
2. As posições da esquerda russa sobre a tática e a política do Comintern, exceto a questão das responsabilidades passadas de muitos de seus membros, são insuficientes. Elas não se aproximam do que havíamos dito desde o início da Internacional Comunista sobre as relações entre partidos e massas, entre tática e situação, entre partidos comunistas e outros partidos ditos operários sobre a avaliação da alternativa da política burguesa. Aproximam-se mais, mas não completamente da questão do método de trabalho da Internacional e da interpretação e funcionamento da disciplina interna e do fracionismo. São satisfatórias as posições de Trótski sobre a questão alemã de 23, como são satisfatórias suas ponderações sobre a presente situação mundial. Não se pode, no entanto, dizer o mesmo das retificações de Zinoviev sobre as questões de frente única e da Internacional sindical vermelha, e sobre outros pontos que têm valor ocasional e contingente e não dão garantia de uma tática que evite os erros passados.
3. Dada a política de compressão e provocação dos dirigentes da Internacional e de suas seções, qualquer organização de grupos nacionais e internacionais contra o desvio para a direita apresenta perigos divisionistas. Não é o caso de se desejar a cisão dos partidos e da Internacional. Precisamos, sim, deixar que se realize a experiência da disciplina artificiosa e mecânica seguindo-a nos seus absurdos de procedimentos até quando for possível, sem nunca renunciar às posições de crítica ideológica e política e sem nunca solidarizar-se com a orientação que prevalece. Os grupos ideológicos que tem uma posição de esquerda tradicional e completa não podiam solidarizar-se incondicionalmente com a oposição russa, mas não podiam condenar sua recente submissão, com a qual ela não entrou em conciliação, mas só sofreu as condições cuja única alternativa era a cisão. A situação objetiva e externa ainda é tal, que não é só na Rússia que ser expulso dos quadros do Comintern significa ter possibilidades de modificar o curso da luta da classe operária ainda menores das que há no interior dos partidos.
4. Seria em todo caso inadmissível uma solidariedade e um consenso de declarações políticas com elementos como Fischer e C., que, ainda que em outros partidos como o alemão, tenham recentes responsabilidades de direção do partido segundo orientação de direita e centrista e cuja passagem à oposição tenha coincidido com a impossibilidade de conservar a direção de um partido de acordo com o centro internacional, e com críticas feitas pela Internacional à sua ação. Isto seria incompatível com a defesa do novo método e novo rumo do trabalho internacional comunista, que deve suceder ao da manobra do tipo parlamentar-burocrático.
5. Com qualquer método que não exclua o direito de viver no partido, deve ser denunciada a orientação que está prevalecendo como tendente ao oportunismo e como contrastante com a fidelidade aos princípios programáticos da Internacional, e que também grupos diversos do nosso possam ter o direito de defender, com a condição que se proponham. o quesito de detectar as deficiências iniciais - não teóricas, mas táticas, organizativas, disciplinares, que fizeram com que a III Internacional ainda esteja suscetível de perigos de degeneneração. (...)
Procurarei mandar-lhe elementos sobre acontecimentos italianos. Nós não aceitamos a declaração de guerra constituída pelas medidas de suspensão de alguns elementos diretivos da esquerda, e a coisa não se configurou de caráter fracionista. As baterias da disciplina até agora dispararam contra o acolchoado. Não é uma linha muito bela e que contente a todos nós, mas é a menos pior possível. Mandar-lhe-ei a cópia do nosso recurso na Internacional.
Em conclusão, não creio ser o caso de fazer uma declaração internacional como você propõe e não julgo tampouco praticamente atuante a coisa. Creio ser igualmente útil promover nos diversos países manifestações e declarações ideológica e politicamente paralelas com respeito ao conteúdo sobre os problemas da Rússia e do Comintern, sem por isso propor os extremos de um "complô" fracionista e cada qual elaborar livremente seu pensamento e suas experiências.
Nesta questão interna, aceito que frequentemente seja boa a tática de deixar-se seguir de acordo com os acontecimentos, o que certamente em se tratando de questões externas é muito prejudicial e oportunista. Tanto mais que, pelo jogo especial do mecanismo do poder interno e da disciplina mecânica, continuo a crer destinada a infringir-se a si própria. Sei que estou sendo insuficiente e pouco claro. Queria desculpar-me e receba, por ora, cordiais saudações.
Inclusão | 21/07/2003 |