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  Sachs, Érico Czaczkes

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(1922-1986): o adolescente que adotou o marxismo na Rússia, o jovem militante da Oposição Comunista na Europa, o imigrante tornado brasileiro e que levantou as bandeiras da formação independente da classe operária e do Brasil socialista, o exilado na Alemanha, durante a ditadura militar brasileira, o retornado em 1980, que se integrou no Partido dos Trabalhadores. Seu pensamento tinha raízes tão antigas quanto sólidas: Marx, Engels, Rosa Luxemburgo, Lênin.

 


Texto escrito por Érico Sachs:

Colônia, 24 de abril de 1971
Schwalbengasse 2a

Meu nome é Érico Czaczkes Sachs e nasci em 11 de março de 1922, em Viena, como Erich Czaczkes. Meu antigo sobrenome é de origem ucraniana. Por ocasião da minha naturalização posterior no Brasil, em 1955, o meu pseudônimo na imprensa “Sachs” passou a fazer parte do meu sobrenome. Meu sobrenome é agora Czaczkes Sachs. Também tenho o direito de me chamar Érico Sachs. Tenho em minha posse um documento a respeito da mudança do meu sobrenome. Vivi até os doze anos de vida, portanto até 1934, com os meus pais em Viena. Meus pais se chamam David Czaczkes e Sina Ida Czaczkes (sobrenome de solteira: Roemer). Minha mãe tinha ascendência russa. Em Viena, estudei de 1928 até 1931/32 na Volksschule e, depois, no Realgymnasium na III Circunscrição até a segunda ou terceira série. Em 1934, fui para Moscou com minha mãe, onde estabelecemos domicílio na casa dos seus pais. Vivemos em Moscou de outubro de 1934 a setembro de 1937. Estudei na escola de língua alemã, que tinha dez séries, de acordo com o sistema da época, da quarta até o começo da sétima série. Em setembro de 1937, minha mãe e eu fomos expulsos da União Soviética, em decorrência dos expurgos da época. Voltamos para Viena. Em junho de 1938, minha mãe e eu deixamos Viena, devido à anexação da Áustria ao Reich Alemão, porque queríamos evitar as perseguições raciais nacional-socialistas. Tanto meus pais como também eu somos de ascendência judaica. Fui para a França, passando pela Alemanha. De cerca de junho de 1938 a maio de 1939, vivi em diferentes lugares. Durante alguns meses estudei numa escola agrícola do governo francês, em Charleroi-sur-Seine. Em maio de 1939, embarquei com minha mãe num navio para o Brasil. Ficamos no Rio de Janeiro, para onde meu pai seguiu em setembro de 1939. Ele morreu pouco tempo depois. Vivi, depois de 1939, mais ou menos constantemente no Rio de Janeiro. Aprendi, em seguida – tinha então dezessete anos – o ofício de gráfico e trabalhei nele até 1948. Nessa época havia aprendido a língua portuguesa e a dominava tão bem que me transferi para a imprensa. Depois, colaborava como autônomo num jornal e, mais tarde, fui empregado com vínculos mais estáveis, sendo essa a minha profissão principal. Minha especialidade era a política, de fato e exclusivamente a política externa. Em 1955, renunciei à minha cidadania austríaca, adquirida por nascimento, com a minha naturalização. Desde então, sou cidadão dos Estados Unidos do Brasil. Em 1959, transferi-me do jornal dos “Diários Associados”, onde estava ocupado desde 1953, para um outro jornal de nome “Jornal do Commercio”. Esse era o jornal econômico tradicional do Rio de Janeiro, mas também abrangia outros assuntos. Paralelamente, de 1958 a 1960, em função de um acordo, atuei como tradutor para a embaixada alemã no Rio de Janeiro, no departamento de imprensa. Traduzia o boletim de notícias diário da embaixada. De 1960 a 1962, tive uma relação de trabalho estável nessa atividade. De 1962 a 1964, continuei nesse trabalho, ainda que de forma mais limitada, como autônomo. Tratava-se então das mesmas relações de contrato vigentes de 1958 a 1960. Em 1962, tornei-me funcionário do Ministério da Educação. Trabalhei no setor de publicidade. Em 1° de abril de 1964, ocorreu no Brasil o golpe de estado mundialmente conhecido, por meio do qual a constituição democrática do estado foi substituída por uma ditadura militar. Nessa época, junto a minha atividade no Ministério da Educação – desde 1962 – eu era redator de um diário de nome “Correio da Manhã”. Esse jornal, publicado no Rio de Janeiro, defendia o ponto de vista de que a antiga constituição democrática do estado deveria ser restabelecida. Com isso, entrou em contradição com o regime político dominante. No ano de 1968, esse jornal foi censurado. Em maio de 1964, logo após a mudança de poder, fui levado à prisão e permaneci nela seis semanas sob investigação. Eu era desde 1957/58 membro do Partido Socialista Brasileiro, seção do Rio de Janeiro, até a sua dissolução. Esse partido, junto com todos os outros partidos democráticos, foi dissolvido em 1966. Minha prisão em 1964 tinha também relação com minha filiação partidária. Fui demitido de meu emprego no Ministério da Educação. Uma lei de exceção foi o fundamento para isso. Ao mesmo tempo, perdi minha ocupação na embaixada alemã. Do final de 1964 até agosto de 1967 fui processado por “subversão” por um tribunal militar de exceção. O procurador requereu contra mim uma pena de prisão com base em determinações que previam um mínimo de doze anos. Como a acusação era insustentável, fui absolvido. Em setembro de 1969, fui preso novamente, como em maio de 1964, por minhas atividades jornalísticas. Na noite de 8 para 9 de outubro de 1969, pude fugir da prisão. Procurei abrigo na embaixada do México no Rio de Janeiro. Lá recebi o assim chamado asilo diplomático. Após cinco meses, recebi salvo-conduto para viajar para o México. Residi no México até outubro de 1970. Então, viajei para a Europa. Em 17 de novembro de 1970, entrei na República Federal da Alemanha. Meu primeiro domicílio foi em Colônia, onde encontro-me até agora. Antes da minha segunda prisão no Brasil, de cerca de 1967 até setembro de 1969, ocupava-me como tradutor autônomo. Traduzi, entre outros, Heinrich Heine do alemão para a língua portuguesa. Após minha chegada a Colônia, encontrei novamente uma ocupação jornalística na Deutsche Welle, que exerço desde 13 de abril de 1971. Está previsto que, na Deutsche Welle, instituição de direito público, eu venha a ter um contrato como tradutor e redator para o rádio e a televisão. Fonte: Centro de Estudos Victor Myer.

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