Direito à Memória e à Verdade: Aos descendentes de homens e mulheres que cruzaram o oceano a bordo de navios negreiros e foram mortos na luta contra o regime militar

Aos herdeiros de João Cândido. Duzentas e cinqüenta chibatadas. Nem uma a mais, nem uma a menos. As últimas, desferidas sobre retalhos de carne em um homem inconsciente, no caso um negro de nome Marcelino, embarcado no encouraçado Minas Gerais. Apesar da escravidão ter sido abolida há mais de duas décadas no Brasil, a cena era comum, pois assim se punia na Marinha. A partir daquele 22 de novembro de 1910, porém, gritou-se um basta. Liderados por João Cândido, os marinheiros se amotinaram. No final da tarde, eles tomaram de assalto os principais navios da marinha de guerra brasileira e ameaçaram bombardear o Rio de Janeiro caso o tratamento não fosse humanizado, extinguindo-se a prática do açoitamento. A chamada Revolta da Chibata eternizou a história de João Cândido, o Almirante Negro. Mais do que sua estatura de colosso, perdurou sua estatura moral que o transformou em símbolo nacional da luta por dignidade e até em letra de uma das mais belas músicas nacionais, de Aldir Blanc e João Bosco. Esta publicação é uma homenagem aos herdeiros de seus ideais. Aos descendentes de Zumbi dos Palmares e de tantos homens e mulheres que cruzaram o oceano em navios negreiros e lutaram contra a escravidão, o preconceito, a violência e a ditadura. Uma gente que teve ancestrais escravos, mas morreu lutando por liberdade.

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Inclusão 21/11/2011