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Fonte: Revista Princípios nº. 44
Transcrição: Diego Grossi Pacheco
HTML: Fernando A. S. Araújo,
Dezembro 2007.
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Maria Lúcia Petit, guerrilheira do Araguaia, morreu nas primeiras semanas de luta, a 16 de maio de 1972. Este artigo, escrito na ocasião por João Amazonas, assinado como Alfeu Duarte, foi difundido pelo Brasil de forma limitada na época. O corpo de Maria Lúcia Petit, foi o primeiro a se exumado e reconhecido. Maria Lúcia foi enterrada em Bauru (SP), no dia 15 de junho de 1996.
Eu queria colocar uma rosa, uma simples rosa vermelha entre as mãos geladas pela morte da guerrilheira do Araguaia, Maria Lúcia Petit.
Seria uma homenagem simbólica, dedicada àquela que deu a vida lutando pela liberdade e pelo bem do povo. Com esse gesto eu exprimiria toda a ternura de seus companheiros e a afirmação solene de que seu sangue não foi derramado inutilmente. Mas, foi impossível de o fazer. Ninguém podia aproximar-se de seu cadáver, vigiado pelas forças militares, nem conduzir seu corpo a última morada. Os bandidos do Exército têm medo dos combatentes da liberdade, mesmo após sua morte. De longe, seus amigos choraram a perda desta jovem dedicada à causa dos oprimidos e juraram prosseguir a luta contra a ditadura sanguinária até a vitória final.
Tinha pouco mais de 20 anos, esta heróica guerrilheira. Ela amava a vida. Trabalhou e estudou na capital de São Paulo, onde desfrutava de relativo conforto. Podia como muitas outras jovens, seguir os velhos caminhos do casamento e do aburguesamento. Apesar disso, preferiu dar um sentido a sua existência. Amava a liberdade e odiava o regime militar que persegue violentamente a juventude e fecha o caminho para a realização de seus melhores e mais caros sonhos.
Não hesitou. Há quase 2 anos partiu de São Paulo e foi viver no interior do Estado de Goiás. Fez numerosos amigos no lugar pobre onde morou. Mais tarde, mudou-se me direção ao Sul do Estado do Pará. Trabalhou no campo. Adquiriu melhor conhecimento da terrível situação de abandono e de miséria na qual vegetam os trabalhadores rurais e a população camponesa.
Em abril, as Forças Armadas, no curso de uma de suas provocações costumeiras, atacaram os habitantes da margem esquerda do Araguaia, onde Maria Lúcia morava. Cometeram toda espécie de violência.
Mas não saíram impunes deste covarde ataque. Muitos dos habitantes pegaram em armas, se retiraram para a mata, e decidiram resistir.
Maria tomou lugar entre os resistentes, transformando-se em guerrilheira, combatendo pela liberdade e pelos direitos do povo. Durante semanas viveu na floresta, dormindo sobre estrelas, procurando os meios de sobreviver e estudando a arte militar. Apoiada pelas massas, combateu as forças da reação. Cumpriu corajosamente as tarefas mais arriscadas, sem se lastimar das dificuldades, sem deixar arrefecer seu entusiasmo juvenil. Pensava sempre sobre o que havia escrito um poeta:
“A luta abate somente os fracos. Ela não pode exaltar senão os bravos e os fortes”.
Tendo pouquíssima experiência, perdeu a vida, ao mesmo tempo que outro companheiro, em uma emboscada preparada pelo inimigo, muito próximo à casa de pessoas que conhecia e que procurava para ter o seu apoio. Não tinha medo da morte. Tombou lutando, a arma na mão. Seu fim glorioso impressionou a população local que ela estimava e admirava muito.
Um general fascista, chefe de polícia do Estado do Mato Grosso, festejou a notícia declarando que estava lá o tratamento que o Exército reservava àqueles que ousavam lutar no Araguaia. O bandido não perde por esperar. As Forças Armadas já estão pagando, e pagarão sempre mais, um alto preço pela vida de cada guerrilheiro. A morte dos que combatem pela liberdade se transforma num apelo, escrito com sangue, a todos os brasileiros inconformados com a tirania. Milhares de outros combatentes ocuparão, mais cedo ou mais tarde, o lugar dos que tombarem. E chegará o dia em que nesta terra mandará o povo e não um punhado de militares que odeiam a democracia e traem os interesses da nação.
Maria Lúcia Petit viverá sempre na lembrança dos verdadeiros democratas e patriotas, Muitas e muitas rosas, as rosas vermelhas da nossa saudade e do nosso reconhecimento, serão ainda ofertadas à memória de quem viveu, lutou e morreu pela felicidade do povo e pela liberdade da pátria.
Fonte |
Inclusão | 15/02/2008 |