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Fonte: Tribuna de Debates para o 4º Congresso do PC do Brasil, In: jornal Voz Operária 12/06/1954.
Transcrição: Diego Grossi Pacheco
HTML: Fernando A. S. Araújo
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Ao lermos e estudarmos os materiais do 19º Congresso do Partido Comunista da União Soviética uma coisa salta à vista: o Partido é tudo. O Partido derrubou o capitalismo na Rússia, tornou realidade o socialismo, é o educador e o forjador dos homens novos soviéticos. O Partido é o instrumento fundamental para a construção do comunismo.
Será que a já compreendemos suficientemente que o Partido é tudo? Penso que não. Há ainda muita subestimação da tarefa de construção do Partido. Quando queremos derrubar um muro necessitamos de uma ferramenta qualquer. Para derrubar o regime dos latifundiários e grandes capitalistas, serviçais do imperialismo norte-americano, é preciso também um instrumento poderoso. Este instrumento é o Partido.
No fundo, quando subestimamos o Partido é por que pensamos ou que esse regime cai por si mesmo, ou que é muito forte e não pode ser derrubado. Esse regime, na realidade, não suportará muitos golpes firmes. Mas por si só não cairá. É preciso o Partido. Não pode haver revolução sem o Partido.
Por falta de um Partido à altura, por falta das condições subjetivas portanto, não temos aproveitado as oportunidades revolucionárias que se tem criado em nosso país. Assim foi em 1930, 1935 e 1945.
Se tivermos espírito autocrítico podemos ver já agora como se faz sentir ainda a fraqueza do Partido. É preciso um poderoso Partido para transformar o atual ascenso das lutas de massa em movimento revolucionário. Não se trata somente dos problemas de organização, mas da construção do Partido em todos os aspectos, tanto no terreno orgânico, como no político e ideológico.
Uma situação de efervescência e de luta de massas como a de hoje exige do Partido em toda parte. Onde parece haver estagnação, quando menos se espera inicia-se a luta. E se não há Partido a luta não tem conseqüência, não traz a vitória às massas. O que estava estagnado ontem se põe hoje em movimento, e se não se põe hoje, se porá amanhã. É preciso construir o Partido responsavelmente, em todos os setores importantes da classe operária e das massas populares.
O Partido cresce nas épocas de ascenso, ensina Stálin. É preciso olhar pra frente e não ficar presos às dificuldades do passado. Precisamos sentir o novo, a nova situação que se cria. Os melhores filhos do proletariado querem ingressar no Partido. Procuram o Partido. Esta é a época dos grandes recrutamentos. Para engrossar os efetivos do Partido é necessário ter confiança nas massas, não esconder o Partido. Dizer abertamente que o nosso Partido é o único que pode salvar o país. Este é o caminho da construção de um grande partido de massas.
Mas uma pergunta se impõe: para que construir Partido? Para conduzir as massas à luta pela vitória do Programa do PCB. Este é o objetivo intrínseco da tarefa de construção do Partido. Nossa atividade partidária visa sobretudo fazer penetrar na cabeça das massas a necessidade do Governo democrático de libertação nacional. É certo, entretanto, que a necessidade da Revolução não penetra espontaneamente ou mesmo facilmente, na cabeça das massas. É preciso um trabalho persistente para levantar as massas, do nível em que se encontram atualmente, até a compreensão de que é necessário derrubar Vargas e instaurar um novo regime, o regime democrático-popular.
O método justo de construção do Partido deve corresponder às funções e tarefas do Partido. Que acontece, no entanto, com muitos de nossos companheiros? Não compreendendo as funções e as tarefas do Partido aplicam métodos falsos na sua construção. Surgem duas tendências: a) sentido burocrático na construção do Partido; b) sentido imediatista na construção do Partido.
No primeiro caso, recruta-se, criam-se organizações de base, arruma-se o Partido, como se costuma dizer. Mas tudo isso sem qualquer relação com a função verdadeira do Partido que é trabalhar com as massas, fazê-las avançar partindo do grau de sua compreensão atual. Um exemplo: na região da Mantiqueira há várias grandes fábricas de tecido onde existem organizações de base do Partido. Durante a grande greve que se verificou em São Paulo, o 1º secretário dessa região não sabia como começar, quais reivindicações a levantar, etc. Era necessário naquele momento iniciar o trabalho. Mas nada foi feito. Isso significa que tais organizações não viviam em função das massas, existiam burocraticamente. No entanto, na região se recrutava e se constituíam organizações de base.
No segundo caso, mal se recrutam alguns elementos e se constrói uma organização de base joga-se a esmo os comunistas sozinhos na luta. Resultado: o Partido é golpeado e muitas vezes custa a se recuperar. Em São Paulo na Phillips, perdemos assim uma organização de base de 30 elementos; na Metalúrgica Matarazzo, uma organização de base de mais de 20 elementos novos foi destroçada. Em São Paulo, movimenta-se demasiado com os quadros que são queridos nas empresas. São deslocados de um organismo para o outro, o que dificulta o maior enraizamento do Partido na empresa.
Ambas as tendências – a burocrata e a imediatista – são falsas.
O Partido é a vanguarda. A vanguarda deve atuar de modo a levar as massas a resolverem seus próprios problemas. Não é a organização de base que deve sozinha desencadear a luta. A organização de base deve preparar o desencadeamento das lutas e dirigi-las. Para isso deve realizar um trabalho diário e persistente junto às massas. Se os companheiros do CR de Mantiqueira, por exemplo, no seu trabalho, tivessem em vista a preparação de lutas – preparação que muitas vezes é longa e percorre certas etapas – com o surgimento da grande greve de São Paulo teriam levado as massas à greve pela conquista de suas reivindicações. Na luta teriam reforçado o Partido e ajudado as massas a darem mais um passo à frente. A massa tem que dar muitos passos para chegar à Revolução.
O Partido trabalha em função das massas, educa, esclarece, mobiliza as massas, indica-lhes firmemente o caminho. A construção do Partido é inseparável da luta pela aplicação de sua linha política, da luta para tornar vitorioso o Programa do PCB.
Se construirmos o Partido no ritmo que é necessário, em função das massas e de suas lutas, da aplicação de nosso Programa, a revolução no Brasil estará mais próxima do que se possa pensar.
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Inclusão | 17/05/2011 |