Enver Hoxha Destacado Dirigente Revolucionário

João Amazonas

1 de Maio de 2000


Fonte: Fundação Maurício Grabois. Revista Princípios, edição 57, Mai-Jul, 2000, Pág. 59-61.
Transcrição: Diego Grossi
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Fernando A. S. Araújo.
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A grandeza da sua atividade e a conribuição que deu à causa do socialismo no mundo deve ser reconhecida

Há quinze anos, no dia 11 de abril, morreu o camarada Enver Hoxha, fundador do Partido Comunista da Albânia (mais tarde denominado Partido do Trabalho) e seu dirigente principal durante cinco décadas, estadista que se pôs à frente da construção do socialismo em seu país e figura proeminente do movimento comunista internacional. A nova geração de lutadores socialistas no Brasil talvez não conheça suficientemente quem foi o dirigente que conduziu o povo albanês de vitória em vitória rumo à conquista da independência nacional e à construção de um regime político e de uma sociedade progressista, sob a bandeira do socialismo científico.

Mas nós que o conhecemos e tivemos a oportunidade de ombrear com ele combates e batalhas nos terrenos político e ideológico contra o imperialismo e o oportunismo, temos o dever de testemunhar sobre a grandeza da sua atividade e de prestar-lhe homenagem pela contribuição que deu à causa do socialismo na Albânia e no mundo. E também por gratidão, pela solidariedade que sempre hipotecou ao nosso Partido.

Os albaneses são um povo antigo e milenar. Sua história é multifacetada e ao longo de muitos séculos teve de se bater contra inúmeros inimigos em renhidas batalhas pela liberdade e a independência. Com a pena e o fuzil, como se diz em poemas que retrataram essas epopéias, fez ingentes esforços pelo progresso e a emancipação. Muitos homens célebres se colocaram à frente desses esforços. Skenderbeg, no século XV, foi o fator de unidade na luta contra a dominação otomana.

Os irmãos Frasheri, renascentistas, se distinguiram no século XIX, impulsionaram a luta pela cultura e o movimento autonomista. Ismail Qemal e Isa Boletini proclamaram a independência no ano de 1912, no ocaso da dominação otomana nos Bálcãs. Eles deixaram as marcas de sua atividade e de sua obra na história secular desse povo.

Enver Hoxha, encarnando as virtudes desses próceres, distinguiu-se entre eles. Foi ele quem, ao herdar o ideário da luta nacional, soube fundi-lo com a teoria científica do marxismo, o que lhe deu a inspiração e o necessário instrumental metodológico para se colocar à frente de um extenso e profundo movimento de libertação nacional e social que no seu começo lançou as bases para a construção da nova Albânia e na continuidade efetivamente soergueu um país de face nova.

Em boa parte, a obra de Enver Hoxha está ligada à luta antifascista de libertação nacional. Desde a invasão da Albânia pelo exército fascista italiano, em 7 de abril de 1939, até a completa libertação do país das hordas hitleristas, em 29 de novembro de 1944, Enver Hoxha se dedicou por inteiro a organizar o movimento antifascista. Trabalhou incansavelmente para despertar o patriotismo popular, mobilizar a juventude, organizar a Frente Antifascista de Libertação Nacional e o Exército Popular. Foi essa luta que, uma vez vitoriosa, trouxe ao país a verdadeira liberdade e a genuína independência e criou as condições para a instauração do poder popular.

Essa conquista abriu uma nova época na trajetória do povo albanês. Uma época que vai durar quase cinco décadas de grandes transformações políticas, econômicas, sociais, ideológicas e culturais, em que a Albânia se torna dona dos seus destinos, constitui-se de fato como nação soberana, digna, respeitada e ouvida na arena internacional. Durante essas décadas, sob a direção de Enver Hoxha, a Albânia sai das trevas à luz. Um país de analfabetos, de cânones retrógrados, do véu cobrindo o rosto das mulheres, das vendetas em querelas por terras e pela honra, da coluna vergada perante o estrangeiro, se toma numa nação culta, com ensino diversificado, até mesmo superior universitário e, embora as modestas condições materiais, alcança rapidamente um índice de desenvolvimento humano segundo reconhecidos padrões de dignidade nos domínios da saúde, da alimentação, etc.

O prestígio e a autoridade de Enver Hoxha não vêm do nada. Resultam do seu inegável papel à frente da revolução vitoriosa em 1944 e da construção do socialismo no pequeno país às margens do Adriático.

O nome de Enver Hoxha está ligado também à sua atividade na arena internacional, como combatente antiimperialista, como dirigente partidário e estatal solidário com a luta mundial pelo socialismo, o combate dos países dependentes contra a dominação neocolonialista e, principalmente, a luta contra o oportunismo revisionista. Em muitos aspectos, a luta do PTA, sob a direção de Enver Hoxha, contra o oportunismo, teve para a Albânia caráter de salvação nacional, uma vez que foi a plataforma ideológica para se contrapor às tentativas dos revisionistas iugoslavos de anexar o país e, mais tarde, de Kruschev, que tinha em mente transformar a Albânia num dócil instrumento para sua política hegemonista nos Bálcãs. Mas, o alcance geral da luta contra o oportunismo e o revisionismo encetada por Enver Hoxha foi histórico e seu sentido internacionalista. Constituiu um inestimável aporte à defesa dos princípios fundamentais do marxismo-leninismo.

Homem modesto, Enver Hoxha fez jus às palavras do ex-presidente francês, o general De Gaulle:

"ninguém mais do que Enver Hoxha merece os dizeres: a glória vai na direção de quem não a procura".

O dirigente albanês sempre encarou com serenidade as homenagens que lhe cumularam seus pares na direção do Partido e do Estado albanês e os trabalhadores daquela pequena nação, quando estava no auge do esforço revolucionário e construtivo. Os trágicos acontecimentos do início dos anos 90, a traição aos ideais revolucionários pela direção do PTA, a contrarevolução insuflada pelo imperialismo trouxeram no leito da destruição do regime socialista e do aniquilamento da Albânia como nação independente, uma furiosa campanha contra a memória de Enver Hoxha, na qual se denegriu sua imagem de dirigente partidário e estatal.

O revanchismo anticomunista chegou a tal ponto que turbas enfurecidas e instigadas por uma direita que passou anos adormecida atacou monumentos, prédios públicos e museus evocativos dos seus feitos. Seus familiares foram perseguidos, sua viúva, em avançada idade, foi condenada a 11 anos de prisão, numa farsa judicial, e, ignomínia das ignomínias, seu túmulo foi violado, episódio horripilante que restaura uma atitude de bárbaros que, vencedores numa guerra, lançavam mão desse recurso para desmoralizar os vencidos. Mas, nada como o tempo. Não se passou sequer uma década desde a derrota do socialismo na Albânia e, mesmo que a campanha contra a figura de Enver Hoxha não tenha chegado ao fim, ele foi apontado numa pesquisa de opinião pública realizada recentemente na Albânia como a "personalidade do século".

Como todo dirigente partidário e estatal atuando em condições complexas e sob muitos condicionamentos, Enver Hoxha não foi infalível. Tanto quanto foi o principal artífice da libertação da Albânia e da edificação do socialismo naquele país, recaem sobre ele responsabilidades por eventuais erros cometidos. Mas, seguramente, deve fazer falta ao povo da Albânia martirizada dos dias atuais, a lucidez política, a capacidade de tomar decisões difíceis, a clareza de propósitos e a ousadia de Enver Hoxha. Que a recordação do seu nome neste 11 de abril seja como uma inspiração para retomar, nas complexas condições atuais, a luta por uma Albânia independente e socialista.


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Inclusão 11/04/2014